Cortes de recursos e demissões de ferroviários multiplicam acidentes na Argentina
Os sucessivos cortes nos investimentos, as demissões e o agravamento das condições da situação ferroviária argentina, com a falta de peças de reposição durante o desgoverno de Javier Milei, tem exposto os riscos a que estão expostos centenas de milhares de passageiros diariamente.
A magnitude dos problemas, evidenciado até mesmo na circulação de “trens atados com arame”, denunciam os ferroviários, fez com que a categoria lançasse um alerta para o avanço da privatização sobre este setor estratégico. Sua relevância, alertam, tem implicações não só para a segurança, como para a própria economia.
Ao acidente da linha de San Martín, ocorrido recentemente, devemos acrescentar as sucessivas complicações em Sarmiento e as múltiplas dificuldades nas formações do comboio Roca, num contexto de desinvestimento por parte do governo de Javier Milei, que esta semana numa entrevista televisiva insistiu que pisará mais fundo na privatização. Uma semana depois do grave acidente ferroviário em Palermo, uma idosa foi atropelada logo depois do trem ter partido em direção à estação Villa del Parque. O impacto lançou a senhora para a lateral dos trilhos que, embora tenha ficado com lesões múltiplas, conseguiu sobreviver.
Trabalhador da linha Roca, Hugo Testa disse ao jornal Página12 que recentemente enfrentou um sério problema ao haver se desprendido um “pantógrafo” – o dispositivo que alimenta a ferrovia com corrente elétrica. Conforme Testa, é fundamental que haja manutenção e reposição, caso contrário os riscos de acidentes são iminentes. “Os trens chineses de 10 anos têm o problema de não terem peças de reposição. Por falta de peças de reposição, a maior parte das formações circula com apenas dois pantógrafos. Vamos desarmando as formações para poder armar outras para que circulem”, explicou o ferroviário, alertando para a gravidade da situação.
“Quatro motores queimaram nos últimos dois anos e não há possibilidade de serem reparados”, disse Testa, frisando que “isto tem a ver com o fato do orçamento ter sido ainda mais ajustado”. “Os trens funcionam atados com arame. O que aconteceu com o San Martín pode acontecer aqui a qualquer momento”, protestou.
“Obviamente, desde a mudança de governo, todos os problemas que temos na ferrovia pioraram. Fizeram um ajuste e querem mostrar que há muita gente, mas não, há falta de vagões, o governo cortou o número de trens em 30%”, concluiu.
Fonte: Papiro