Deputado Maurici coordenou a sessão solene na Assembleia Legislativa de São Paulo | Foto: Rodrigo Romeo/Alesp

Na última sexta-feira (7), foi realizada uma sessão solene na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em comemoração ao centenário da Revolução Paulista de 1924 e a Coluna Miguel Costa-Prestes. 

A sessão também celebra o início de uma exposição com 152 reproduções fotográficas desse período, além de documentos, como telegramas de governadores da época, armas e livros. A curadoria é do Museu de Energia de São Paulo e parte dos documentos e livros é do Acervo Histórico da Alesp. A mostra ficará em cartaz na Alesp até o dia 21 de junho.

A exposição e a sessão solene foram organizadas pelo deputado estadual Maurici (PT) e contaram duas partes com uma série de homenagens aos familiares e outra série técnica, com acadêmicos falando sobre o que foi a Revolução de 1924.

O evento contou com a presença de Luís Carlos Ribeiro Prestes e Yuri Costa descendentes de Luís Carlos Prestes e Miguel Costa, que foram homenageados. Moacir Assunção, Adelino Martins e Débora Duboc foram outros homenageados. Ainda, o evento contou com a presença do ex-senador italiano José Luiz del Roio.

A sessão contou a exibição de um trecho do filme “São Paulo Cidade Aberta”, dirigido por Caio Plesman, que possui argumento de Sérgio Rubens de Araújo Torres, fundador da Hora do Povo, que também foi homenageado no evento por meio do seu filho, Bernardo Torres. Sérgio Rubens realizou um profundo estudo do período, intitulado como “Década das Revoluções”. Ele faleceu em dezembro de 2021.

O filme apresenta os acontecimentos da segunda revolta tenentista – a primeira, a revolta do Forte de Copacabana, em 1922 – contra a oligarquia cafeeira que dominou a República Velha e não hesitou em destruir a cidade de São Paulo com um selvagem bombardeio de artilharia pesada.

Ao se retirarem da cidade, os revolucionários se uniram a grupamentos gaúchos e deram início à Primeira Divisão Revolucionária sob o comando de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes. O processo culminou com a derrota das oligarquias com a Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas à Presidência.

Para o anfitrião, Maurici, a sessão é importante para a história do país. O deputado elencou uma série de ações do seu mandato com as questões relacionadas à Revolução de 1924.

“Essa sessão solene traz um pouco de luz sobre uma passagem muito individual da história paulista, da história brasileira, da história do povo brasileiro, que é a Revolta de 1924, que reduziu uma parte importante da cidade de São Paulo a cinzas, que matou centenas de pessoas, que deixou uma marca na nossa história, no entanto esquecida, no entanto não lembrada da história oficial”, disse.

“Nesta sexta, protocolamos a indicação 4662/24, que indica ao Sr. governador do Estado que determine as providências necessárias para a inclusão do General Miguel Costa entre os vultos históricos da Polícia Militar do Estado de São Paulo, acionando as autoridades competentes para tanto. Protocolamos também o Projeto de Lei 418/2024, que provou a instituição do Dia da Memória da Revolta Paulista de 1924 a ser celebrado anualmente no dia 5 de julho em todo o estado de São Paulo. Também protocolamos o projeto de resolução, propondo a criação, na Alesp, do prêmio Miguel Costa, destinado a policiais militares que tenham sido destacados na defesa da vida e da democracia no Estado de São Paulo”, afirmou Maurici.

O filho de Luis Carlos Prestes, emocionado, leu o trecho do manifesto de seu pai, da coluna Miguel Costa-Prestes e afirmou que é preciso lutar e relembrar o que a Coluna representou ao país.

“A marcha não foi um feito exclusivo de meu pai, contou com a inteligência e o heroísmo de todos os comandantes e soldados como Miguel Costa, Juarez Távora, Antônio Siqueira Campos, Cordeiro de Farias, Djalma Dutra Soares e João Alberto Lins de Barros. Quando celebramos esse feito histórico, não podemos deixar de lembrar que ainda hoje vemos a soberania nacional ameaçada. Constatamos o quanto devemos aprimorar as eleições livres em nosso país. Defender os direitos da mulher, em 1924, lutávamos pela industrialização do país, agora lutamos pela reindustrialização. Passados 100 anos, não conseguimos realizar a fundamental reforma agrária, como falar em democracia, quando 1% da população brasileira é proprietária de 50% das terras em nosso país. A memória da Coluna Prestes é eterna e meu pai, que estava com 26 anos, Cordeiro de Farias estava com 22 anos, demonstra que a juventude brasileira sempre esteve presente nas lutas pela democracia no Brasil. De norte a sul, de leste a oeste, o povo todo grita, Luiz Carlos Prestes”, afirmou.

Yuri Costa também falou em nota, agradecendo a homenagem e disponibilizando um link reunindo a obra e discussões sobre seu avô e todo o seu legado e a atualidade. “A revolução foi uma necessidade imperativa daquele momento para aqueles fatos. E se justifica por si mesmo. Não mais nos dias de hoje. Os revolucionários da atualidade devem se dedicar a outro tipo de revolução, a educacional e a econômica. Foi no estado de Goiás, há quase um século, que eles se fizeram a seguinte pergunta. Como um país tão rico, igual ao Brasil, pode ter um povo tão pobre igual o brasileiro? Essa pergunta requer um estudo muito aprofundado para que se obtenha uma resposta digna de ser pronunciada”, afirmou.

A professora do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) Maria Clara Spada de Castro afirmou em sua fala que a revolta é muito significativa na sociedade e na história do país. “Gostaria de incluir e apontando que a revolta de 1924, ela une muitas pessoas, muitas demandas, gosto muito da ideia de que é uma revolta que junta várias revoltas, várias demandas e que é muito significativa das disputas das camadas populares nessa república recém-instaurada, que busca direitos e ampliação da cidadania, assim como vários outros movimentos da primeira república, como Canudos, Cangaço, Revolta dos Marinheiros de 1910, assim como a própria Revolta da Vacina. São disputas populares por essa República que estava se iniciando”, afirmou.  

De acordo com Lincoln Secco, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), a Revolução de 1924 foi uma insurreição militar que visava derrubar o então presidente, pedindo pelo voto secreto e o combate à fraude. Essa articulação não ocorreu somente em São Paulo, mas foi lá que os revoltosos conseguiram tomar o controle de uma grande cidade por mais tempo. Para o professor, a revolta se perde no esquecimento paulista por conta da Contra Revolução de 1932, indagada pelas grandes elites.

O movimento paulista acabou sendo derrotado pelas forças do então presidente e os integrantes que sobreviveram aos combates se organizaram em torno do militar Miguel Costa, da Força Pública de São Paulo, e de Luís Carlos Prestes, que liderava um grupo de soldados no sul do Brasil. Juntos, eles formaram a Coluna Miguel Costa-Prestes, que percorreu o país nos anos seguintes atacando a República Velha (1889 – 1930).

Fonte: Página 8