Manifestantes se concentraram em frente à sede da Télam em repúdio à investida de Milei | Foto: Guadalupe Lombardo

A agência de notícias pública argentina Télam permaneceu fechada nesta segunda-feira (4) após os seus funcionários terem sido demitidos e impedidos pela polícia de entrar nas instalações. A decisão tomada pelo presidente Javier Milei gerou uma onda de protestos de parlamentares, organizações sindicais, movimentos sociais e de direitos humanos.

Anunciada na sexta-feira (1), a medida põe fim a cerca de 80 anos de comunicação popular porque, segundo Milei, vinha sendo utilizada nas “últimas décadas como agência de propaganda kirchnerista”, em referência aos governos de Cristina e Nestor Kirchner e sua defesa dos interesses populares e nacionais argentinos.

Diante de cartazes de solidariedade com os companheiros da Agência afirmando que “Télam não se fecha”, o porta-voz presidencial Manuel Adorni foi questionado das razões da arbitrariedade, que tão somente fortalece a concentração de meios nas mãos de poucas famílias. Questionado, Adorni tergiversou e disse que Milei “está desenhando” o plano para a agência e cada um dos seus empregados.

Adorni acrescentou que “se de fato” o fechamento do Télam for aprovado pelo Congresso – como defendem os fascistas – será, segundo ele, um avanço e que, ao contrário do que denuncia a oposição, a medida não ameaça “o pluralismo de informação e a liberdade de imprensa”.

“Somos 800 trabalhadores de Télam que estamos aqui e que vamos fazer o impossível para que a agência siga de pé”, declarou Gerónimo Rojas, dirigente do Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (Sipreba), condenando a barreira policial erguida e as demissões anunciadas.

A Associação das Mães da Praça de Maio rechaçou o “ataque” que vêm sofrendo os trabalhadores da agência desde que o governo Milei tomou posse e defendeu o suposto “direito à comunicação de todos os argentinos”.

A Associação de Correspondentes Estrangeiros da República Argentina lançou um comunicado reiterando que “é vital para a opinião pública” que o país tenha uma agência de notícias “a fim de garantir aos cidadãos o acesso à informação plural” e que apoie a divulgação de ideias.

PARLAMENTARES CONDENAM “ATO DE CENSURA”

Condenando o fechamento da agência, o deputado Germán Martínez, chefe do bloco União pela Pátria, qualificou de um “claro ato de censura, antidemocrático e implacável”. “Suspender o site e impedir os profissionais de irem trabalhar é uma medida totalmente autoritária que fere a nossa democracia e coloca centenas de famílias em suspense”, ressaltou.

Na avaliação do parlamentar, Milei “quer completar o que as ditaduras e Macri não puderam fazer: fechar a agência pública de notícias que foi criada há 78 anos, cujo trabalho diário é divulgar informações para todo o país com recursos federais. e caráter plural”. E concluiu: “Estamos ao lado de cada um dos excelentes profissionais da Télam é defender a nossa democracia”.

A Télam foi criada em 1945 pelo então secretário do Trabalho e Previdência Social, Juan Domingo Perón, mais tarde três vezes presidente da Argentina, tendo enfrentado ao longo de sua história diversos ataques e processos de privatização por parte de diferentes governos.

A deputada nacional da Frente de Esquerda, Myriam Bregman, apresentou um projeto na Câmara “em defesa do Télam”, no qual “rejeita qualquer tentativa de avançar o desmantelamento e esvaziamento da agência”. Bregman esclarece que “por trás do fechamento está um novo ataque ao direito à comunicação, à informação e à liberdade de expressão”; e exige “o fim da operação policial” em frente à sede e a abertura imediata das suas instalações, “bem como o fim da suspensão de todos os trabalhadores e o registro do seu site e serviço de TV a cabo”.

Fonte: Papiro