Bombas de Netanyahu matam 210 civis no campo de refugiados de Nuseirat
Já são 210 os mortos nos bombardeios de Israel contra o campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, por terra, ar e mar, denunciou no sábado (8) o Ministério da Saúde palestino, relatando que “um grande número” de mortos e feridos está chegando ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, a maioria crianças e mulheres.
Na quinta-feira (6), ataque israelense a uma escola da ONU havia matado 40 civis enquanto dormiam e, no mesmo dia, outro ataque assassinou o prefeito de Nuseirat, Iyad Maghari.
“Dezenas de feridos estão caídos no chão, e as equipes médicas estão tentando salvá-los com as capacidades médicas básicas que têm disponíveis”, disse o Hospital, acrescentando que está com falta de remédios e alimentos, e que seu principal gerador parou de funcionar devido à falta de combustível.
Um porta-voz do Ministério da Saúde disse mais cedo que ainda havia “muitos” corpos e feridos que permaneciam nas ruas. Relatando de dentro do hospital “sobrecarregado” por telefonema, Hind Khoudary, da Al Jazeera, disse que a situação é tensa, com pessoas aterrorizadas na rua sem saber para onde recorrer.
“Há explosões acontecendo a cada minuto. Ambulâncias estão transferindo os feridos para o hospital onde estamos presos. É um caos dentro do hospital. Há crianças entre os feridos”, disse.
Tanya Haj-Hassan, médica intensivista pediátrica dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), descreveu o Hospital Al-Aqsa como um “banho de sangue completo”, acrescentando que parecia “um matadouro”.
“As imagens e vídeos que recebi mostram pacientes deitados em todos os lugares em poças de sangue… seus membros foram arrancados”, disse ela à Al Jazeera.
“É assim que um massacre se parece”, acrescentou. “Significa pais correndo por aí cuidando de seus filhos que têm sangue escorrendo da cabeça tentando encontrar um médico para tratá-los. Mas é tão caótico e há tantos pacientes que está superando em muito a capacidade de saúde de cuidar deles.”
“A ocupação aniquilou o campo de refugiados de Nuseirat. Civis inocentes e desarmados foram bombardeados em suas casas. Nunca vi nada assim. É uma catástrofe”, disse o local Nidal Abdo ao Middle East Eye.
“Vim do campo para cá ao hospital a pé. Não consigo descrever como fugimos. Vi crianças mortas e partes de corpos espalhados por todos os lados enquanto fugimos. Ninguém foi capaz de ajudá-los. Vi um idoso morto em uma carroça puxada por animais”, relatou outro sobrevivente.
“Nuseirat estava sendo aniquilada. Foi um inferno.” Também no centro de Gaza, pelo menos seis palestinos de uma família foram mortos pelas forças israelenses depois de bombardearem sua casa no campo de refugiados de Bureij pela manhã, segundo o Middle East Eye.
Dezenas de ataques aéreos visaram as áreas do sul da Cidade de Gaza, com testemunhas relatando que blocos residenciais inteiros foram dizimados, enquanto navios de guerra bombardeavam a área perto de seu porto de pesca.
“A participação americana na operação criminosa que foi realizada hoje prova mais uma vez o papel cúmplice da administração americana, sua plena participação nos crimes de guerra cometidos na Faixa de Gaza [e] a falsidade de suas posições declaradas sobre a situação humanitária e sua preocupação com a vida dos civis”, denunciou em comunicado o Hamas.
A acusação parece confirmada por declaração de autoridade de Washington ao portal norte-americano Axios explicitando o apoio de uma “célula” dos EUA em Israel no “esforço de resgate”.
No ataque propriamente dito de quinta-feira ao campo de refugiados, investigação realizada pela Al Jazeera mostrou que os mísseis disparados contra a escola de Nuseirat estavam equipados com sistemas de orientação de “precisão” fornecidos pelos EUA, da Honeywell, conforme prova um pedaço de destroço do míssil achado no local, em que é visível um número de série de fabricação.
Em um breve comunicado, o exército israelense disse que estava “visando a infraestrutura terrorista na área de Nuseirat”. Mais tarde, anunciou que suas forças resgataram quatro cativos israelenses durante a operação em Nuseirat. Os quatro estavam em “boas condições médicas”, disse o comunicado.
Os quatro cativos israelenses resgatados foram identificados como Noa Argamani, Almog Meir Jan, Andrey Kozlov e Shlomi Ziv. Os quatro foram levados ao hospital Tel Hashomer para uma avaliação mais aprofundada.
Imagens no sábado mostraram Argamani abraçando seu pai após ser liberada. A operação que trouxe para casa Noa Argamani, Shlomi Ziv, Andrey Kozlov e Almog Meir Jan “é um triunfo milagroso”, disse o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas em um comunicado.
O Hamas reiterou que o anúncio da “libertação de vários de seus prisioneiros” em Gaza, referindo-se aos israelenses resgatados, não mudaria o “fracasso estratégico de Israel na Faixa de Gaza”, após oito meses de “massacres, genocídio, cerco e fome”.
INDISFARÇÁVEL ESTADO PÁRIA
Em novo sintoma da rápida percepção, no mundo inteiro, da condição de Estado Pária em que Israel tem mergulhado sob a insânia de Netanyahu/Smotrich/Gvir, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, anunciou na sexta-feira que Israel foi incluída na lista negra de países que matam e ferem crianças nos conflitos, o relatório anual Crianças e Conflitos Armados do Gabinete-Geral do Secretário-Geral.
“Foi preciso um genocídio que matou 15.000 crianças e mutilou e deixou marcas em outras milhares, mas a ONU finalmente e com razão adicionou Israel à sua lista de vergonha”, disse o analista político palestino Nour Odeh nas redes sociais. “Embargo de armas AGORA!”
Mais crianças foram mortas em Gaza nos primeiros quatro meses da guerra do que em quatro anos de conflito em todo o mundo, no que Philippe Lazzarini, que dirige a agência da ONU para refugiados palestinos, chamou de “guerra contra as crianças… sua infância e seu futuro”.
Há também dezenas de milhares de crianças entre os mais de 83 mil palestinos feridos por bombas e balas israelenses em Gaza. Centenas de milhares de crianças foram deslocadas à força pelos bombardeios e invasões de Israel e estão à beira da fome. Dezenas de crianças já morreram de desnutrição, sob o bloqueio de Israel à ajuda humanitária.
Mais de 17.000 crianças de Gaza estão órfãs, com muitas tendo perdido suas famílias inteiras em ataques israelenses. Profissionais de saúde internacionais cunharam uma nova sigla para essas crianças: WCNSF, ou, criança ferida, nenhum familiar sobrevivente.
Em outro indício dessa condição de Estado Pária, esta semana a Espanha se somou à África do Sul na acusação a Israel de genocídio em Gaza, no processo aberto pela Corte Internacional de Justiça da ONU, em Haia.
Outros 12 países já haviam se juntado à África do Sul em seu esforço para deter o genocídio que choca o mundo: Brasil, Bélgica, Colômbia, México, Irlanda,Turquia, Egito, Maldivas, Líbia, Chile e Palestina.
O chefe da diplomacia espanhola, José Manuel Albares, sublinhou que o “único objetivo” ao aderir à iniciativa da África do Sul “é acabar com a guerra e começar a avançar na aplicação da Solução de Dois Estados, que é a única garantia para alcançar a paz e a segurança para palestinos e israelenses e para toda a região”. Queremos – ele acrescentou – apoiar a Corte na implementação da cessação das operações militares em Rafah, a fim de restaurar a paz, cessar os obstáculos à entrada de ajuda humanitária e a destruição de infraestruturas civis.
Fonte: Papiro