Foguete da SpaceX virou uma bola de fogo ao se desintegrar no espaço | Foto: Reprodução

Depois de dois testes em que o foguetão do magnata Elon Musk explodiu na plataforma de lançamento, o terceiro voo da Starship – segundo um coleguinha, projetada para “eventualmente” enviar astronautas à Lua (e depois a Marte) – só se desintegrou na reentrada na atmosfera.

Realmente um sucesso, tinha que dizer o executivo, que recebe bilhões de dólares por parceria com a Nasa, prometendo que um dia levará o homem não só à Lua, mas também a Marte. Pela desintegração no retorno do “bem sucedido” foguete, o problema vai ser voltar…

“Um dia incrível”, não se conteve a executiva da empresa espacial de Musk, Gwynne Shotwell, nas redes sociais.

Mais comedidos, os apresentadores do teste confirmaram que espaçonave havia sido “perdida” – incinerada ou destruída – durante o “estresse da reentrada”.

A SpaceX chegou a transmitir um vídeo ao vivo da reentrada na atmosfera da nave incandescente, até a vaca ir pro brejo.

Uma câmera montada no veículo mostrou imagens de um brilho avermelhado envolvendo a espaçonave prateada devido ao calor da fricção de reentrada, enquanto a Starship mergulhava em direção à Terra.

A bem da verdade, levando em conta o insucesso dos dois testes anteriores, a SpaceX havia admitido preventivamente ser alta a probabilidade de que o terceiro voo pudesse terminar da mesma forma que os anteriores, com a destruição da espaçonave.

O que não impediu variados meios de informação ocidentais de comemorarem, extasiados, o sucesso de não explodir logo de cara, isto é, no lançamento. Pérolas como “chegou mais longe do que antes em uma trajetória em órbita baixa, mas foi desintegrado em seu retorno à Terra”.

STARSHIP

A espaçonave de dois estágios, com a Starship [Nave das Estrelas] montada no topo do foguete Super Heavy [Super Pesado], decolou da base de lançamento Starbase, próximo à Boca Chica Village, no sul da Costa do Golfo do Texas, na quinta-feira (14), atingindo antes de explodir a altitude máxima de 234 km.

Para levar a cabo o programa Artemis de retorno à Lua depois de cinquenta anos da Missão Apolo, a Nasa depende em grande medida do sucesso da Starship e do veículo lançador Super Heavy.

Parte do esforço de privatização da exploração artificial que vem sendo empreendido pela Nasa, a SpaceX tem um contrato com a agência espacial norte-americana para desenvolver um foguete capaz de suceder ao Saturno V, que impulsionou a Apollo, reutilizável, e uma nave, a Starship,  para o planejado retorno à Lua.

Em desenvolvimento, o Super Heavy tem 120 metros de altura e produz uma força de empuxo de 74,3 mega newtons, mais que o dobro do Saturno V.

A SpaceX, que Musk fundou em 2002, é obrigada a investigar cada falha na missão de teste e entregar as descobertas e ações corretivas à Administração Federal de Aviação (FAA) para a aprovação antes que o veículo possa voar novamente.

Segundo a SpaceX, foram 63 as alterações feitas após o primeiro teste e 13 após o segundo, mas parece que vão precisar fazer muito mais.

MELHOR O SONETO

No terceiro teste, além do fracasso da reentrada da Starship e do teste de reignição do motor, a SpaceX não conseguiu demonstrar a rotina para recuperação de seus propulsores de lançamento para reutilização.

As autoridades da SpaceX disseram que planejam realizar pelo menos mais seis voos de teste da Starship neste ano, sujeitos a aprovação regulatória.

A SpaceX optou por pular um dos principais objetivos do voo de teste – a tentativa de reacender um dos motores Raptor da Starship quando ela se movia em órbita rasa, operação vista como fundamental para o sucesso no futuro.

A espaçonave também voou em uma nova trajetória mirando o pouso no Oceano Índico.

DE EXPLOSÃO EM EXPLOSÃO

Considerada mais tolerante ao risco do que a maioria dos participantes tradicionais do setor aeroespacial, a cultura de engenharia da SpaceX baseia-se, segundo analistas, em uma estratégia de testes de voo que levam a espaçonave ao ponto de falhar para, em seguida, aperfeiçoar melhorias por meio de frequentes repetições.

Embora a Nasa haja adotado a abordagem de testes de voo de Musk e sua SpaceX, nos últimos meses executivos da agência vem pressionando por um progresso maior no desenvolvimento da Starship, sob a pressão dos avanços da China, em cujos planos também está a volta dos humanos à Lua.

A propósito, aparentemente a SpaceX não é a única corporação norte-americana a desenvolver a engenharia aeroespacial por tentativa e erro, como sugerem os fatos envolvendo a Boeing. Neste caso, mais erro que tentativa, com a trilha de desastres deixada pelo 737 Max.

De qualquer jeito, a SpaceX está fazendo escola. Na véspera do seu terceiro teste da Starship, o foguete japonês Kairos, produzido pela Space One, explodiu logo depois do seu lançamento inaugural. A startup tinha como objetivo ser a primeira empresa privada japonesa a colocar um satélite em órbita.

E como desgraça pouca é bobagem, a primeira alunissagem de um módulo robótico dos EUA depois de cinquenta anos, o IM-1, da startup Intuitive Machines e apoiado pela Nasa, no final de fevereiro, acabou – após muita comemoração e súbita perda de comunicação – ridiculamente com o módulo caindo de lado, com as perninhas no vazio, logo depois da descida.

Fonte: Papiro