Nasser Abu Baker, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Palestina recebeu o prêmio em nome dos colegas em Gaza | Foto: Zuliana Lainez

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) celebrou na sexta-feira (3) o Dia Mundial pela Liberdade de Imprensa com uma homenagem ao trabalho dos jornalistas palestinos que cobrem o genocídio realizado pelas tropas israelenses na Faixa de Gaza. Desde o 7 de outubro, os sionistas assassinaram 135 profissionais de mídia, que continuam sendo alvo prioritário das suas execuções.

“Nunca num conflito recente a profissão teve de pagar um preço tão elevado num período de tempo tão curto”, afirmou Tawfik Jelassi, diretor da instituição, durante evento realizado em Santiago, Chile, onde anunciou a concessão do Prêmio Mundial Unesco-Guillermo Cano pela Liberdade de Imprensa ao presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, Nasser Abu Bakr.

A escolha foi feita por um júri internacional composto por profissionais de mídia em deferência ao jornalista colombiano Guillermo Cano Isaza, assassinado em 17 de dezembro de 1986 em Bogotá, em frente ao El Espectador, jornal onde trabalhava.

Para Mauricio Weibel, presidente do Júri Internacional de Profissionais de Mídia da Unesco, a escolha vem “neste momento de escuridão e angústia”, e tem o propósito de “enviar uma forte mensagem de solidariedade e reconhecimento aos jornalistas palestinos que estão cobrindo essa crise em circunstâncias tão dramáticas”. “A humanidade tem uma enorme dívida com eles por sua coragem e compromisso com a liberdade de expressão”, destacou.

Conforme explicou Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, “todos os anos, esse prêmio homenageia a coragem dos jornalistas que enfrentam circunstâncias difíceis e perigosas”. “Este ano, a honraria nos lembra mais uma vez da importância da ação coletiva para garantir que os jornalistas de todos os lugares possam continuar a realizar seu trabalho essencial de informar e investigar”, acrescentou.

Ao ser premiado, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos e vice-presidente da Federação Internacional de Jornalistas, Nasser Abu Bakr, classificou o evento como histórico e significativo para todos os que combatem pela verdade e a justiça com a força da palavra. Recordou que, além dos trabalhadores de comunicação executados, mais de 80 meios foram destruídos, com os profissionais mortos ao lado de suas famílias. “Este é o massacre de jornalistas mais horrível da história e desde que o jornalismo existe”, assinalou.

“Trabalhamos dia e noite em Gaza sob bombardeio em meio aos cadáveres dos assassinados, sem comida e água. As comunicações e a Internet são geralmente cortadas. Isto nunca tinha acontecido na história da Humanidade. Israel faz isso com o objetivo de que o mundo não conheça a verdade”, condenou o líder sindical palestino.

Nasser revelou um misto de alegria e orgulho combinado com tristeza pela perda dos mártires da profissão, enfatizando a determinação de levar à Justiça aqueles que os executaram e continuam assassinando, “deixando os seus filhos órfãos”. Jornalistas que não se acovardaram, e que revelaram ao mundo o significado da ocupação israelense e dos seus crimes.

O líder dos jornalistas palestinos também condenou as atuais restrições impostas por Israel, que impede a imprensa de ter acesso ao enclave, fortemente sitiado para a cobertura.

Na oportunidade, Nasser Abu Bakr fez um apelo ao Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, para que sejam abertas imediatamente investigações sobre tantos e tão horrendos crimes, e implementadas as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), garantindo que os genocidas não escapem impunes das atrocidades.

Durante a inauguração do monumento em memória aos jornalistas assassinados pelos israelenses, a embaixadora da Palestina no Chile, Vera Baboun manifestou o seu “respeito e orgulho a cada um desses valentes profissionais que suportaram profundas dificuldades para transmitir a verdade sobre a brutal agressão a Gaza”. Defendendo o papel da solidariedade internacional, a embaixadora condenou a impunidade e apontou que “ninguém deveria estar em perigo pelo simples fato de fazer o seu trabalho”.

Fonte: Papiro