Rússia e China vetam no CS da ONU “falso pedido de cessar-fogo” dos EUA
Rússia e China vetaram conjuntamente nesta sexta-feira (22) no Conselho de Segurança da ONU uma resolução apresentada pelos EUA sobre Gaza, por ser ineficaz quanto ao cessar-fogo, omitir os crimes de Israel no enclave e condenar unilateralmente o Hamas, e manifestaram seu apoio a outra resolução, já em elaboração por integrantes do organismo, que consideram efetiva para o cessar-fogo e a ajuda humanitária.
Particularmente, o embaixador russo Vassily Nebenzia denunciou que a proposta norte-americana continha um sinal verde efetivo para Israel montar uma operação militar na cidade de Rafah, no sul de Gaza, que atualmente abriga mais de 1 milhão de palestinos deslocados.
“Isso libertaria as mãos de Israel e resultaria em toda a Faixa de Gaza e toda a sua população, tendo que enfrentar destruição, devastação ou expulsão”, disse o embaixador russo.
Ele destacou que vários membros não permanentes do Conselho de Segurança elaboraram uma resolução alternativa, que chamou de documento “equilibrado”. E acrescentou que não havia qualquer razão para os membros do CS não apoiarem a resolução alternativa.
O embaixador da China, Zhang Jun, disse que o Conselho deveria exigir “um cessar-fogo imediato e incondicional”, acrescentando que muito tempo foi desperdiçado a esse respeito.
Ele disse ainda que a China apoiará um novo projeto de resolução que já está circulando e que “é claro sobre a questão de um cessar-fogo e está alinhado com a direção correta da ação do Conselho e é de grande relevância”.
Essa proposta, que vem sendo elaborada pelos dez membros eleitos do Conselho de Segurança exige “um cessar-fogo humanitário imediato para o mês sagrado do Ramadã”, que começou em 10 de março, que seja “respeitado por todas as partes, levando a um cessar-fogo sustentável permanente”.
Em nome dos países árabes e islâmicos, a Argélia votou contra a resolução parida em Washington. Apoiaram a proposta norte-americana França, Reino Unido, Equador, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Suíça. A Guiana se absteve, alegando que a proposta norte-americana não era clara, pois “não chamava por um cessar-fogo”, pura e simplesmente e sem condições.
“Esta não é a resolução que as agências humanitárias em Gaza necessitam. Mencionar a importância de quaisquer ações e simples apelos nos documentos do Conselho de Segurança da ONU não levará à sua implementação na realidade; são necessárias instruções diretas e rigorosas”, sublinhou o também representante russo na ONU, Dmitry Poliansky.
EMBUSTE HIPÓCRITA
“Observamos um típico espetáculo hipócrita”, disse o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, assinando que “não havia nenhum pedido de cessar-fogo no texto” e acusando Washington de tentar “enganar deliberadamente a comunidade internacional”.
Ele acrescentou que os EUA estavam tentando “vender um produto” inócuo ao Conselho de Segurança, manipulando o termo “imperativo” para fugir de exigir um cessar-fogo.
De fato, a proposta norte-americana fala que é “imperativo” um “imediato e sustentável cessar-fogo, mas se esquiva de dizer que – se aprovada – significaria que o CS exige o cessar-fogo e em seu lugar apenas e de forma mais genérica de que o cessar-fogo é “imperativo”.
Diante disso, Nebanzia advertiu ainda que a resolução dos EUA buscava, de forma subereptícia, garantir “a impunidade de Israel, cujos crimes nem sequer são avaliados no rascunho”.
Nebenzia observou, ainda que “todos os nossos comentários e linhas vermelhas foram repetidamente ignorados, assim como as propostas de várias outras delegações. Foi algum tipo de conversa com o vazio, e não um trabalho normal em um documento”.
Já Poliansky assinalou que a proposta norte-americana “não contém uma palavra sobre as violações do direito humanitário internacional por parte de Israel e os 32 mil palestinos mortos”. Quanto aos votos a favor de Washington, ele observou que os integrantes do CS sabiam que “o documento não seria aprovado e não teriam que ir publicamente contra Washington”.
“SEM COMPROMISSO”
Nos últimos cinco meses, além de enviarem armas a Israel e financiarem o genocídio que este perpetra em Gaza, o governo Biden vinha vetando, no CS da ONU, todas as resoluções que exigiam um cessar-fogo imediato.
Além de ter bloqueado o financiamento da agência da ONU para os refugiados palestinos, o principal mecanismo para entrega da ajuda humanitária em Gaza e para impedir a fome catastrófica que se alastra.
Anteriormente, os EUA já haviam vetado todas as resoluções do CS da ONU que determinavam inequivocamente o cessar-fogo em Gaza, sempre alegando que “atrapalhavam as negociações”.
Recentemente, o governo Biden obteve por escrito garantias de Israel de que usa as armas americanas fornecidas “de acordo com a lei internacional” – isso, apesar de 100 mil palestinos mortos ou feridos, 23 milhões de toneladas métricas do que antes eram casas, escolas, padarias e mesquitas, além de 2 milhões de desabrigados e deslocados.
Com Israel sob investigação da Corte Internacional de Justiça da ONU por genocídio, e com Biden fornecendo as armas, nunca é demais providenciar um álibi.
Segundo as más línguas, a resolução apresentada pelos EUA também atende outra motivação: a paúra do presidente Biden com a perda de votos no eleitorado árabe-americano, indignado por sua cumplicidade no genocídio perpetrado por Israel em Gaza, o que agrava o risco de vitória de Trump. Só no estado-pêndulo de Michigan, foram 100 mil os votos “sem compromisso” nas primárias de março, dez vezes mais do que a diferença nas últimas duas eleições norte-americanas.
Fonte: Papiro