Presidente argentino afirmou que o Inadi “não serve para nada” | Foto: Reprodução

Dando prosseguimento ao seu plano “Motosserra”, Javier Milei anunciou o fechamento do Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (Inadi), que visava “promover e executar políticas públicas federais e transversais articuladas com a sociedade civil com o objetivo de alcançar uma sociedade diversa e igualitária”.

De acordo com o governo, o Inadi “não serve para nada” e representa um gasto de recursos “inútil para a sociedade”, que se choca com a “liberdade de expressão”, pois representa uma “polícia de pensamento”.

No Instagram, Milei destacou a imagem de um leão enfurecido, com a faixa presidencial, destruindo a pauladas um muro onde se lê Inadi. “Viva a liberdade, caralho!”, escreveu, explicitando que o objetivo é impedir qualquer tipo de amarra estatal aos mais fortes – os seus patrocinadores.

Imediatamente, diferentes organizações e movimentos como a Dale Más Afro e a Frente de Orgulho protestaram contra a medida antissocial, denunciando ser “inaceitável” fechar uma instituição que, com 44 escritórios e 400 funcionários, representa um patrimônio da sociedade argentina na luta pela proteção dos direitos humanos. Além de receber denúncias, mapear e formular políticas públicas que respondam aos problemas de cada área específica, o Inadi também prepara e forma profissionais em instituições públicas e privadas.

No último mapa nacional de discriminação, aponta o jornal Página12, o Inadi revelou dados preocupantes: “72% das pessoas entrevistadas afirmaram ter sofrido discriminação”. Os números por si só reafirmam a necessidade da instituição.

A decisão do atual presidente atacar um órgão que deu suporte a vítimas, que atendeu dezenas de milhares de denúncias e combateu com o rigor da lei todo tipo de preconceito, expressa o que já havia externado em 2022, quando foi deputado: “O Inadi é absolutamente inútil. Minha proposta é eliminá-lo porque se tornou um instrumento de perseguição ideológica”.

“Não vamos continuar financiando máfias políticas ou locais por onde são pagos favores políticos, nem onde existem centenas ou dezenas de cargos que não acrescentam definitivamente nada”, reforçou o seu porta-voz presidencial, Manuel Adorni, reiterando que o instituto é imprestável.

Declaradamente fascista, a vice-presidente Victoria Villarruel reafirmou a sintonia com Milei para demonstrar a consonância na histérica cruzada antidireitos. “Dissemos que íamos fechar, ainda antes de sermos deputados”, comemorou.

DEMONIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES QUE PROMOVEM DIREITOS

Funcionária do Inadi e dirigente da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE), Nadia Fadic, denunciou que “há uma demonização dos servidores e uma visão restritiva dos direitos humanos, o que se vê com a eliminação do Ministério da Mulher e agora do Inadi”. “As ações de Milei miram em todas as organizações que promovem direitos. Eles atacam o Inadi porque ele recebe denúncias, investiga e conscientiza”, frisou Fadic.

Ex-coordenadora do Inadi entre 2019 e 2022, Victoria Donda, considerou o fechamento uma “provocação”. “É um governo que não se importa se as pessoas podem viajar, se as aulas começam, se os doentes de câncer terão acesso a medicamentos. Como você vai se preocupar com a discriminação? Ele não está interessado em proteger a sociedade”, sentenciou.

A Anistia Internacional destacou que a Argentina foi o primeiro país do mundo a ter uma organização que trata de queixas de discriminação. Em 2022, o Inadi respondeu a 12 mil consultas e recebeu 2.558 reclamações. “É dever do Estado que todas as pessoas possam viver livres de violência, discriminação e medo”, enfatizou a Anistia Internacional.

A Rede pelos Direitos das Pessoas com Deficiência (REDI) manifestou o seu “mais profundo repúdio” às intenções do governo de pôr fim à instituição, lembrando que a discriminação por deficiência é o principal motivo de discriminação no país com 22,47% do total de reclamações recebido pela agência em 2023.

“Em tempos em que se intensificam mensagens violentas contra diferentes grupos em relação à nacionalidade, orientação sexual e religião, entre outros, precisamos de espaços de apoio, promoção e proteção de direitos”, defendeu Leandro Cahn, dirigente da Fundação Hóspede.

Fonte: Papiro