Submissão aos EUA/Otan leva Macron e Scholz à derrota em eleição europeia
A rejeição à política de completa submissão da Europa aos Estados Unidos – seja na guerra de expansão da Otan contra a Rússia ou no esmagamento da própria indústria pela recusa ao gás barato russo em prol do extorsivo e poluente gás de fracking norte-americano e consequente deterioração das condições de vida e da inflação – expressou-se de forma ruidosa na derrota no fim de semana nas eleições ao parlamento europeu dos dois personagens que encarnam, como ninguém, tal sabujismo, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz.
Como registrou o El País, o eixo franco-alemão (núcleo fundamental da União Europeia) “rangeu”. Em suma, as duas figuras foram escorraçadas nas urnas e esse é o fato principal.
Sem dúvida, pesaram fortemente para esse ditado das urnas as desvairadas declarações de véspera de eleição, com Macron ameaçando os franceses com a ida à guerra e a entrega de mísseis franceses de longo alcance ao regime neonazi para ataques à Rússia, enquanto o “Salsicha de Fígado” – alcunha que foi pespegado a Scholz por um embaixador ucraniano – liberou mísseis alemães para ataques contra o território russo reconhecido internacionalmente pela primeira vez desde a II Guerra.
Também dois anos de crise na Europa, que só faz se agravar, como efeito colateral das sanções contra a Rússia – que pretendiam, e fracassaram, destruir o país – e voltaram como bumerangue sob a forma de inflação, estagnação e, pior ainda, desindustrialização.
Isso para populações que, na década anterior, sob a amaldiçoada “austeridade” em prol de salvar os bancos, tiveram arrancados direitos conquistados há gerações. Como o aumento da idade mínima de aposentadoria, este, recém imposto na França por Macron.
Também a questão da “imigração” não surgiu como um relâmpago em céu azul, mas como resultado de populações que perdiam direitos e empregos se depararem com levas e mais levas de refugiados das guerras norte-americanas pelo mundo – só de sírios, um milhão – e do massacre organizado pelo FMI nas ex-colônias africanas, empurrando multidões de famintos aos botes para atravessar o Mediterrâneo.
A submissão a Biden teve, no plano interno dos países europeus, um preço brutal, em matéria de desindustrialização e inflação, cujo pivô foi a alta do preço da energia. A ponto de a palavra ‘desindustrialização’ entrar para o léxico político da Alemanha, a assim chamada “locomotiva europeia”.
O que tornou ainda mais indisfarçável essa rejeição a Macron e a Scholz foi que os eleitores apelaram para o instrumento de que puderam lançar mão, num quadro em que forças que se dizem progressistas aderiram à Otan e sua guerra por procuração. O partido do presidente francês obteve a metade da votação do Reunião Nacional de Le Pen, enquanto o partido de Scholz, a social-democracia, obteve o pior resultado desde a II Guerra, abaixo dos 16% da Alternativa para a Alemanha.
Chega a causar asco a disputa entre Macron e Scholz para quem será a nova versão do “poodle da Casa Branca”, com premiê alemão agindo como se fosse a coisa mais normal do mundo Biden explodir os gasodutos Nord Stream, asfixiando a economia alemã e seu carro-chefe, a indústria.
Macron, por sua vez, nas vésperas da eleição recepcionou o chefe do regime de Kiev, Volodymyr Zelensky, acontecimento que usou para exaltar sua própria política belicista – isso, quando sua aprovação mal chegava a 31%. Como remendo, dissolveu o parlamento e antecipou as eleições, trombando com a Olimpíada de Paris.
Registre-se que isso está ocorrendo em um momento em que o mundo está vivenciando o ocaso do mundo unipolar instaurado nos anos 1990. E com a soberania e a busca de democracia nas relações internacionais se afirmando, apoiadas no deslocamento do eixo dinâmico da economia global para o leste, sob o impacto da experiência chinesa, do renascimento russo e de instrumentos como o BRICS. E que, portanto, abre aos europeus alternativas à genuflexão e ao definhamento.
Fonte: Papiro