Embaixador palestino na ONU, Ryad Mansur | Foto: UN

Por um placar esmagador – 143 a 9 – a Assembleia Geral das Nações Unidas votou nesta sexta-feira (10), em uma sessão de emergência, que a Palestina está qualificada para a adesão com membro pleno da ONU e recomendou ao Conselho de Segurança que seja favorável a essa inclusão, e também estabeleceu “direitos e privilégios em pé de igualdade com os Estados-membros”. O Brasil votou a favor. 25 países se abstiveram.

A resolução aprovada expressou seu “apoio inabalável à Solução de Dois Estados de Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz e segurança dentro de fronteiras reconhecidas, com base nas fronteiras anteriores a 1967”.

Também incluiu uma expressão de “profundo pesar e preocupação” da Assembleia Geral pelo fato de os EUA terem vetado a admissão da Palestina em 18 de abril e instou o conselho a “reconsiderar o assunto favoravelmente”, de acordo com a Carta da ONU e as decisões da Corte Internacional de Justiça.

Votaram contra – além de Israel e dos EUA – Argentina, República Tcheca, Hungria, Micronésia, Papua-Nova Guiné, Nauru e Palau.

O embaixador permanente da Palestina na ONU, Riyad Mansour, falou de um dia em que a Palestina “toma o seu lugar de direito entre as nações livres”.

“Votar sim é a coisa certa a fazer”, enfatizou Mansour, sob aplausos, acrescentando que o voto de cada país hoje “diz, naturalmente, muito sobre a sua solidariedade para com a Palestina, mas também sobre quem é e o que defende”.

“É importante e sei que uma esmagadora maioria de vós voltará a estar ao lado do povo palestino na sua hora de necessidade e defenderá uma paz justa e duradoura em benefício de todos.”

“Posso garantir-lhe, vocês e os seus países nos próximos anos terão orgulho de ter defendido a liberdade, a justiça e a paz nesta hora mais sombria.”

“Estou diante de vós quando mais de 35.000 palestinos foram mortos, 80.000 foram mutilados, dois milhões foram deslocados e tudo foi destruído.”

“O plano de Israel não mudou: destruir e deslocar. O mundo mal começa a compreender a natureza cruel e extensiva das ações contra o povo palestino.”

“Estou diante de vós, pois o primeiro-ministro israelense está disposto a matar milhares de pessoas para garantir a sua sobrevivência política.”

“Enquanto falamos, 1,4 milhão de palestinos em Rafah se perguntam se sobreviverão hoje e para onde irão em seguida. Não há mais para onde ir.”

“Não escrevemos a Carta das Nações Unidas. Não promulgamos leis internacionais. Apenas exigimos que nos fossem aplicadas e até agora nos foi negada a sua proteção.”

“Um voto sim é um voto pela existência palestina, não é contra nenhum Estado, mas é contra as tentativas de nos privar do nosso Estado. É por isso que o Governo israelense se opõe tanto a ela, porque se opõe totalmente à nossa independência e à Solução de Dois Estados. Se não apoiam a nossa liberdade, não apoiam a paz.”

E, ao concluir: “Como todos dizem: ‘Palestina livre, Palestina livre e paz para todos. E repito, libertem a Palestina e votem ‘Sim’ a favor da resolução.”

A França – que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU – votou a favor do reconhecimento pleno da Palestina como Estado membro.

O representante permanente da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, acusou os EUA de manter o Conselho de Segurança “refém” dos acontecimentos no Oriente Médio. Ele também argumentou que o Estado palestino e a adesão à ONU “igualariam as posições iniciais de negociação das partes”.

Nas vésperas da votação, o ministro das Relações Exteriores Wang Yi afirmou que a China apoia “que a Palestina se torne membro de pleno direito das Nações Unidas e pede aos membros individuais do Conselho de Segurança que não criem mais obstáculos para isso”.

“O atual conflito palestino-israelense causou mais de 100.000 vítimas civis, e inúmeras pessoas inocentes podem permanecer enterradas sob os escombros”, disse Yi a repórteres. “Não há distinção entre vidas nobres e humildes, e a vida não deve ser rotulada por raça ou religião.”

Ele acrescentou: “O fracasso em acabar com o desastre humanitário hoje no século 21 é uma tragédia para a humanidade e uma vergonha para a civilização. Nada justifica o prolongamento do conflito ou a morte da população civil.”

“O Conselho deve responder à vontade da comunidade internacional”, disse o embaixador dos Emirados Árabes Unidos na ONU, Mohamed Abushahab, na AGNU antes da votação.

“O povo palestino tem negado seu direito à autodeterminação desde 1947. Esta assembleia pode resolver parcialmente esta injustiça histórica admitindo a Palestina como membro de pleno direito das Nações Unidas. Atende a todos os critérios de adesão”, disse Munir Akram, representante permanente do Paquistão na ONU.

O embaixador de Israel junto à ONU, Gilad Erdan, diante da acachapante derrota na Assembleia Geral, encenou picotar na tribuna a Carta da ONU diante dos demais embaixadores, como se há muito praticamente todos já não soubessem do desrespeito do regime israelense para com a Carta, criada como resposta ao nazifascismo (e pelo Direito Internacional).

Ao fazê-lo também pisoteou a própria deliberação, de 1947, pela qual a ONU determinou a criação de Israel e também da Palestina, decisão que ainda está por cumprir.

Ao que parece, Mr. Erdan já pode ser tido como um dos mais esforçados na autoincriminação em meio ao genocídio que choca o mundo e faz com que a juventude se aperceba da degeneração a Estado pária.

Aliás, para um país sob investigação na Corte Internacional de Justiça da ONU por “genocídio/incitação ao genocídio” e com o histórico de Israel, desde a Nakba, passando pela ocupação incontestável que já dura 57 anos, e condenada pela ONU, é muita desfaçatez pretender desqualificar o povo palestino colonizado e oprimido por, como ele citou, ao usar o triturador de papel, de acordo com a Carta das Nações Unidas fundadora, “a adesão está aberta a ‘Estados amantes da paz’ que aceitem as obrigações desse documento e sejam capazes e dispostos a cumpri-las”.

Precisa enumerar quantas são as resoluções da ONU, sob a Carta da ONU, que Israel se recusa a cumprir há décadas?

Como se diz, Mr. Robert Wood, o embaixador norte-americano de plantão na ONU fez o seu melhor, para alegar que só pode ter um Estado palestino quando os israelenses – isto é, os fanáticos cuja linhagem vai de Jabotinsky a Netanyahu/Smotrich/Gvir, passando por Sharon, Begin e Kahane – quiserem. Ou, como dizem cinicamente, “entre negociações diretas entre as partes”

Washington ameaça vetar de novo a admissão plena da Palestina, o que deve tornar ainda mais difícil que a comunidade árabe-americana se decida a sair de casa para sufragá-lo em novembro. E amplificar os brados de “Genocide Joe/ hey hey/ how many kids do you kill today” [Genocide Joe/ hey hey/ quantos garotos você matou hoje].

Consciente de qual seria o resultado da votação, na segunda-feira o embaixador israelenses já pedira aos EUA que, caso a medida fosse aprovada, para cortarem o financiamento às Nações Unidas e às suas instituições, de “acordo com a lei americana”, sendo que sua insanidade é que está sendo respondida com um isolamento cada vez maior e mais amplo.

Fonte: Papiro