Em Buenos Aires, servidores ocuparam a frente dos Ministérios da Agricultura Familiar e da Economia | Foto: Divulgação

Convocados pela Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE) da Argentina, milhares de servidores tomaram as ruas nesta terça-feira (26) para repudiar a política de desmonte aplicada por Milei que, entre outros descalabros, anunciou o aprofundamento do arrocho salarial para os trabalhadores da ativa e a intenção de fechar organizações-chave de atendimento à população carente.

Com o intuito de tornar clara sua aversão a qualquer programa popular que identifique como “Kirchnerista”, o governo anunciou que passará a chave no Instituto de Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena, no Instituto contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo, e nos Centros de Referência do ex-Ministério de Desenvolvimento Social.

Em Buenos Aires, diante do Ministério da Agricultura Familiar e do Ministério da Economia, assim como nas capitais provinciais (estaduais) e nas principais cidades do país, os servidores defenderam a necessidade da renovação automática dos 70 mil contratos de trabalho que expiram no próximo 31 de março;  reintegração dos demitidos sem justa causa; aumento salarial acima da inflação; incorporação de todos os trabalhadores precários em cargos permanentes; rejeição ao encerramento de todos os organismos públicos e à privatização das empresas estatais; aumento emergencial para aposentados e pensionista e rejeição de qualquer tentativa de privatização.

Para os servidores, o fato do maior empresário do país, o argentino-italiano Paolo Rocca, dono das principais firmas dos setores de engenharia, construção e energia, “ter mais funcionários no governo que a força política ganhadora nas eleições nos obriga a refletir”.

A dimensão do caos privatizante foi exemplificado pela cobertura do Página12 desta quarta-feira, citando como “as demissões na Administração Nacional da Seguridade Social (Anses) deixaram a estrutura pública à beira do colapso”. Uma placa diz “fechado por falta de energia elétrica devido a problemas de construção”, na Unidade de Atenção Integral (UDAI) – que atende os aposentados – em Rivadavia e Nazca, uma das com maior atendimento. A poucos quarteirões dali a UDAI Liniers funciona de forma limitada “por falta de limpeza”, pois os encarregados pela limpeza foram demitidos. No Chaco só diz “fechado” e há fitas vermelhas, do tipo usado em acidentes, cruzadas na porta, onde os funcionários de seis UDAI da província “todos foram demitidos”. O aposentado é orientado a realizar o procedimento que necessita em outra UDAI: a mais próxima, em alguns casos, fica a 243 quilômetros de distância.

MILEI QUER ESTADO A SERVIÇO DAS CORPORAÇÕES

“Vamos resistir a todas as tentativas de ter um Estado a serviço das grandes corporações”, sublinhou Rodolfo Aguiar, secretário-geral da ATE, para quem, mais do que nunca, “é necessário resistir a qualquer possibilidade do Estado aparecer como avalista do saque aos nossos recursos naturais, como pretende o governo”. Com o compromisso de aprofundar o compromisso com o desenvolvimento, com a Argentina e seu povo, enfatizou o sindicalista, nossa bandeira de luta deve ser “democratizar o Estado para construir a Nação”.

De acordo com Aguiar, “estes são tempos de resistir, mas também de ter propostas”. “Querem nos encurralar para que defendamos o emprego e não falemos que enfrentamos o maior arrocho salarial dos últimos tempos, e com ele a grave deterioração de todas as condições de vida dos trabalhadores e aposentados. Vamos continuar lutando e multiplicando os protestos para evitar qualquer demissão ilegal e injustificada no Estado”, acrescentou.

Na avaliação da secretária adjunta da ATE, Mercedes Cabezas, o movimento tomou vulto e “replicou em todo o país porque a particularidade da nossa entidade é que trabalha nos territórios, com comunidades camponesas e indígenas”. “Quando falamos que são os trabalhadores que nivelam as desigualdades do sistema, nos referimos especificamente a este tipo de trabalho. Se o Estado se retirar dos territórios, das comunidades, é muito mais fácil a proliferação de outros negócios, neste caso relacionados com o agro, com a monocultura”, condenou.

Fonte: Papiro