Região inundada entre os bairros da Cidade Baixa e de Menino Deus, em Porto Alegre. Foto: Gustavo Mansur- Palácio Piratini

O volume de chuvas no Rio Grande do Sul obedece a uma tendência que já vinha sendo observada nas últimas décadas e que poderá crescer ainda mais nos próximos anos, da mesma forma como a seca aumentará em outras áreas do país, reforçando o cenário de extremos resultantes da crise climática. 

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os estados do Sul e parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul registraram aumento nos volumes de precipitação especialmente entre 2011 e 2020, passando do 1.500 mm para 1.600 por ano. O aumento, aponta o Inpe, variou entre 10% e 30%, a depender da região. 

Como base de referência, o estudo considerou os anos que vão de 1961 a 1991. Os períodos analisados vieram na sequência: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020. 

Considerando os dados colhidos, o Sul pode estar mais suscetível a desastres, como o que ocorre agora, devido à intensificação das precipitações. De acordo com Lincoln Alves, climatologista e pesquisador do Inpe, eventos como esse “tendem a ser potencializados com as mudanças climáticas, tornando-se ainda mais intensos e frequentes”.

Alves explica que “observar dados de tendência de longo prazo é crucial porque nos permite identificar padrões consistentes e mudanças graduais no clima, que muitas vezes são sutis em curtos períodos de tempo. Isso é especialmente importante em um contexto de mudança climática, onde as alterações nas precipitações podem ter impactos profundos em setores estratégicos da sociedade, por exemplo, agricultura, e recursos hídricos”.

O pesquisador salienta, ainda, que a análise de um dos índices usados no estudo indica uma tendência preocupante, com a elevação de 20mm nas chuvas. “Esse aumento não é um evento isolado, mas parte de uma tendência mais ampla observada nas últimas décadas, especialmente na região Sul do país. Aumentos na frequência e intensidade desses eventos extremos, como o que estamos vendo agora, exigem uma reavaliação das estratégias de adaptação”, afirma. 

Ainda segundo o Inpe, no período que compreende os anos de 2011 e 2040, a elevação dos volumes pluviométricos pode chegar a 60%. Os locais mais propícios a essa piora, com 40% a 60% de aumento, estão no Nordeste do RS e no Centro-Sul de Santa Catarina. Em outras áreas do território gaúcho, a variação deverá ficar entre 20% e 40%. 

Situação oposta

No extremo oposto, o Inpe mostra que outras regiões do país apresentaram tendência de queda na taxa média de precipitação. Áreas do interior do Nordeste até o Sudeste e no Brasil central registraram reduções com variações negativas entre –10% e –40%.

Segundo Alves, a redução de até 40% na precipitação acumulada em algumas áreas do Brasil é significativa e pode acarretar uma série de impactos preocupantes. “Se essa taxa se mantiver, podemos ver o agravamento do que já estamos acompanhando: secas na Amazônia e um Nordeste ainda mais árido, o que afeta diretamente as populações e os ecossistemas”, avalia.

O pesquisador destaca ainda que a diminuição das chuvas pode resultar em períodos cada vez mais prolongados de seca, o que afeta diretamente a disponibilidade de água para consumo humano, agricultura e atividades industriais. “Pode levar à escassez de alimentos e à perda de renda para os agricultores locais”, afirma.

Cabe salientar que a falta de água pode desencadear conflitos, aumento das desigualdades sociais e econômicas e gerar problemas de saúde pública, como aumento de incidência de doenças relacionadas ao acesso limitado à água potável.

O pesquisador destaca que as evidências climáticas apontam para a necessidade da integração da gestão de riscos nos planos e políticas. “Isso significa adaptar estratégias em todos os níveis de governo, local, estadual, regional e nacional. Não apenas responder às alterações em curso, mas também preparar as comunidades para desafios futuros”. 

Com informações do Inpe

(PL)