A extrema direita da Europa está a utilizar a migração para mobilizar a sua base para uma eleição em que 27 países vão às urnas.

As eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrem de 6 a 9 de junho, entre quinta-feira e domingo, prometem ser uma das mais polarizadas dos últimos tempos. Com 705 eurodeputados a serem eleitos para mandatos de cinco anos, a composição do parlamento será formada não por nacionalidade, mas por afinidade política. Essa eleição ocorre em um momento de grandes tensões políticas e sociais, refletindo uma Europa profundamente dividida e preocupada com o avanço de forças extremistas de direita.

Analistas, como Ana Prestes, secretária de Relações Internacionais do PCdoB, destacam que a extrema direita pode se tornar a quarta força no parlamento, refletindo uma preocupante guinada à direita que relembra os sombrios anos 1920 e 1930 na Europa, que culminaram na 2a. Guerra Mundial.

Pesquisas indicam que partidos anti-UE de extrema-direita têm grandes chances de aumentar seu número de assentos, o que poderia marcar um avanço significativo para essas ideologias.

Ana Prestes destacou a fragmentação da esquerda no Parlamento Europeu, com muitos grupos e disputas internas. “A esquerda é muito dividida, tem uns que têm os vetos, aí esses não podem sentar juntos… Tem uma disputa muito grande dentro da esquerda e, nisso, a extrema-direita e as direitas estão avançando,” disse Prestes. Esta divisão interna contrasta com a unidade encontrada na extrema-direita, que tem capitalizado o descontentamento popular com temas como imigração e segurança.

A imigração é um tema central. A Europa enfrenta um fluxo migracional intenso de países do subcontinente indiano e da Ásia Central, o que tem alimentado a retórica anti-imigração dos partidos de extrema-direita. A guerra na Ucrânia também joga um papel significativo, com a Rússia, liderada por Vladimir Putin, provocando insegurança e medo na Europa.

Entre os principais grupos de eurodeputados reunidos por afinidade ideológica, destacam-se:

  • Partido Popular Europeu (PPE): de centro-direita.
  • Conservadores e Reformistas Europeus (ECR): de direita.
  • Identidade e Democracia (ID): extrema-direita.
  • Renovar a Europa (RE): centro e centro-direita.
  • Esquerda Nórdica Verde (GUE/NGL): esquerda radical.
  • Verdes/Aliança Livre Europeia (Greens/EFA): centro-esquerda e esquerda.
  • Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D): centro-esquerda.

Avanço da extrema-direita

Os eleitores europeus enfrentam um cenário complexo, com várias questões cruciais em jogo. Entre elas, a guerra na Ucrânia e a tensão comercial com a China são de destaque. Essas preocupações se refletem nas declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que recentemente afirmou: “Nossa Europa não pode morrer.” Macron expressou seu temor com a possível ascensão da extrema-direita, ressaltando o risco de uma guerra entre a Europa e a Rússia, além de uma crescente fascinação pelo autoritarismo em democracias europeias.

O crescimento da extrema-direita é uma realidade alarmante. Em Portugal, o partido Chega, liderado por André Ventura, tem ganhado força. Ventura, um ex-professor de direito e comentarista de futebol desbocado, virou um ícone da extrema-direita portuguesa, levando seu partido a uma posição significativa no parlamento.

Na França, a família Le Pen continua a influenciar a política, com Marine Le Pen e Éric Zemmour representando uma força considerável. Na Itália, a extrema-direita é hegemônica e sufocou a esquerda, e na Espanha, partidos como Vox evocam uma herança franquista. Esse fenômeno é evidente em toda a Europa, com partidos de extrema-direita explorando questões como imigração e segurança nacional para ganhar apoio.

Impacto global e reflexos no Brasil

As eleições europeias têm um impacto global significativo. A ascensão da extrema-direita na Europa pode complicar ainda mais o cenário internacional, especialmente para o Brasil. Em um cenário hipotético onde Donald Trump retornasse à presidência dos Estados Unidos, o Brasil, com seu governo de centro-esquerda liderado por Lula, poderia enfrentar grandes desafios diplomáticos e econômicos.

Ana Prestes, analista internacional, destaca a complexidade das eleições: “Muita gente para colocar voto na urna e depois do pós-eleitoral é toda uma novela também, a composição dos grupos e tendo aí no meio disso tudo a questão da Ucrânia, a questão da Palestina, as eleições dos Estados Unidos, a China, que também é um fator chave nessa questão.”

A Europa vive um drama político e social sem precedentes recentes. O avanço da extrema-direita, as tensões migratórias, e a ameaça militar russa compõem um cenário explosivo que poderá definir o futuro do continente nos próximos anos. O resultado dessas eleições não só moldará o Parlamento Europeu, mas também influenciará a dinâmica geopolítica global, afetando diretamente países como o Brasil.

(por Cezar Xavier)A partir de quinta (6), Europa elege deputados sob ameaça do avanço fascista