Atentado que destruiu café em São Petersburgo foi um dos assumidos pelos ucranianos | Foto: Tass

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse no domingo que transmitiu à Ucrânia sua exigência de que os envolvidos em ataques terroristas em território russo, incluindo o chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), Vasyl Malyuk, sejam presos e extraditados para Moscou.

“O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo transmitiu às autoridades ucranianas exigências, ao abrigo da Convenção Internacional para a Supressão dos Atentados Terroristas e da Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo, para a detenção imediata e entrega de todas as pessoas envolvidas nestes ataques terroristas”, lê-se no comunicado.

A lista de procurados inclui Malyuk, que admitiu em uma entrevista televisionada de uma hora, no dia 25 de março, estar envolvido na organização da explosão da Ponte da Crimeia e também revelou detalhes de outros ataques terroristas ucranianos na Rússia.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia também exigiu que Kiev suspenda qualquer apoio ao terrorismo e indenize as vítimas pelos danos.

COMUNICADO RUSSO

“O sangrento ato terrorista que ocorreu em 22 de março em Krasnogorsk e chocou o mundo inteiro está longe de ser o primeiro atentado contra o nosso país nos últimos tempos. As ações de investigação levadas a cabo pelas autoridades competentes russas indicam que os vestígios de todos estes crimes levam à Ucrânia.”

 “Outros ataques terroristas bárbaros com dispositivos explosivos custaram a vida dos jornalistas D.A. Dugina e M.Yu. Fomin (V. Tatarsky), levaram ao ferimento grave do escritor E.N. Prilepin e à morte de seu motorista A.I. Shubin, à morte de cinco pessoas como resultado da explosão da ponte da Crimeia, 42 pessoas ficaram feridas em uma explosão em um café em São Petersburgo. Assassinatos e mutilações de civis, incluindo crianças, acompanharam os ataques da organização terrorista “Corpo de Voluntários Russos” (RDK).”

“A este respeito, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo transmitiu às autoridades ucranianas exigências no âmbito da Convenção Internacional para a Supressão dos Atentados Terroristas (ICBT) e da Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo (ICFT) para a imediata prisão e extradição de todas as pessoas envolvidas nestes ataques terroristas.”

“Entre estas exigências está a prisão do chefe da SBU V. Malyuk, que cinicamente admitiu em 25 de março que a Ucrânia organizou o bombardeamento da Ponte da Crimeia em outubro de 2022 e revelou detalhes da organização de outros ataques terroristas na Federação Russa.”

 “A luta contra o terrorismo internacional é da responsabilidade de todos os Estados. O lado russo exige que o regime de Kiev cesse imediatamente qualquer apoio às atividades terroristas, entregue os perpetradores e compense os danos causados às vítimas. A violação por parte da Ucrânia das suas obrigações ao abrigo das convenções anti-terrorismo implicará a sua responsabilidade jurídica internacional.”

AUTOINCRIMINAÇÃO TELEVISIONADA

Na entrevista, o tenente-general ucraniano Vasyl Malyuk gabou-se de uma campanha secreta de atentados na Rússia, com a cínica declaração de que “oficialmente, não vamos admitir isso… Mas, ao mesmo tempo, posso oferecer alguns detalhes.”

Em suma, autoincriminou-se, acreditando na proteção de Washington e Bruxelas.

Dos três atentados anteriores mais conhecidos contra a Rússia, ele não ocultou o papel ucraniano em dois, o do blogueiro Vladlen Tatarsky e o do deputado ucraniano exilado em Moscou, Ilya Kyva, cujo partido ‘Plataforma de Oposição – Pela Vida’, o maior das regiões de fala russa, foi banido pelo regime neonazista de Kiev.

A FILHA DE DUGIN

Mas Malyuk evitou falar no assassinato, com modus operandi análogo, com um explosivo postado em seu carro, da filha do filósofo soberanista russo Alexandr Dugin.

O acadêmico, que era o alvo, mas havia casualmente trocado de veículo, viu o assassinato da filha de poucos metros da explosão, depois dos dois participarem de um festival patriótico nos arredores de Moscou.

De acordo com o relato do jornal britânico The Independent sobre a entrevista, um blogueiro originário do Donbass foi morto quando recebeu uma estatueta com explosivos em um café de São Petersburgo, em abril do ano passado.

Na entrevista, o chefe da espionagem ucraniana asseverou que seus agentes enganaram uma intermediária, uma jovem, Darya Trepova, para entregar a estatueta a Tatarsky. Trepova disse ao tribunal ter seguido instruções de um homem na Ucrânia e alegou ter sido ingênua. Ela foi condenada a 27 anos de cárcere.

O deputado exilado foi morto no dia 6 de dezembro do ano passado. No mesmo dia, na República de Lugansk, um atentado com carro bomba matou um parlamentar local, olev Popov, como registrado então pela AFP.

SBU CONFIRMA

Conforme comentário do jornal britânico, “fontes dentro da SBU já haviam dito a vários veículos que o serviço era responsável pelo assassinato” de Kyva.

“Na época, o porta-voz da inteligência militar da Ucrânia, Andriy Yusov, insinuou o envolvimento no assassinato: ‘Podemos confirmar que Kyva acabou. Tal destino recairá sobre outros traidores da Ucrânia, bem como sobre os capangas do regime de Putin’”.

Ao justificar seu assassinato, o jornal Kyiv Post acusou Kyva de “clamar que a Ucrânia estava escravizada e posta de joelhos pelo Ocidente, e permeada pelo nazismo”.

Segundo o Kyiv Post, citando uma fonte, tratou-se de uma operação especial do SBU. “Foi eliminado com armas pequenas”.

OPERAÇÃO CROCUS

Com essa autoincriminação, torna-se ainda mais patética a “certeza” que tem sido alardeada por Washington e Londres de que “não foi a Ucrânia” que está por trás do atentado contra a casa de shows nos arredores de Moscou, em que foram mortas 144 pessoas a sangue frio e 182 ficaram feridas.

Bastaram 55 minutos após o ataque vir a público – e o incêndio no telhado da casa de shows sequer fora controlado, como observou o presidente Vladimir Putin – quando Washington assegurou que não foi a Ucrânia e que fora o “ISIS”.

O ataque terrorista mortal à prefeitura de Crocus foi uma clara tentativa de intimidar a Rússia e serve aos interesses do governo ucraniano, disse Putin, em discurso à nação.

“Esta atrocidade pode ser apenas um elo em toda uma série de tentativas daqueles que lutam contra nosso país desde 2014, usando o regime neonazista de Kiev como mão”, ele acrescentou.

Como afirmou o presidente, o ataque terrorista foi levado a cabo por islamitas radicais e as forças de segurança russas terão de descobrir quem está por trás deles.

Ao mesmo tempo, o diretor do FSB, Alexander Bortnikov, observou que o depoimento inicial dos detidos confirma o traço ucraniano.

Os quatro terroristas que tiveram o papel central no massacre da casa de shows fugiram de carro sem cumprir qualquer script de “mártires”, na direção da Ucrânia e, ao serem presos, confessaram que participaram por dinheiro.

Os serviços de inteligência russos acreditam que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha também estão por trás do ataque.

Para jogar mais lenha na fogueira, o secretário de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, cometeu a indiscrição, logo após o atentado em Crocus, de dizer, pela TV ucraniana, que “daremos a eles [russos] esse tipo de diversão com mais frequência”.

Foi logo depois demitido por Zelensky.  Curiosamente, madame Victoria Nuland, a parteira do golpe de Kiev, foi demitida bem durante o período que antecedeu o atentado, depois de ter prometido publicamente “surpresas desagradáveis” a Putin.

EM 2019, “O LAR IMPROVÁVEL”

O respeitado portal Moon of Alabama postou um link para uma matéria de novembro de 2019, do The Independent, intitulada “Como a Ucrânia se tornou o lar improvável para os líderes do Estado Islâmico escaparem do califado”, que estabelece vínculos nem tão recentes entre radicais islâmicos e o regime neonazi de Kiev.

O artigo revela que um “vice-ministro de guerra” do Estado Islâmico, Al Bara Sishani, nascido na Geórgia, e que era dado como morto, reapareceu no banco dos réus de um tribunal no centro de Kiev, vivinho da silva, depois de comandar execuções de “não crentes”; decapitações públicas; operações terroristas no exterior.

“À medida que surgiram detalhes sobre sua ressurreição milagrosa – como ele se esquivou do que havia sido relatado como um ataque aéreo fatal na Síria, depois usou um passaporte falso para viajar para a Turquia e a Ucrânia, onde viveria sem problemas por dois anos – uma série de perguntas surgiram sobre a capacidade e a disposição de Kiev de lidar com terroristas que se abrigam em seu interior”, registra o jornal britânico.

Com o colapso do ISIS na Síria, a Ucrânia tornou-se um atrativo para os jihadistas que queriam ficar na encolha, segundo disse ao jornal a especialista em jihad e pesquisadora visitante da Universidade de Harvard, Vera Mironova.

Ao The Independent, ela estimou em “centenas” os ex-combatentes do ISIS que haviam “acampado” na Ucrânia, dada a certeza de que não seriam importunados pelo regime, mais a corrupção e nenhum risco de deportação para a Rússia.

Fonte: Papiro