Ato confirma perfil bolsonarista: maioria é masculina, branca e golpista
Acuados pela contundência dos indícios levantados por investigação da Polícia Federal sobre tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro e seu entorno investiram pesado no ato de domingo (25) e conseguiram a foto que queriam. Porém, o registro passa longe de retratar o que é a maioria do povo brasileiro, tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. A maior parte dos que lá estiveram é formada por homens, brancos e de classe média alta, de caráter golpista e negacionista, conforme pesquisa da USP.
Segundo estudo feito pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, do Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da USP, 62% dos participantes eram homens e 38% mulheres; 65% eram brancos, contra 26% de pardos e 5% de pretos.
Para efeito de comparação da representatividade desses números em relação ao perfil da população brasileira, de acordo com o Censo 2022, as mulheres são 51,5% e os homens somam 48,5%. Já os brancos são 43,5%; a grande maioria é de pardos (45,3%) e 10% são pretos.
A faixa etária era mais elevada entre os participantes, revelando um maioria de idosos e meia-idade: 25% tinha entre 55 e 65 anos e 23% entre 45 e 54 anos. A terceira posição está com a faixa dos 35 a 44 anos (21%), seguido dos que têm mais 65 anos (19%). A minoria era de jovens de 16 a 24 anos (3%), seguida de 25 a 34 anos, com 8%.
Do ponto de vista da escolaridade e da renda, 67% tinha ensino superior, 26% o médio e 6% o fundamental. Somando as tês faixas salariais mais altas — abrangendo de cinco a dez salários mínimos, de dez a 20 e mais de 20 — chega-se ao total de 47%. O público de dois a três salários mínimos era de 13% e o de até dois, 10%. A maioria era católica, 43%, contra 29% de evangélicos — o restante se dividia entre espíritas (10%), outras religiões (7%) ou nenhuma (10%).
Negacionismo golpista
A pesquisa também aferiu a opinião dos presentes e confirmou o caráter negacionista e golpista da maioria, em consonância com o que tem sido pregado por Bolsonaro e seu entorno. Ao todo, 88% afirmam que foi Bolsonaro e não Lula quem venceu a eleição e 94% dizem viver sob uma ditadura, o que estaria provado, segundo eles, pelos “excessos e perseguições” que acreditam estar havendo.
Além disso, segundo a pesquisa, 49% disseram que Bolsonaro deveria ter decretado uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no final de 2022, contra 39% que disseram que não e 12% que não souberam responder.
Quanto ao inexistente “poder moderador” das Forças Armadas, a opinião se dividiu. Questionados se Bolsonaro deveria ter invocado o artigo 142 da Constituição, 42% disseram que sim, contra 45% que responderam negativamente e 12% que não souberam dizer. No caso de Estado de sítio, a lógica se inverteu e 61% disseram que Bolsonaro não deveria decretá-lo contra 23% que responderam positivamente.
No que diz respeito à identidade política, a grande maioria, 92%, se disse de direita e 3% de centro. Também somam a maior fatia, 78%, os que se dizem muito conservadores e 18% um pouco conservadores.
Moradores da Grande São Paulo totalizaram 66% e 34% vieram de outras cidades. Talvez por isso, quando questionados sobre qual seria o melhor nome para disputar a presidência, já que Bolsonaro está inelegível, 61% dos entrevistados apontaram o governador Tarcísio de Freitas, contra 19% de Michele Bolsonaro e 7% do governador mineiro Romeu Zema.
A pesquisa foi coordenada por Pablo Ortellado e Márcio Moretto. Ao todo, foram entrevistadas 575 pessoas em toda a extensão da manifestação na Avenida Paulista. A margem de erro com grau de confiança de 95% é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. O Monitor também fez a contagem da participação no ato, chegando a cerca de 185 mil pessoas, público bem abaixo do alardeado por bolsonaristas e pela PM (600 mil).