Primeira mulher a assumir a Secretaria Geral da União Internacional Sindical – Metal e Mineração (UIS MM), a líder metalúrgica Eremi Melo avalia que a redução da jornada é uma luta capaz de mobilizar trabalhadores mundo afora. O 4º Congresso da UIS, encerrado na quinta-feira (30), em Buenos Aires (Argentina), aprovou essa pauta como prioridade para o sindicalismo metalúrgico internacional.

“Além de o Brasil ter hoje um governo que entende o papel da classe trabalhadora, a redução da jornada de trabalho é uma pauta que pode aproximar o movimento sindical da sua base. A primeira tarefa da nova direção da UIS será organizar a campanha internacional, em conjunto com as entidades aqui no País”, diz Eremi.

O feito da sindicalista gaúcha é notório, já que, seja no Brasil, seja no mundo, as mulheres representam menos de 20% dos trabalhadores metalúrgicos. Mas quebrar barreiras virou uma rotina na trajetória de Eremi de Fátima da Silva Melo, operária desde 1989 da Mundial S.A., de Caxias do Sul (RS).

Aos 59 anos, ela é dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias (RS), da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Integra também o Comitê Central do PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Nesta entrevista ao Vermelho, Eremi contou sobre sua eleição histórica na UIS Metal e desafios da classe trabalhadora.

Vermelho: Qual a sua avaliação do Congresso da UIS Metal?
Eremi Melo: Foi um congresso positivo, com bons debates, principalmente se levarmos em consideração o momento político pelo qual passam a Argentina e a América Latina. Diante do avanço da extrema-direita, vamos ter grandes desafios no próximo período – e é determinante implantar as resoluções aprovadas no 4º Congresso.

Vermelho: O Brasil continua na Secretaria Geral da UIS Metal. De que maneira entidades como a CTB e a Fitmetal têm contribuído para essa tarefa?
Eremi Melo: Ainda na Corrente Sindical Classista (CSC), antes da fundação da CTB e da Fitmetal, já atuávamos com entidades de abrangência continental e mundial. Isso, de certa forma, tem contribuído para a questão da política internacional da classe trabalhadora. O Brasil continuar responsável por essa frente é muito importante.

Mesmo com todas as dificuldades do último período, como a pandemia e a questão financeira das entidades brasileiras (após a reforma trabalhista de 2017), não deixamos de cumprir nosso papel com a política internacional. Agora, é um momento importante e o Brasil está em outro patamar, já constituído como a oitava economia do mundo, com um governo democrático e popular, mais voltado aos trabalhadores. Essa realidade é vista internacionalmente.

Vermelho: A FSM (Federação Sindical Mundial) e a UIS Metal conclamam os trabalhadores para a luta pela redução da jornada de trabalho. É possível fortalecer esse debate no Brasil?
Eremi: Sim. Além de o Brasil ter hoje um governo que entende o papel da classe trabalhadora, a redução da jornada de trabalho é uma pauta que pode aproximar o movimento sindical da sua base. A primeira tarefa da direção da UIS será organizar essa campanha internacional, em conjunto com as entidades aqui no Brasil. Queremos uma jornada de trabalho de até 36 horas semanais. É isso que a FSM vem colocando – e é uma luta de toda a classe trabalhadora.

Vermelho: Você é a primeira mulher a ocupar a Secretaria Geral da UIS. Como você avalia o simbolismo da escolha do seu nome?
Eremi: Quando ocupo um cargo como esse, homenageio aquelas que vieram antes de mim e abriram o espaço. É um simbolismo grande, e a gente precisa fazer um resgate histórico importante. Depois que a Dilma Rousseff ocupou o cargo de presidenta do Brasil, isso deu um patamar para nós, mulheres, avançarmos cada vez mais na sociedade, do ponto de vista de ocupar cargos de decisão. No PCdoB, temos hoje a Luciana Santos como presidenta. As mulheres vão tendo visibilidade pela luta que fizemos e ainda fazemos.

Hoje, esse espaço é para todas aquelas que me ajudam a abrir caminho e para as que virão depois. É aquela frase: “Quando uma mulher se movimenta, toda a sociedade avança”. Existe a compreensão do papel político que desenvolvemos. Não cheguei aqui sozinha. Foi fruto de um debate dos nossos dirigentes, que já estão à frente dessas estruturas e que consideraram importante que CTB e Fitmetal indicassem meu nome para assumir esse cargo na UIS Metal.

Por essa confiança, pela indicação, quero agradecer ao presidente da Fitmetal, Assis Melo, e ao secretário-geral-adjunto da FSM, Divanilton Pereira.

Vermelho: Quais as principais reivindicações das mulheres metalúrgicas e das trabalhadoras em geral?
Eremi: Hoje, entre nossas pautas, já citamos a redução de jornada sem redução salarial. No Brasil, está a igualdade salarial, para que seja cumprida a lei aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula. Defendemos a creche no local de trabalho, como forma a possibilitar a continuidade da mãe no emprego. Existe a luta contra os assédios moral e sexual – que têm aumentado –, assim como a defesa de mais saúde e segurança no local de trabalho.