Polícia de Netanyahu sequestra equipamentos da Al Jazeera | Foto: Chaim Goldberg/Flash90

O regime Netanyahu/Smotrich/Gvir decretou no domingo (5) o fechamento da rede de notícias árabe Al Jazeera, medida óbvia de censura e que, às vésperas da invasão terrestre de Rafah, onde se amontoam 1,2 milhão de palestinos, visa calar ou dificultar ao extremo testemunhos do genocídio planejado.

Em 1º de abril, o Knesset, parlamento israelense, já havia aprovado uma “lei” permitindo tal arbítrio, mas o regime deixou para executar exatamente agora.

Os escritórios da Al Jazeera em Jerusalém ocidental e em Jerusalém oriental foram invadidos e empastelados, com todos os equipamentos de edição e transmissão, computadores e câmeras confiscados. O canal foi proibido em Israel.

A Al Jazeera descreveu o banimento como um “ato criminoso” e denunciou que “a supressão por Israel da imprensa livre, vista como um esforço para ocultar as suas ações na Faixa de Gaza, constitui uma violação do direito internacional e humanitário”. “Os ataques e assassinatos diretos de jornalistas por parte de Israel, as detenções, a intimidação e as ameaças não impedirão a Al Jazeera do seu compromisso de cobrir [a Guerra de Gaza].”

“A Rede seguirá todos os canais legais disponíveis através de instituições jurídicas internacionais na sua busca para proteger tanto os seus direitos como os dos jornalistas, bem como o direito do público à informação”, concluiu o comunicado.

A ordem de confisco inclui até mesmo o celular de um jornalista da Al Jazeera, caso seja usado para fazer coleta de qualquer tipo de notícia – isto é, dos crimes de guerra que não cessam há mais de seis meses no enclave palestino junto ao mar.

A Al Jazeera conseguiu produzir uma reportagem denunciando o empastelamento pelos esbirros de Netanyahu:

O ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, gabou-se pelo X da invasão da Al Jazeera, postando imagens de seus esbirros confiscando equipamento do canal. Conforme a lei, o fechamento é por 45 dias de cada vez, prorrogáveis.

Tim Dawson, da Federação Internacional de Jornalistas, em entrevista à Al Jazeera, considerou “atroz” o fechamento de uma “emissora internacional de considerável reputação e história”, de parte de um país que alega ser uma “democracia”.

Até mesmo a Casa Branca, notória por sua cumplicidade com Israel, buscou se dissociar do fechamento da emissora árabe, com o conselheiro de Segurança nacional John Kirby declarando que “não apoiamos isso de jeito nenhum”.

Aliás, o fechamento da Al Jazeera foi perpetrado dois dias depois do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que transcorreu na sexta-feira (3).

Também o escritório de direitos humanos da ONU condenou o fechamento do canal árabe, em declaração postada na plataforma X no domingo.

“O banimento da Al Jazeera por Israel é um aspecto de sua Guerra contra a Verdade”, afirmou o economista grego e ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis – uma personalidade que foi recentemente banida e impedida de participar em uma atividade pró-Palestina em Berlim.

Antes de censurar e banir de vez a Al Jazeera, o regime fascista havia atacado repetidamente suas equipes de filmagem em Gaza e na Cisjordânia. O chefe do Escritório da Al Jazeera de Gaza, Wael Dadmouh, teve sua casa bombardeada pelos israelenses, o que só pode ser descrito como uma tentativa de execução extrajudicial, que matou sua mulher, filho, filha e neto.

Não é a primeira vez que a Al Jazeera vira alvo do regime israelense. Em 2021, um míssil israelense destruiu o prédio que abrigava o escritório da emissora em Gaza e, em 2017, Netanyahu ameaçou fechar o escritório de Jerusalém.

As forças de ocupação coloniais israelenses, que vêm matando jornalistas nunca escala sem precedentes, a ponto da ‘Guerra de Gaza’ já ter matado em seis meses mais jornalistas do que foram mortos nos 20 anos da Guerra do Vietnã, têm ainda menos escrúpulos quando se trata de abater jornalistas da Al Jazeera.

A veterana repórter da Al Jazeera Shireen Abu Akleh foi morta a tiros pela ocupação, quando fazia uma cobertura jornalística na Cisjordânia, no campo de refugiados de Jenin, sob ataque das hordas de ocupação, em maio de 2022, portanto, bem antes do 7 de outubro. Segue sem solução o pedido da Al Jazeera, ao Tribunal Penal Internacional, para que investigue o crime de guerra e encarcere os autores e os mandantes.

A série de atentados promovidos pelos mais altos escalões do governo israelense contra o chefe do escritório de Gaza, Dadmouh, beira a psicopatia.

Além do já citado bombardeio à sua casa em outubro enquanto ele cumpria seu dever de jornalista, o próprio Dahdouh escapou de morrer em janeiro.

Foi no episódio em que ao cobrir com o cinegrafista Samer Abudaqa um ataque anterior a uma escola em Khan Younis, este foi deixado para morrer pelas tropas israelenses, após os jornalistas e o pessoal da Defesa Civil serem alvo de drones. Os ocupantes deixaram Abudaqa agonizar por cinco horas, impedindo a chegada do resgate até ele.

Fora Dahdouh que conseguira rastejar em busca de socorro – mas este foi impedido de forma bárbara. Registre-se que eles estavam devidamente identificados como imprensa e haviam recebido autorização para chegar até o local.

Ainda em janeiro, outro filho de Dadmouh, Hamza, fotojornalista, foi morto quando o carro em que estava, acompanhado do colega Mustafá Thraya, foi bombardeado pelos israelenses entre Khan Younis e Rafah.

Embora não esteja claro como a paralisação afetará as reportagens dos correspondentes da Al Jazeera que estão em Gaza ou na Cisjordânia ocupada, o acesso e ambas as regiões palestinas são controlados em grande parte por Israel.

Como o governo Netanyahu preventivamente bloqueou em grande parte a entrada em Gaza de jornalistas estrangeiros, o trabalho dos correspondentes da Al Jazeera tornou-se ainda mais relevante e uma fonte essencial capaz de apresentar ao mundo a carnificina em curso no enclave palestino e para criar a repulsa, como se vê nos protestos nas universidades, ao genocídio, limpeza étnica e apartheid perpetrados por Israel, contra os palestinos.

Fonte: Papiro