Soldados israelenses carregam tanque com munição dos EUA para prosseguir massacre em Gaza | Foto: Jack Guez/AFP

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou na terça-feira (26) que seu país “não cessará fogo” em Gaza nas duas semanas que faltam do mês sagrado do Ramadã, conforme exigiu o Conselho de Segurança da ONU na véspera por 14 votos a favor e 1 abstenção dos EUA, na Resolução 2728.

Ou seja, que Israel vai continuar matando em massa por bomba e fome em Gaza, sob a folha de parreira de que seriam as bombas e o genocídio que trariam de volta os “reféns”, não as negociações, a volta da população de Gaza a seus lares, a entrada desimpedida de ajuda humanitária e a libertação de milhares de cativos palestinos nas masmorras deste Estado terrorista e usurpador.

E sem ocultar a intenção de levar o genocídio às últimas consequências em Rafah, para onde foram enxotados com bombas e canhonaços 1,5 milhão de civis palestinos, arrancados de suas casas.

Declaração que só agrava a percepção, em curso no mundo inteiro, de que não é mais possível a Israel disfarçar sua condição de pária, inclusive sob investigação da mais alta corte de justiça internacional, por genocídio contra a população palestina, em Gaza, sob “ocupação sufocante” há 57 anos, como definido pelo secretário-geral da ONU.

RESOLUÇÃO 2728 É VINCULANTE

Como enfatizou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, a resolução é vinculante, ou seja, obrigatória, de acordo com a Carta da ONU.

O que também foi ressaltado pela China, através do embaixador Zhang Jun. “As resoluções do Conselho de Segurança são vinculativas. Apelamos às partes envolvidas para que cumpram as suas obrigações nos termos da Carta da ONU e tomem as devidas medidas conforme exigido pela resolução”.

“Quase seis meses após a eclosão do conflito, mais de 32 mil civis palestinos perderam a vida. Para estes, a resolução de segunda-feira chega tarde demais. Mas para os milhões de pessoas em Gaza que permanecem atoladas numa catástrofe humanitária sem precedentes, esta resolução, se implementada plena e eficazmente, ainda poderá trazer a tão esperada esperança”, ele acrescentou.

Sem citar explicitamente Washington, Zhang chamou os “Estados com influência significativa” a desempenhem um papel positivo junto às partes envolvidas, inclusive utilizando todos os meios necessários e eficazes à sua disposição para apoiar a implementação da resolução.”

 A questão também foi ressaltada pelo grupo dos países árabes, em reunião com a presença de todos, e na qual o orador foi o embaixador palestino, Riyad Mansour.

Sob a proteção de Washington, há sete décadas Israel se comporta como se a lei internacional não existisse para o regime de apartheid e colonialismo. Mas o genocídio perpetrado à luz do dia, via streaming, e que choca o mundo, em pleno século 21, está rapidamente cuidando de esvaziar qualquer resquício de pretenso senso “moral” com que tais crimes eram cometidos.

“ISRAEL ESTÁ PERDENDO O MUNDO”

Por incrível que pareça, a mais recente manifestação de que essa é exatamente a situação veio do ex-presidente Donald Trump, o parteiro dos “Acordos de Abraão” contra o povo palestino, e que tem como genro um admirador das “oportunidades imobiliárias” em Gaza.

Em uma entrevista publicada na segunda-feira, segundo o registro do portal Axios, Trump “alertou que a guerra em Gaza está prejudicando a reputação internacional de Israel” e aconselhou repetidamente o país-pária a encerrá-la em breve.

O que Trump está dizendo, conforme Axios: “Você tem que acabar com a sua guerra. … Você tem que fazer isso. Temos que chegar à paz. Não podemos ter isso acontecendo. E eu direi, Israel tem que ter muito cuidado porque você está perdendo muito do mundo, você está perdendo muito apoio”, disse Trump ao veículo direitista Israel Hayom.

Trump voltou a essa mensagem várias vezes na entrevista, dizendo: “Israel tem que fazer o que tem que fazer, mas temos que chegar à paz, porque o mundo está girando e não é uma coisa boa para Israel”.

“Seja forte, seja inteligente e vamos acabar com isso”, disse ele mais tarde.

Axios deu outros detalhes das observações de Trump. “Me incomoda que as pessoas não falem mais sobre o dia 7 de outubro. Eles falam sobre o quão agressivo Israel é”, disse o ex-presidente.

Ele chamou de “erro” a divulgação, pelos militares de Israel, de vídeos mostrando bombas sendo lançadas sobre Gaza.

“Eu disse: ‘Ah, esse é um retrato terrível. É uma imagem muito ruim para o mundo. O mundo está vendo isso’”, disse Trump. “Todas as noites, eu observava prédios caírem sobre as pessoas. Diria que foi dado pelo Ministério da Defesa.”

Anteriormente, acrescentou o portal, o ex-presidente dissera à Fox News que Israel precisava terminar rapidamente a guerra e “voltar ao mundo da paz”.

A relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, disse ao Conselho de Direitos Humanos do órgão que encontrou “motivos razoáveis” para acreditar que Israel cometeu vários atos de genocídio em sua guerra contra Gaza e pediu a decretação de um embargo de armas.

Em seu relatório apresentado na terça-feira, ela detalhou como Israel violou três dos cinco atos listados na Convenção de Genocídio da ONU.

“A natureza esmagadora e a escala do ataque de Israel a Gaza e as condições destrutivas de vida que infligiu revelam uma intenção de destruir fisicamente os palestinos como um grupo”, diz o relatório.

De acordo com Albanese, os atos de Israel em Gaza podem ser caracterizados como genocídio porque o país teria cometido, ao menos, três atos proibidos pela Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, de 1948. Seriam eles: o assassinato intencional de membros do grupo; os sérios danos corporais ou mentais aos membros do grupo, além de infligir “deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física, no todo ou em parte”.

A relatora especial da ONU também citou o bloqueio à ajuda humanitária como outro elemento para caracterizar o crime de genocídio. “O bloqueio reforçado de Israel a Gaza causou a morte por fome, incluindo dez crianças por dia, ao impedir o acesso a abastecimentos vitais.”

“A desumanização pode ser entendida como fundamental para o processo de genocídio”, ela destacou, registrando notórias declarações de autoridades de Israel sobre os palestinos.

Albanese apontou o longo processo de apagamento colonial da população árabe indígena, sob a opressão israelense. “Durante mais de sete décadas, este processo sufocou o povo palestino como grupo – demograficamente, culturalmente, econômica e politicamente –, procurando deslocá-lo, expropriar e controlar as suas terras e recursos.”

“A hora de agir para evitar o genocídio é agora”, sublinhou a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnes Callamard, aplaudindo o relatório. Ela pediu aos países que “respeitem suas obrigações sob a Convenção sobre Genocídio e tomem medidas concretas para proteger os palestinos em Gaza hoje”.

Fonte: Papiro