UNICEF alerta para risco de “explosão no número de crianças mortas em Gaza”
A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertou, nesta terça-feira (12), que “estamos diante de uma iminente explosão” no número de crianças mortas por desnutrição na Faixa de Gaza, destacando que o índice de desnutrição em crianças ao norte da Faixa é “três vezes maior” que os registrados no sul.
O porta-voz da UNICEF, James Elder, declarou, em conferência na sede da ONU em Genebra, que a morte por desnutrição já era um receio há bastante tempo, mas “o que estamos vendo é que o número de mortes vai continuar a crescer. Estamos diante de uma iminente explosão em termos de mortes de crianças se a crise com a piora na desnutrição não for resolvida”.
Tratando das restrições impostas à entrada de ajuda para a Faixa de Gaza, Elder enfatizou que o aumento na quantia de socorro chegada pode fazer a diferença em termos de salvação de vidas. “Além da fome, há o risco crescente de disseminação de doenças infecciosas, uma vez que, de cada 10 crianças de até cinco anos, cerca de 220.000, caíram doentes nas últimas semanas”.
O também porta-voz da UNICEF, Ricardo Perez, afirmou não conseguir encontrar palavras adequadas para descrever as atrocidades a que as crianças em Gaza estão expostas, uma delas a morte por desnutrição, considerando que elas são o grupo mais afetado pela desastrosa fome na região atacada por Israel sem nenhuma consideração pela população civil.
Perez apelou ao fim da guerra para acabar com o pesadelo que os residentes estão vivendo, sublinhando a necessidade de um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
A UNICEF frisou numa declaração anterior: “Gaza tornou-se um cemitério para milhares de crianças. É um inferno para todos”, acrescentando que “mais de 80 por cento das crianças de Gaza sofrem de grave pobreza alimentar.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 16% das crianças na Faixa de Gaza já ultrapassaram a pobreza alimentar, e sofrem de desnutrição aguda, a forma mais letal de desnutrição. O sistema imunológico enfraquecido aumenta o risco de morte em até 11 vezes em comparação com crianças bem alimentadas.
Os dados mostram também que o número de palestinos mortos desde o início da agressão na Faixa de Gaza, em 7 de Outubro, aumentou para 31.112, incluindo cerca de 9 mil mulheres e mais de 13 mil menores, enquanto outros 72.760 ficaram feridos.
A FOME E A SEDE COMO ARMAS
Sobre a elevada proporção de mortes de mulheres em Gaza, a professora e ativista Pilar Carrera, da Universidade Autônoma de Madrid, alertou que “o que acontece é que as estão matando de caso pensado”. “É assustador pensar que Israel, em reação ao ataque do Hamás em 7 de outubro de 2023, tenha reagido abrindo as portas do inferno com o uso da fome e da sede como armas”, disse Pilar.
“Qualquer apreciador de história se lembrará terrivelmente do que é explicado sobre as cercas, os sítios medievais. As pessoas mais fracas são as que morrem primeiro, os mais fracos são as crianças e depois as mulheres. Por que agem contra as mulheres? Muito simples: quando se mata uma mulher, se mata ela e todos os filhos que ela possa ter. Isso significa que quando se mata uma mulher, se mata o presente, mas acima de tudo, o futuro de um povo”, enfatizou a professora.
O Comissário Geral da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para os Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou que Israel proibiu a entrada de ajuda essencial – incluindo ventiladores e medicamentos contra o câncer – em Gaza e, entre outras ações injustificáveis, deteve um caminhão de ajuda por causa de uma tesoura médica.
Lazzarini disse em uma publicação na sua conta na plataforma “X” que todos os residentes de Gaza dependem da ajuda humanitária para sobreviver, e acrescentou: “Muito pouco está acontecendo para melhorar a situação, e as restrições estão aumentando”.
Ele ressaltou que a lista proibida inclui materiais básicos e salva-vidas, incluindo medicamentos anestésicos, lâmpadas solares, cilindros de oxigênio, ventiladores, comprimidos para purificação de água, medicamentos contra o câncer e suprimentos para maternidade.
Fonte: Papiro