Iranianos se manifestam contra a agressão israelense com drones sobre Teerã | Reprodução de vídeo

“Não tivemos nenhum dano”, afirmou o brigadeiro iraniano Siavash Mihandoust, sobre a provocação com três drones, abatidos em Ishafan, terceira maior cidade do país, na madrugada de quinta para sexta-feira (19) pela defesa antiaérea, presumivelmente de Israel que, como de rotina, não assume publicamente o que faz.

Segundo o portal iraniano PressTV, citando o porta-voz Hossein Dalirian, vários drones “foram abatidos com sucesso pela defesa aérea do país e que não houve “nenhum ataque de mísseis por enquanto” no país.

“Nenhum ataque aéreo estrangeiro foi realizado até agora contra Isfahan ou outras áreas do país”, escreveu ele em um post em sua conta na manhã de sexta-feira

Houve – ele acrescentou – apenas esforços “fracassados e humilhantes” para pilotar quadricópteros que foram derrubados.

Outro militar sênior ouvido pela agência Reuters, sob anonimato, e que indicou que não há planos para uma retaliação imediata, disse que parece mais uma “infiltração do que um ataque”. As explosões ouvidas nos arredores da cidade foram atribuídas à ativação da defesa antiaérea contra os objetos suspeitos.

De acordo com o jornal The New York Times, citando fontes anônimas, tratou-se de um “ataque israelense” a um aeródromo militar iraniano. O espaço aéreo chegou a ser fechado, mas os voos já se normalizaram.

Com 1,9 milhão de habitantes, Isfahan fica a 450 quilômetros de Teerã e é mundialmente famosa por seus tapetes, possui instalações nucleares, as quais, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que as monitora, não sofreram qualquer prejuízo.

“A AIEA pode confirmar que não há danos nas instalações nucleares do Irã… [e] está monitorando a situação muito de perto”, afirmou.

No dia 13, fazendo uso do direito de defesa estabelecido pelo artigo 51 da Carta da ONU, o Irã desencadeou um ataque contra instalações militares em Israel, em resposta ao bombardeio perpetrado pelo regime de Tel Aviv, com mísseis, em violação das Convenções de Viena e de Genebra, contra a embaixada do país em Damasco na Síria.

A resposta iraniana foi inteiramente de acordo com a lei internacional, inclusive dando tempo ao Conselho de Segurança da ONU para condenar a violação da embaixada iraniana, o que foi vetado por Washington, e informando com 72 horas de antecedências os países vizinhos sobre a iminência do ataque a Israel.

A ausência de qualquer dano foi confirmada pelo comandante-em-chefe do Exército iraniano, Divisão Geral, Seyed Abdolrahim Mousavi. Ele revelou que especialistas relevantes estão investigando as dimensões do assunto e apresentarão um relatório após receberem os resultados.

Comentando a resposta do Irã às contínuas ameaças do regime israelense, o general Mousavi sublinhou que “Eles já testaram a resposta iraniana”.

Também em discurso no final do dia sobre o significado do ataque do último sábado contra Israel, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, não mencionou as explosões em Isfahan.

Ele enfatizou que a Operação Promessa Verdadeira reflete o poder, a unidade e a vontade férrea do povo iraniano, acrescentando que todas as correntes da vida iraniana concordam unanimemente que o ataque retaliatório contra alvos israelenses “fortaleceu o poder e a destreza da República Islâmica”.

Em Teerã, multidões foram às ruas nesta sexta-feira em repúdio às operações de sabotagem israelenses contra o país e em solidariedade a Gaza e ao povo palestino.

Em Israel, as reações não foram propriamente sobre o ataque, mas sobre um comentário do ‘ministro do apartheid’ – oficialmente, da ‘Segurança’-, Itamar Ben-Gvir, a respeito: “ridículo” [ou “fracativa”, conforme outra tradução].

Comentário que o líder da oposição Yair Lapid considerou “prejudicial à imagem internacional de Israel”.

“Até agora, nenhum ministro do conselho de defesa prejudicou a segurança, a imagem e a postura internacional de Israel. Com apenas uma palavra! Ben-Gvir conseguiu ridicularizar Israel”, disse Lapid via X.

De acordo com relatos da mídia israelense, Gvir ameaçara se retirar da coalizão de governo, mais os fanáticos de seu grupo político, o que derrubaria o governo de Netanyahu. Para analistas, a incursão de drones foi mais uma coreografia, do que propriamente um ataque.

À margem da reunião do G7 em Capri, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, disse que os EUA foram informados “no último minuto” por Israel sobre o suposto ataque desta sexta ao Irã, mas asseverou que não houve envolvimento direto de Washington.

O secretário de Estado, Antony Blinken, negou-se a comentar o ataque, mas disse que “os EUA não estão envolvidos com nenhuma operação ofensiva”.

Sobre exatamente o papel de Washington, não está claro, com fontes dizendo que Israel teria se comprometido a não atacar antes do fim da Páscoa judaica, e outras, como a Bloomberg, dizendo que Israel havia avisado os EUA com antecedência de que atacaria o Irã nas próximas 24 a 48 horas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que “é hora de interromper o perigoso ciclo de retaliação no Oriente Médio”, de acordo com um comunicado de seu porta-voz, Stephane Dujarric.

O chefe da ONU “condena qualquer ato de retaliação e apela à comunidade internacional para que trabalhe em conjunto para evitar qualquer desenvolvimento adicional que possa levar a consequências devastadoras para toda a região e além”, diz o comunicado. Israel mirou base aérea iraniana – NYT

China, União Europeia e Reino Unido também pediram “contenção” para evitar uma “escalada”.

Para o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, a ação israelense visa “desviar a atenção da comunidade mundial” da situação em Gaza, onde está ocorrendo “uma catástrofe humanitária” e muitos especialistas dizem que se trata de um “genocídio”.

O objetivo – ele apontou – é que todos os olhos estejam voltados para o Irã como “uma ameaça nuclear”. No entanto, a República Islâmica “não tem armas nucleares, como afirma a AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica]”, disse ele.

Lavrov acrescentou que “o Irã não quer uma escalada”, mas não pode deixar de responder a uma violação flagrante do direito internacional e do estatuto da missão diplomática. Ele também chamou os países árabes a “tomarem nas próprias mãos a iniciativa da criação de um Estado Palestino”.

Fonte: Papiro