A faixa por uma "Nova Frente Popular" marcou forte presença nas manifestações | Foto: AFP/Sameer Al Doumy

Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas da França contra a extrema-direita e o governo de Emmanuel Macron, no sábado (15/06), convocadas pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) – principais centrais sindicais do país -, pela recém-criada coalizão de partidos Nova Frente Popular, e por ativistas antirracistas e associações da sociedade civil.

A CGT informou que as manifestações tiveram a presença de 640 mil pessoas em todo o país – incluindo 250 mil em Paris e milhares em Toulouse, Marselha, Nantes, Bordeaux, Dijon, Lille e dezenas de outras cidades.

Na capital francesa, a marcha começou na Praça da República, uma das principais da cidade, com os manifestantes segurando cartazes com os dizeres “Minha França é antifascista”, “Palestina Livre, vida longa à Palestina”, “Vamos quebrar as fronteiras, documentos para todos, não à lei de imigração” e “Liberdade para todos, Equidade para todos e Fraternidade com todos” – uma referência ao lema nacional da França.

As manifestações ocorrem em plena crise política devido à derrota de Macron nas eleições europeias, rejeitado por conta da sua submissão à política dos EUA; da entrega de mísseis franceses de longo alcance ao regime neonazi da Ucrânia para ataques à Rússia, da inflação provocada pela falta de gás e combustíveis; combo que o levou à antecipação das eleições legislativas, previstas inicialmente para 2027, junto com as eleições presidenciais, e que agora ocorrerão em 30 de junho e 7 de julho deste ano.

Em princípio, Macron permanecerá na presidência até 2027, liderando a política externa e de defesa, mas o seu mandato ficaria enfraquecido se o partido Reunião Nacional (RN) assumisse o controle do governo e da política interna.

“Precisamos de um levante democrático e social, caso contrário a extrema direita tomará o poder”, afirmaram os sindicatos franceses num Comunicado, na sexta-feira (14). “Nossa República e nossa democracia estão em perigo”, alertaram.

A secretária-geral da CGT, Sophie Binet, presente na manifestação em Paris, assinalou que o “Reunião Nacional de Le Pen e Bardella é o partido da mentira e da impostura” para os trabalhadores. 

“Como podemos ver na reforma das pensões, eles já tomaram partido contra o povo. Prosperaram na ausência de alternativa. Quando se fecha uma fábrica ou um serviço público, se dá um impulso ao Reunião Nacional (RN) de Le Pen. A esquerda passou mais tempo em brigar uns com os outros do que em unir-se contra a extrema-direita. E não estou esquecendo a banalização orquestrada por Emmanuel Macron contra os direitos trabalhistas”, acrescentou a líder sindical, sublinhando que “agora a união contra o atraso e as medidas contra o povo e os trabalhadores é a ordem do dia”.

Para Marylise Léon, secretária-geral da central CFDT, “este é um momento histórico” porque a França pode “inclinar-se para a extrema-direita”. A sindicalista propõe ir ao encontro dos filiados “para convencê-los de que é necessário nos mobilizar para ganhar os abstencionistas. Não devemos estigmatizar os eleitores do RN, mas devemos lembrar-nos que a base do programa do RN é difamar, desvirtuar, é a estigmatização”, apontou.

“As coisas são muito simples hoje, ou são os ‘fascistas’ ou somos nós. Se você está aqui nesta manifestação, é porque escolheu o seu lado. Mas agora, são todos os outros que precisam vir e encontrar o lado: aqueles que estão cansados ​​de votar, quem não sabe, quem tem medo”, frisou Marine Tondelier, secretária nacional dos Ecologistas, EELV.

“É importante mostrar que estamos mobilizados e que o RN não é a maioria, e também opor-nos a Emmanuel Macron e às suas políticas que enfraqueceram muito a educação”, disse Cécilia Lormeau, professora de 34 anos, membro do Sindicato dos Professores de Bordeaux

A líder parlamentar do partido França Insubmissa, Mathilde Panot, afirmou que “o que está em causa é mais do que uma eleição, é a identidade política do povo francês” e defendeu que “a França não é uma cor de pele, uma religião ou uma língua, a França é um povo político fundado na nossa divisa: liberdade, igualdade e fraternidade!”

Além dos sindicatos e partidos progressistas, teve a presença de muitas associações e ONGs como a Oxfam France, cuja secretária-geral, Cécile Duflot, defendeu que é preciso “fazer com que as pessoas saiam da negação: estamos no início de um momento que pode levar o país a um cenário catastrófico”. A dirigente associativa insistiu que “o discurso do RN é uma fraude” e que “há uma alternativa política que pode vencer”, impedindo que a extrema-direita passe a ser majoritária no próximo parlamento.

Fonte: Papiro