Níveis catastróficos da fome em Gaza | Foto: Mahmud Hams/AFP

Uma investigação conduzida pelo site de notícias britânico ‘The Independent’ denunciou a cumplicidade do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com o genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino em Gaza

Segundo o artigo, até os servidores que trabalham no governo de Joe Biden acreditam que o que Israel está fazendo é um genocídio e que a fome imposta por Israel sobre Gaza poderia ter sido evitada se Biden tivesse usado o fato dos EUA doar bilhões em dinheiro anualmente a Israel como forma de pressionar o governo israelense a deixar entrar ajuda humanitária em Gaza.

Os servidores também acusam o governo Biden de ajudar a impor fome em Gaza ao bloquear qualquer esforço diplomático internacional que buscava aliviar o sofrimento palestino e possivelmente até um cessar-fogo. E que se não fosse a recusa de Biden em condicionar ajuda militar dos EUA a Israel com o envio de ajuda humanitária aos palestinos, a crise de fome que está assolando Gaza agora poderia ter sido evitada.

“Isto não é apenas ignorar a fome provocada pelo homem de toda uma população, é cumplicidade direta” disse o ex-funcionário do Departamento de Estado americano, Josh Paul, ao ‘The Independent’. Josh Paul se demitiu em protesto ao apoio do governo americano ao genocídio de palestinos.

De acordo com o ‘Programa Alimentar Mundial’ (World Food Programme), 2,3 milhões de pessoas por toda Gaza, correm risco catastrófico de fome.

Um memorando vazado da ‘Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional’ (United States Agency for International Development – USAID) mostrou que vários funcionários do órgão estão descontentes com a abordagem do governo Biden com a crise humanitária em Gaza, eles veem como uma “falha do governo na defesa de princípios humanitários internacionais”.  O memorando pede que o governo Biden faça pressão para que “Israel acabe com o cerco que está causando a fome” e que a inação do governo seria uma escolha política.

“Os EUA forneceram apoio militar e diplomático que permitiu que a fome emerja em Gaza”, disse Jeremy Konyndyk ao ‘The Independent’, que trabalhou na USAID durante os governos de Obama e Biden.

Famílias em Gaza, desesperadas, estão recorrendo a comer a ração animal e capim na falta de comida. Mulheres que tiveram filhos não conseguem mais produzir leite para amamentar bebês por causa da fome assolando Gaza.

“Nós temos aqui crianças de 10 e 12 anos que têm peso de crianças de quatro ou cinco anos”, disse um médico do Reino Unido trabalhando em Gaza. “Há crônica desnutrição e desnutrição na maioria das crianças – se não em todas elas – e é absolutamente doloroso ver o que está acontecendo com elas”.

Após os ataques de 7 de outubro, o governo israelense decretou um bloqueio total a Gaza, “sem eletricidade, comida, água ou combustível, tudo está fechado”, assumiu Yoav Gallant, ministro da defesa israelense. “Nós estamos enfrentando animais humanos e devemos agir de acordo”, completou.

Desde então, Israel bombardeou qualquer infraestrutura vital para a sobrevivência do povo palestino, moinhos de trigo, hospitais, escolas, universidades foram destruídos, 35 mil palestinos, na maioria mulheres e crianças foram mortos. Caminhões com ajuda humanitária, comida, remédios foram barrados com a ajuda de civis israelenses que montaram guarda nas entradas de Gaza.  Mais de 254 trabalhadores humanitários foram mortos, 188 deles trabalhavam para a ONU, o número mais alto de mortes de trabalhadores da organização na história da ONU.

Em dezembro do ano passado, as organizações ‘Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar’ (Integrated Food Security Phase Classification) e ‘Rede de Sistemas de Alerta Prévio contra Fome’ (Famine Early Warning Systems Network), que têm como função alertar governos sobre fome ocorrendo no mundo, declararam que a fome em Gaza estava iminente, ameaçando mais de 1 milhão de pessoas.

Era esperada alguma posição da Casa Branca frente ao colapso em Gaza, alguma pressão a Israel para prevenir a inanição do povo palestino. Ao invés disso, o governo Biden se esquivou e negou qualquer posição que ajudasse o povo palestino e impedisse o massacre.

Só uma pequena ajuda foi enviada a Gaza, muito pouco dado o tamanho da crise e da população em risco. E em comparação ao envio de armas americanas a Israel pela Casa Branca, que só nesse ano se soma a bilhões de dólares.

A Casa Branca só tomou alguma iniciativa depois que os israelenses bombardearam covardemente 3 vezes um comboio de ajuda humanitária da ‘Cozinha Central Mundial’ (World Central Kitchen – WCK) em abril. A ONG já havia avisado previamente o exército israelense onde eles estariam operando e com veículos marcados com o logo da organização.

O criador da ONG, José Andrés, amigo pessoal de Biden e um chef famoso na capital Washington, disse que o que aconteceu é “o resultado direto de uma política que reprimiu a ajuda humanitária a níveis desesperadores” e acusou Israel de impedir o envio de ajuda para a população civil.

Biden pressionou o governo israelense a criar três corredores humanitários, algo que não foi feito desde o início da invasão. A USAID, em uma mensagem vazada sobre a fome em Gaza, relatou que “o limite para apoiar uma determinação da fome provavelmente já foi ultrapassado”, e que o nível de fome e desnutrição em Gaza era “sem precedentes na história moderna”.

A ‘Human Rights Watch’ expediu um relatório acusando Israel de “punição coletiva, obstrução deliberada de ajuda humanitária e de usar da fome como arma de guerra”.

Fonte: Papiro