“Assange é um preso político sob um processo corrompido”, diz o editor-chefe do WikiLeaks
“Está muito claro que os processos nos tribunais do Reino Unido contra Julian Assange são corruptos. O caso é manipulado contra Julian”, afirmou o atual editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, numa conferência de imprensa em Londres, na quarta-feira (15), tratando sobre os procedimentos legais britânicos relacionados à extradição do jornalista para os Estados Unidos.
“Sei que são palavras duras, e palavras que costumamos ter para tribunais de países não europeus, países não ocidentais, mas cheguei à opinião de que é absolutamente o caso. Isso é corrupção institucional no plano judicial. Julian Assange é um preso político. Está muito claro”, ressaltou.
A justiça britânica deve decidir na segunda-feira (20) se concede a Julian um último recurso no Reino Unido para evitar a sua extradição para os Estados Unidos, caso esse país não ofereça novas garantias sobre o tratamento de saúde física e mental que reservaria ao fundador do Wikileaks.
Preso desde 2019 em Londres, Assange, que teve a extradição para os EUA autorizada pelo governo britânico em junho de 2023, enfrenta 18 acusações sob a Lei de Espionagem dos EUA por publicar informações confidenciais.
O jornalista vem sendo punido pelos sucessivos governos estadunidenses por ter divulgado, a partir de 2010, centenas de milhares de arquivos do Pentágono comprovando os crimes de guerra dos EUA no Afeganistão, no Iraque – inclusive o assassinato de dois jornalistas da Reuters em Bagdá -, e no campo de concentração e tortura de Guantánamo, além de inúmeras denúncias de corrupção.
“Espero que vocês possam investigar os detalhes do caso em que as provas estão basicamente gritando com vocês”, alertou Kristinn Hrafnsson aos jornalistas.
Ele citou como exemplo o parágrafo 210 da decisão mais recente da Suprema Corte inglesa, comentando os argumentos dos advogados de Assange de que “não se pode extraditar um indivíduo para um país cujo serviço secreto elaborou planos para sequestrá-lo ou assassiná-lo”
Hrafnsson explicou: “Estou me referindo ao plano da CIA para sequestrar ou assassinar Julian em 2017, na época em que Mike Pompeo era diretor da agência”. Ele descreveu a resposta da Suprema Corte como “algo de Alice no País das Maravilhas”, referindo-se o argumento de que, mesmo que fosse crível que a CIA planejou sequestrar ou matar Assange, sua extradição por meio de um processo legal significava que a necessidade de sequestrá-lo ou assassiná-lo desapareceria, portanto, não seria um argumento para um recurso. “Dá para acreditar? Isso é algo que você lê em jornais da Corte Real de Justiça. É inacreditável. O processo judicial é manipulado”, destacou.
A esposa de Julian Assange, Stella, que acompanhou Hrafnsson na coletiva, respaldou o editor-chefe do Wikileaks. “Não espero um resultado racional dos tribunais. Tenho alguma esperança de que eles farão a coisa certa e que Julian vencerá no final? É, espero que sim. Mas tenho observado o que aconteceu nos últimos cinco anos (desde a sua prisão no Reino Unido) e acredito que a análise de Kristinn é sólida”, explicou.
A justiça britânica anunciará na segunda-feira (20) se as garantias que os Estados Unidos apresentarem são satisfatórias ou não. Se considerar – situação pouco provável – que as garantias não são satisfatórias, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (CEDH) seria o último recurso que restaria ao jornalista australiano.
“É claro que estamos dispostos a apresentar uma queixa junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Mas esta é uma medida excepcional. Não é um direito garantido de recurso”, disse Jennifer Robinson, advogada de Julian Assange.
O fundador do WikiLeaks teria um período de duas semanas, segundo os seus advogados, antes que a extradição se tornasse efetiva, para apresentar esse recurso ao TEDH.
Fonte: Papiro