Protesto contra genocídio de Netanyahu em Gaza se espalha pelas universidades dos EUA
Continuam a se multiplicar nos EUA os protestos dos estudantes contra o genocídio perpetrado por Israel contra os palestinos em Gaza e a favor do cessar-fogo e da imediata entrada de ajuda humanitária, reeditando, cinquenta anos depois, a mobilização que isolou a guerra dos EUA contra o povo do Vietnã aos olhos de grande parte da população norte-americana.
Em Nova York, a polícia invadiu, acionada pela reitoria, o campus da Universidade Columbia, em Manhattan, na quinta-feira passada, reprimindo um acampamento pacífico e prendendo mais de 100 estudantes, mas o tiro saiu pela culatra, com manifestações em outras universidades em solidariedade aos colegas e em apoio à população palestina.
Inspirados na luta do povo palestino, estudantes novaiorquinos enfrentam com bravura polícia de NY que veio desmontar o acampamento solidário:
Nas redes, estudantes postaram lado a lado duas fotos na Universidade de Colúmbia, uma de 1968, histórica, e outra, dos dias de hoje. Os protestos já atingem, além de Columbia, Harvard, o MIT e Yale, entre outras.
Cinquenta e seis anos atrás, centenas de estudantes da Universidade de Columbia se levantaram contra a guerra do Vietnã e o racismo, menos de três semanas após o assassinato de Martin Luther King, e ocuparam cinco prédios por uma semana. Em 30 de abril, a polícia de Nova York invadiu o campus, prendendo 700 estudantes e ferindo centenas, numa das maiores prisões em massa da história de Nova York. As imagens da agressão policial aos estudantes chocaram o país inteiro.
Nesta segunda-feira, as prisões voltaram a se repetir em Yale, com 47 estudantes presos, a pretexto de que o protesto estaria atrapalhando o trânsito nas imediações do campus. Mas as prisões não intimadaram os estudantes, com a concentração no local reunindo mais de 300 estudantes, apesar de todo o aparato policial no local. O acampamento na Beinecke Plaza, no campus, já dura três dias.
A repressão vem sendo desencadeada sob o cínico pretexto de impedir o “antissemitismo”, como se repudiar genocídio tivesse alguma coisa a ver com discriminação étnica ou religiosa. E apesar dos protestos contarem com expressiva participação de judeus norte-americanos que repudiam o genocídio e o apartheid e de que a própria Corte Internacional de Justiça da ONU, por solicitação da África do Sul, a nação que venceu o apartheid e o racismo, considerou procedente investigar Israel por genocídio e intenção genocida.
SUSPENSÕES ARBITRÁRIAS
Na segunda-feira, a reitoria suspendeu as aulas presenciais na Universidade Columbia, na tentativa de abafar o desgaste. A universidade suspendeu todos os estudantes que foram presos e inclusive três que não foram, como a filha da parlamentar democrata somali-americana Ilhan Omar, que estuda no vizinho Barnard College, que é administrado pela UC.
“Sou uma organizadora do Apartheid Divest”, escreveu Isra Hirsi no X na quinta-feira. “Em meus 3 anos no Barnard College nunca fui repreendido ou recebi qualquer advertência disciplinar. Acabei de receber a notícia de que sou 1 de 3 estudantes suspensos por se solidarizarem com os palestinos que enfrentam um genocídio.” O Apartheid Divest é parte do movimento BDS que exige o boicote, desinvestimento e sanções a Israel enquanto seguir o genocídio, o assalto a terras palestinas e a ocupação.
“Aqueles de nós no Acampamento de Solidariedade de Gaza não serão intimidados. Permaneceremos firmes até que nossas demandas sejam atendidas”, acrescentou – entre elas, que a universidade rompa vínculos com fornecedores de armas para Israel.
MAIS PROTESTOS
Em Massachussetts, os protestos abarcaram o Emerson College, em Boston, e o MIT, na vizinha Cambridge. Estudantes do MIT pedem que a universidade corte seus laços com as forças de ocupação israelenses, enquanto estudantes de Emerson cobraram o apoio à “libertação palestina”.
O estudante de Emerson, Owen Buxton, disse à WBZ-TV: “Estamos tentando tomar nossa educação em nossas próprias mãos. Estamos fartos do que a nossa escola tem feito”, acrescentando: “Estamos aqui reunidos e não vamos sair até que as nossas exigências sejam atendidas ou sejamos arrastados pela polícia”.
Na sexta-feira, a Universidade de Harvard dificultou o acesso ao Harvard Yard, buscando evitar o ‘contágio’, segundo o Harvard Crimson.
Não foi a primeira arbitrariedade da reitoria da Universidade de Columbia, que em novembro havia suspenso a atuação das entidades Estudantes pela Justiça na Palestina e a Voz Judaica pela Paz. No mês passado, a principal entidade pró-direitos dos EUA, a União pelas Liberdades Civis (ACLU), acionou judicialmente a universidade por essas suspensões.
Estudantes do Barnard College que foram presos e suspensos denunciaram que foram despejados das moradias do campus, tendo tido apenas 15 minutos para retirar seus pertences. Eles também perderam o acesso aos refeitórios da universidade.
De acordo com uma publicação no Twitter/X da WKCR, a estação de rádio estudantil da Universidade de Columbia, um agente de segurança tentou encerrar as transmissões ao vivo dos protestos, cedendo apenas depois que um membro do corpo docente da Columbia interveio.
Em Columbia, os manifestantes, depois de passarem várias noites dormindo ao relento no gramado, já voltaram a montar barracas no South Lawn. Eles organizaram orações muçulmanas e judaicas no acampamento e mantiveram sua condenação ao genocídio e à falta do cessar-fogo.
Antes da Universidade de Columbia, o ataque ao discurso pró-palestino nos campi universitários americanos incluiu suspensões de estudantes na Universidade Vanderbilt, no Tennessee, e no Pomona College, no sul da Califórnia. Na Universidade de Michigan – um estado com enorme comunidade muçulmana – todos os protestos foram efetivamente proibidos sob o pretexto de evitar “interrupções”.
A professora da Universidade do Sul da Califórnia, Ansa Tabassum, foi impedida de fazer seu discurso de abertura devido à sua defesa pró-palestina. Vários professores universitários de faculdades de Nova York foram demitidos por falarem publicamente em apoio a estudantes pró-palestinos.
APOIOS CRESCEM
Por outro lado, o apoio à luta contra o genocídio não para de crescer. Um “acampamento de solidariedade de Gaza” foi erguido na New School, a poucos quilômetros de Columbia. Estudantes em Ohio e na Carolina do Norte também montaram acampamentos solidários. Paralisações solidárias estão previstas para esta semana, inclusive na Universidade da Cidade de Nova York (CUNY).
Também os professores universitários vêm se pronunciando em apoio aos direitos democráticos dos manifestantes da Colômbia. Na sexta-feira, as seções de Columbia e Barnard da Associação Americana de Professores Universitários emitiram uma declaração denunciando as ações do reitor Nemat Shafik e exigindo a imediata revogação das suspensões estudantis.
No domingo, Tao Leigh Goffe, professora da City University of New York (CUNY) e artista residente em Columbia, anunciou que havia deixado seu cargo na Columbia. Mais de 100 homenageados de interesse público, uma designação concedida pela Columbia Law School a estudantes que concluem trabalhos pro bono e programas de bolsas relacionados a questões sociais específicas, publicaram um comunicado denunciando os ataques da universidade.
Outra demonstração de apoio veio da Relatora Especial da ONU para a Palestina, Francesca Albanese. “Que lições as universidades e governos ocidentais estão transmitindo a seus estudantes e jovens cidadãos quando atacam os valores e direitos que dizem ser fundamentais para as sociedades ocidentais?”, ela postou.
Fonte: Papiro