As crianças são as vítimas que mais sofrem em meio ao morticínio imposto a Gaza por Israel | Foto: AFP

625 mil estudantes ficaram sem acesso à educação; 5.500 alunos, 261 professores do ensino primário e secundário e 95 professores universitários foram assassinados. Mais de 8.000 estudantes e 756 professores ficaram feridos.

A relatora das Nações Unidas sobre o Direito à Educação, Farida Shaheed; a relatora para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese; a relatora para os Direitos Humanos dos Deslocados Internos, Paula Gaviria; e mais uma dúzia de especialistas da Organização internacional denunciaram, na quinta-feira (18), a destruição sistemática e intencional do sistema educativo palestino, particularmente na Faixa de Gaza, onde quase 5.500 estudantes, 261 professores do ensino primário e secundário e 95 professores universitários foram assassinados, enquanto mais de 8.000 estudantes e 756 professores ficaram feridos.

“Esses números estão aumentando dia a dia”, assinalaram os destacados especialistas em direitos humanos.

“Os ataques persistentes e insensíveis às infraestruturas educativas em Gaza têm um impacto devastador a longo prazo nos direitos das pessoas de aprender e de se expressarem livremente, privando mais uma geração de palestinos do seu futuro”, afirmaram as especialistas, informando que as consequências desses crimes é que mais de 625 mil estudantes ficaram sem acesso à educação. Pelo menos 80% das escolas do enclave estão completamente destruídas ou danificadas, revelaram.

“É razoável questionar se existe um esforço intencional para destruir de forma abrangente o sistema educativo palestino”, observaram, depois de mencionarem que o que observaram foi “a aniquilação sistêmica da educação através da prisão, detenção e assassinato de professores, estudantes e funcionários e a destruição da infraestrutura educacional”.

Além das escolas, a destruição inclui também bibliotecas e lugares patrimoniais como o Arquivo Central de Gaza, que guardava 150 anos de história, enquanto a Universidade de Israa, a última que restava no território palestino, foi demolida pelo exército israelense em 17 de Janeiro. Mencionaram também que os estudantes palestinos que tinham bolsas internacionais foram impedidos de deixar o enclave para frequentar universidades de outros países.

O comissário geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, dirigiu-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, na quarta-feira (17), mostrando a situação no contexto dos bombardeios israelenses na Faixa, destacando que há crianças mortas, feridas e famintas, privadas de qualquer segurança física ou psicológica, e que a desnutrição, a desidratação e a fome provocada pelo homem estão inclusive a causar a morte de bebês no norte de Gaza.

“Seis meses de bombardeios incessantes e um cerco impiedoso transformaram Gaza até deixar ela irreconhecível. Casas, escolas e hospitais foram reduzidos a escombros, sob os quais jazem inúmeros cadáveres”, disse Lazzarini, garantindo que os menores “levam a pior parte”. “Mais de 17 mil crianças são abandonadas à sua sorte depois de serem separadas das suas famílias, tendo que enfrentar o horror sozinhas”, observou.

Nesse sentido, ele expressou o seu descontentamento com postura de Israel de negar autorizações à UNRWA para entregar ajuda humanitária, um atropelo que ocorre apesar das ordens do Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) para aumentar o fluxo deste tipo de assistência. “Alimentos e água potável estão à espera do outro lado da fronteira, mas a permissão à UNRWA para entregar esta ajuda e salvar vidas é negada”, frisou.

O bombardeio indiscriminado cometido por ar, terra e mar por Israel na Faixa de Gaza mata ou fere uma criança palestina a cada dez minutos denunciou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), deixando desde o início da guerra o número “esmagador” de mais de 13.900 crianças assassinadas.

A especialista em comunicação da UNICEF, Tess Ingram, após uma viagem a Gaza, afirmou que um cessar-fogo “é a única forma de parar o assassinato e a mutilação de crianças na região”, e acrescentou que “com pelo menos 70 crianças feridas todos os dias, é necessário aumentar o número de evacuações médicas para que as crianças possam receber os cuidados médicos de que necessitam”.

“O que mais me impressionou (na visita a Gaza) foi o número de crianças feridas. Não só nos hospitais, mas nas ruas, em abrigos pré-fabricados”, assinalou Ingram, sublinhando que “os seus corpos despedaçados e suas vidas fraturadas são uma prova da brutalidade que lhes foi imposta”.

“Este número é quase certamente subestimado, já que apenas uma pequena quantidade de todos os mortos é desagregado para especificar que se trata de uma criança”, explicou. “Essas crianças tornaram-se os rostos da guerra. Desde os ferimentos devastadores causados ​​pelos bombardeios até ao trauma de ficarem imobilizadas em confrontos violentos, as suas histórias apresentam uma imagem comovente das consequências humanas do conflito”, constatou.

Outro porta-voz da organização, Jonathan Crickx, tinha alertado semanas atrás que quase todas as crianças do enclave, quase um milhão, precisam de assistência psicológica, porque a sua saúde mental foi fortemente afetada pelo conflito de guerra. “A saúde mental das crianças palestinas é seriamente afetada com sintomas como níveis extremos de ansiedade persistente, perda de apetite, problemas de sono, explosões emocionais ou ataques de pânico sempre que ouvem um bombardeio”, disse ele numa conferência de imprensa.

Fonte: Papiro