Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores | Foto: Divulgação

A China confirmou que não participará da assim chamada ‘Conferência na Suíça sobre a Ucrânia’ no próximo mês, disse nesta sexta-feira (31) a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.

Mao explicou que a China tem mantido uma comunicação estreita com a Suíça e partes relevantes desde o início do ano sobre a conferência, mas que esta não atende às expectativas gerais da comunidade internacional, nem à questão chave de ser aceita tanto pela Ucrânia quanto pela Rússia.

Segundo analistas, a conferência vem sendo montada pelos patronos ocidentais do regime Zelensky sem a participação da Rússia e com o intuito evidente de apresentar um ultimato a Moscou.

A porta-voz chinesa enfatizou que a China insiste consistentemente que a conferência internacional sobre a Ucrânia deve ter o reconhecimento da Rússia e da Ucrânia, participação igualitária de todas as partes e discussões justas sobre todas as propostas de paz, pois esses três elementos são cruciais para a eficácia da restauração da paz.

Ela acrescentou que essas exigências da China para a cúpula são “justas e imparciais”, não visando nenhuma parte específica, “como refletido na recente declaração conjunta com o Brasil sobre a resolução política da crise na Ucrânia”. Também destaca a preocupação global, especialmente entre os países em desenvolvimento, continuou Mao.

Com base no feedback de várias partes e nos arranjos de reunião divulgados, parece que os três elementos-chave destacados pela concepção da China pela paz não estão ao alcance.

A China – acrescentou a porta-voz – “continuará a promover o diálogo e a paz à sua maneira, manterá a comunicação com todas as partes e trabalhará em conjunto para criar condições para uma resolução política da crise na Ucrânia”.

Na recente declaração conjunta, China e Brasil declararam claramente que apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento adequado que seja reconhecido tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz, informou a agência de notícias Xinhua.

Além disso, China e Brasil firmaram um consenso de seis pontos sobre seu entendimento comum para a solução política da crise na Ucrânia, pedindo a todas as partes relevantes que observem três princípios para desescalar a situação – nenhuma expansão do campo de batalha, nenhuma escalada de combates e nenhuma provocação de qualquer parte – e afirmando que “o diálogo e a negociação são a única saída viável para a crise”.

Foi a escalada dos EUA, desde W. Bush em 2008, anunciando que a Ucrânia seria anexada pela Otan – em rompimento ao estatuto de neutralidade estabelecido após a dissolução da União Soviética -, a que se seguiu o golpe da CIA em 2014 em Kiev, que derrubou o presidente legítimo e instalou um regime neonazi , que passou a perseguir a população das regiões historicamente russas, como o Donbass e levou a um levante antifascista, que gerou o atual conflito na Ucrânia.

A tentativa de uma solução pacífica, através dos acordos de Minsk, foi sabotada por instigação de Washington por oito anos, até a Rússia se ver obrigada a intervir em socorro de sua gente, ameaçada de limpeza étnica iminente.

Também foram os EUA que se recusaram a discutir com a Rússia no final de 2021 a restauração na Europa do princípio da segurança coletiva indivisível, rompido pela expansão da Otan a leste, proposto por Moscou, o que poderia ter aberto também outra via pacífica de solução.

Em abril de 2022, quando em Istambul as duas partes estiveram perto de fechar um acordo pela manutenção da neutralidade da Ucrânia, o governo Biden enviou a Kiev o então premiê britânico, Boris Johnson, para proibir a paz.

Antes disso, no final do governo Trump, os EUA se retiraram do Tratado de Proibição dos Mísseis Intermediários, que afastou o perigo da guerra nuclear na Europa por três décadas, tornando ainda mais explosiva a questão da anexação da Ucrânia pela Otan, que significaria Moscou a cinco minutos de um ataque nuclear por mísseis americanos plantados na Ucrânia.

Fonte: Papiro