Delegações do Fatah e Hamas chegam a Pequim para tratar da unidade palestina
A China está mediando negociações para a restauração da unidade palestina, entre o Hamas e a Fatah, neste fim de semana, conforme a Reuters, com as delegações respectivamente encabeçadas por Azzam Al Ahmed e Moussa Abu Marzouk.
“Apoiamos o fortalecimento da autoridade da Autoridade Nacional Palestina e apoiamos todas as facções palestinas para alcançar a reconciliação e aumentar a solidariedade através do diálogo e da consulta”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, em uma conferência de imprensa na sexta-feira (26).
O apoio chinês à restauração da unidade palestina na Organização pela Libertação da Palestina (OLP) é muito importante, já que Pequim tem o cacife de ter, em março do ano passado, conseguido mediar com sucesso negociações que levaram ao restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irã e a Arábia Saudita.
Em fevereiro, o Hamas e a Fatah, mais outras organizações palestinas, já haviam se reunido em Moscou, em encontro que o chanceler russo Sergei Lavrov presidiu, em busca dessa unidade, que está sendo exigida particularmente em um momento em que Gaza está sob genocídio, os pogroms se multiplicam na Cisjordânia, nunca foi tão grande o isolamento do regime Netanyahu, a Corte Internacional de Justiça da ONU aceitou o pedido da África do Sul de investigação de Israel por genocídio, e a questão da solução dos Dois Estados voltou à ordem do dia.
Como revelou a votação no Conselho de Segurança da ONU, que só não aprovou o reconhecimento pleno do Estado Palestino como membro da ONU – já é observador com direito a voz, mas não a voto -, por causa do veto dos EUA, que cada dia se torna mais insustentável.
Aos líderes palestinos, Lavrov registrou que, ao longo dos anos, “a Rússia, assim como alguns de nossos amigos no mundo árabe, como Egito, Argélia e outros países da região, fizeram tentativas de proporcionar a todos os palestinos a oportunidade de se encontrarem, remover mal-entendidos e restaurar a unidade”.
Acreditamos que esse é um objetivo importante, ele acrescentou. “Oferecemos a vocês a oportunidade, sem restrições de tempo, de tentar encontrar soluções comuns para restaurar a unidade na plataforma da OLP”.
Segundo as agências de notícias, será a primeira vez que uma delegação do Hamas irá oficialmente à China desde o 7 de outubro. O diplomata chinês, Wang Kejian, encontrou-se com o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, no Catar no mês passado, de acordo com a chancelaria chinesa. Os palestinos estão divididos desde 2007, depois da vitória eleitoral do Hamas em Gaza e tentativa de virada de mesa. A Autoridade Palestina, instituída desde os Acordos de Oslo, congrega as forças da OLP, constituída em torno do patriarca Yasser Arafat.
Há muito se sabe que a estratégia de Netanyahu para seu “Israel do apartheid” passava por estimular a divisão interpalestina e inviabilizar sequer um “bantustão”, usando para isso os ataques do Hamas como um espantalho – enquanto se gabavam no Knesset de que era “nosso ativo”-, e culpavam a “fraqueza” da Autoridade Palestina pela falta de qualquer avanço, ao mesmo tempo que bombeava fanáticos para a Cisjordânia. Isso, claro, depois de terem criado, após a assinatura de Oslo, a polarização em Israel que levou ao assassinato do então primeiro-ministro Yitzak Rabin por um fanático.
O que deveria ser coroado com os Acordos de Abraão de Trump, através dos quais a Iniciativa Árabe de 2002 de “Paz por Terra” (reconhecimento em troca da volta às fronteiras de 1967) seria sepultada, para emplacar de vez a cínica ficção de “um povo sem terra para uma terra sem povo”. Só possível, aliás, com a oficialização, sem qualquer disfarce, do apartheid como sistema “civilizatório”, o que fez explodir Israel, sob a face da “crise do judiciário”.
A China tem se pronunciado com veemência sobre a urgência de implementar a solução dos Dois Estados e recentemente propôs uma conferência internacional para resolver a questão e definir um calendário, uma posição muito próxima à do Brasil e da Rússia. O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, enfatizou que a China só procura a paz para o Oriente Médio e não tem “interesses egoístas na questão palestina”.
A decisão da ONU de 1947 determinou a partição da Palestina histórica e criação de dois estados, o judeu, Israel, e o palestino, mas os palestinos seguem sob a injustiça histórica de terem sido impedidos pela ocupação de terem seu Estado.
Enquanto isso, os EUA alegam que a ONU não pode dar palpite sobre isso, que deve ser acordado entre os israelenses e os palestinos, e como o Estado de Israel real, dominado pelos herdeiros do fascismo da vertente Jabotinsky, abomina a existência de outro povo originário, em um colonialismo atrasado em trezentos anos, aquele do Velho Oeste, do ‘índio bom é o índio morto’. Quer dizer, Estado Palestino, nunca.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU, em março, realizou, a pedido da Assembleia Geral da ONU, uma audiência sobre a questão da ocupação – a estabelecida pela Guerra dos Seis Dias, em 1967-, em que a China pediu “a retificação da injustiça histórica prolongada” sofrida pelos palestinos e restauração de seu “direito legítimo ao estabelecimento de um Estado palestino soberano”. 52 países falaram na audiência.
No CIJ, o consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores chinês, Ma Xinmin, rebateu a tese norte-americana [direito de defesa] e explicou que, pelo contrário, Israel é “uma nação estrangeira que ocupa a Palestina, então o direito à autodefesa está mais com os palestinos do que com os israelenses”.
Segundo a Reuters, a iniciativa chinesa de acolher o diálogo interpalestino demonstra uma “notável incursão” de Pequim na diplomacia palestina e contrasta com a “cautela” – o termo é da agência britânica – de Washington quanto à reconciliação Autoridade Palestina-Hamas. Este, ao contrário, classificado à revelia da ONU como “terrorista” pela Casa Branca, que ao mesmo tempo não vê qualquer melindre para fornecer a Israel bombas de quase uma tonelada, bombas burras no jargão dos maníacos de guerra, cuja única utilidade, em uma das áreas de maior densidade populacional do planeta, só pode ser executar genocídio.
Quando dos debates no Conselho de Segurança da ONU, o embaixador Zhang Jun declarou que a luta travada pelos povos “pela libertação, pelo direito à autodeterminação, incluindo a luta armada contra o colonialismo, a ocupação, a agressão, a dominação contra forças estrangeiras, não deve ser considerada ato de terror”.
Pelos seus efeitos, muitos consideram o ataque de 7 de outubro equivalente à “Ofensiva do Tet” vietnamita de 1968, que pôs por terra qualquer veleidade de que a “vitória” do imperialismo ianque estava à vista no sudeste asiático.
Ali Zhang também se referiu às políticas de Israel como uma “opressão que minou e impediu gravemente os exercícios e a plena realização do direito do povo palestino à autodeterminação”.
Fonte: Papiro