“Os palestinos de Gaza estão presos num pesadelo sem fim”, disse Guterres, o secretário-geral da ONU | Foto: Khaled Desouki/AFP

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, visitou Rafah, na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza, no sábado (23) e denunciou que ao impedir a entrada de milhares de caminhões com ajuda humanitária no enclave, Israel está “destruindo comunidades, demolindo lugares e aniquilando gerações inteiras de palestinos, assediadas pela fome”.

“Aqui, nesta travessia, vemos a tristeza e a crueldade de tudo isso. Uma longa fila de caminhões de socorro bloqueados de um lado dos portões e a longa sombra da fome do outro. Isso é mais do que trágico. É um ultraje moral”, sentenciou o representante da ONU. “Os palestinos de Gaza, crianças, mulheres e homens, estão presos num pesadelo sem fim. Eu carrego as vozes da grande maioria do mundo que já viu o suficiente”, enfatizou.

A maior parte dos 2,3 milhões habitantes de Gaza, o maior campo de concentração do mundo, busca refúgio nas proximidades de Rafah, superlotada, sem água, energia elétrica ou comida, e que teve até mesmo seus hospitais bombardeados e invadidos.

Guterres desembarcou em Al-Arish, no norte do Sinai, no Egito, onde grande parte da ajuda internacional para os palestinos é entregue e armazenada, para logo depois ser barrada na passagem de Kerem Shalom, próxima a Rafah, a única que o governo de Benjamin Netanyahu mantém aberta. Para o representante das Nações Unidas, o empenho do Egito na contribuição à Faixa de Gaza, bem como para receber os palestinos feridos, permite com que ainda haja esperança do outro lado da fronteira.

O governador do Sinai do Norte, Muhammad Abdel Fadil Shusha, destacou durante a reunião com Guterres os “importantes esforços egípcios, em cooperação com vários países, para parar a guerra israelense na Faixa de Gaza e contribuir com o povo palestino”. Infelizmente, denunciou, “Israel obstrui a entrada de ajuda humanitária em Gaza, adotando procedimentos retardatários, barrando atualmente cerca de 7.000 caminhões com centenas de milhares de toneladas de socorro”. São “procedimentos de inspeção” desumanos, enquanto a fome se avoluma e agudiza do lado palestino.

As organizações de solidariedade apontam que tão somente um quinto da quantidade necessária de alimentos entrou no enclave, e que a única forma de satisfazer as emergências é acelerar rapidamente as entregas.

O número irrisório de caminhões de ajuda (163) e caminhões de combustível (oito) recebidos pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e pelo Crescente Vermelho Palestino foi apontado como uma demonstração da política israelense de “punição coletiva”.

Conforme o Ministério da Saúde de Gaza, desde o dia 7 de outubro, data do recomeço da resistência palestina, Israel já assassinou 32.226 pessoas, feriu 74.518 e mantém mais de oito mil desaparecidas sob os escombros de seus bombardeios. Diante da gravidade dos ferimentos, cerca de nove mil palestinos necessitam ser levados urgentemente para fora do país para tratamento.

Fonte: Papiro