Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em 2023, sete dos 21 setores da indústria de transformação registraram aumento das importações e, simultaneamente, queda da produção. São eles: madeira; vestuário e acessórios; couro e calçados; metalurgia; produtos diversos; produtos de metal; e móveis, conforme estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado na terça-feira (30).

Ampliando a mesma análise para cinco anos, de 2019 a 2023, a proporção de empresas que registraram aumento das importações e queda da produção passa para dois terços dos setores industriais, ou seja, 14 setores dos 21.

“É impossível competir em um ambiente de negócios tão hostil. As taxas de juros elevadas e o sistema tributário impõem uma série de custos para a produção nacional, seja para os insumos, seja para o bem final, seja na hora de procurar investir ou inovar. E mais, a base industrial também está insatisfeita com a falta de fiscalização e a prática de dumping. Não são questões recentes, mas estão cada vez mais intensas e prejudiciais para indústria brasileira”, segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Rafael Lucchesi.

Dos elementos conjunturais apontados pelo estudo “que impactam negativamente a atividade industrial, destaca-se a política monetária vigente em 2023. Apesar de registrar o primeiro corte em agosto de 2023, a taxa básica de juros permaneceu no campo restritivo ao longo do ano todo, provocando um enfraquecimento da demanda por bens do setor industrial’”.

A fotografia feita pela CNI é de alta resolução e traz à tona o preço que a indústria brasileira, em especial de capital nacional, paga, além do custo financeiro exorbitante, pela manutenção de um câmbio que estimula a importação em detrimento da produção interna.

Com as empresas com forças limitadas para enfrentar o poderio dos grandes monopólios internacionais e a ausência do estado numa pareceria para impulsioná-las, o que se vê é redução ano a ano do peso da indústria, especialmente a de transformação, no Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira.

A indústria nacional reduz sua produção, vende seus negócios para empresas estrangeiras ou simplesmente encerra suas atividades. Em vários casos, para sobreviver, substituí partes da sua produção por importados e vai se agarrando do jeito que consegue, à mercê da política em curso de desnacionalização da economia brasileira.

As recentes iniciativas para algum novo alento para indústria estão aquém do que o Brasil precisa. Como registrou o presidente do BNDES Aloísio Mercadante em recente fala : “Posso dizer, que nos dados de abril, nós já passamos de R$ 100 bilhões, dos R$ 250 bilhões que nós nos comprometemos. R$ 250 bilhões é pouco. Repito, 250 bilhões hoje é pouco. O Brasil pode mais”.

A nota da CNI acrescenta ainda que “em 2023, enquanto houve uma redução de 4,3% na importação de bens intermediários (itens que compõem produtos como elementos elétricos, minerais, têxteis, borrachas, plásticos), em linha com a queda da produção nacional, ao mesmo tempo foi registrado um aumento da importação de 4,8% de bens de consumo (produtos destinados, diretamente, ao consumidor como carros, eletrodomésticos, roupas, calçados, alimentos e medicamentos).”

“No mesmo período, houve uma queda de 1% da produção industrial; de 2,6% do faturamento real; de 0,7% do número de horas trabalhadas na produção; e um recuo de 1,9 ponto percentual da utilização da capacidade instalada média da indústria de transformação”, segundo a pesquisa Indicadores Industriais da CNI.”

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