Alves é julgado em Barcelona. Foto: reprodução/redes sociais

O julgamento do jogador Daniel Alves, acusado de estupro de uma jovem na Espanha em 2022, teve início nesta segunda-feira (5), em Barcelona, e deve se estender até a quarta-feira (7). No primeiro dia, a vítima reafirmou ter sido estuprada e duas outras mulheres disseram terem sido apalpadas pelo atleta. Nesta terça-feira (6), serão ouvidas 21 testemunhas, entre as quais Joana Sanz, mulher de Daniel Alves.

Segundo informado pela imprensa local, a defesa do jogador pretende sustentar que ele estava embriagado e não tinha consciência dos seus atos para tentar livrá-lo de punição — o depoimento de Joana Sanz seria neste sentido e é tido como um dos mais aguardados do dia. A mãe da denunciante, que inicialmente constava na lista de testemunhas, foi dispensada. 

Ainda de acordo com jornais espanhóis, no primeiro dia do julgamento, a jovem que acusa o jogador reafirmou ter sido sexualmente agredida por ele. Ela prestou seu depoimento de maneira privada e com imagem e voz distorcidas, para preservar sua identidade.

Além disso, uma amiga e uma prima da vítima disseram ter sido apalpadas por Alves antes do ato de violência sexual denunciado. Elas também relataram que a vítima ficou traumatizada após o ocorrido. 

A sessão de ontem começou com as considerações iniciais das partes, além da apresentação, por parte do Ministério Público, de documentos relativos ao caso. 

A defesa do jogador pediu a suspensão do julgamento — o que foi negado—, alegando suposta violação de direitos do jogador pelo fato de a juíza responsável não ter aceitado que um segundo perito examinasse a vítima. Tal argumento foi rechaçado pela procuradora do Ministério Público e pela advogada da vítima. Ainda segundo a defesa do jogador, Alves estaria sendo vítima de um “tribunal paralelo” da opinião pública. 

A defesa, no entanto, conseguiu garantir que Daniel Alves preste seu depoimento no último dia de julgamento. Também está marcada para o último dia a apresentação de laudos e relatórios periciais.

A acusação queria que Daniel Alves fosse condenado à pena máxima para esse tipo de crime na Espanha, que é de 12 anos se não houver agravantes, mas o Ministério Público espanhol fixou o pedido em nove anos. Além disso, se condenado, ele terá de pagar cerca de 150 mil euros (R$ 798 mil) à vítima para cobrir eventuais danos e prejuízos. Ele está preso no país há um ano.

Tentativa de acordo

Como forma de estancar o processo, o jogador vem tentando fechar acordo com a vítima — em tese, isso pode ocorrer mesmo com o julgamento iniciado, desde que antes de proferida a sentença. 

No entanto, segundo noticiado, essa tratativa está ainda mais difícil de ser levada a cabo após a divulgação, por parte da mãe de Daniel Alves, Lúcia Alves, de imagens da jovem nas redes sociais, o que estava proibido por determinação da Justiça da Espanha. 

Em janeiro deste ano, a União Brasileira de Mulheres (UBM) entregou ao Ministério Público Federal um pedido de investigação criminal contra a mãe do jogador, após ela expor o rosto e o nome da mulher que acusa o jogador de estupro, o que pode ser considerado crime de violência psicológica contra a vítima. A jovem também deverá processar a brasileira.

Ao longo das investigações, Daniel Alves apresentou diferentes versões e se contradisse sobre o caso. Inicialmente, afirmou, a um canal de TV, que não conhecia a jovem. Depois, disse à juíza responsável que manteve relações sexuais consensuais sem penetração. Mais tarde, alegou que teria havido penetração, mas repetiu que teria sido consensual. 

Devido ao processo, Daniel Alves teve suas contas bloqueadas. Recentemente, o pai do jogador Neymar Jr., Neymar da Silva Santos, encaminhou 150 mil euros para Alves, usados para pagar a “atenuante de reparação de dano causado”. A quitação desse valor pode ajudar a diminuir a possível pena em caso de condenação. 

No mundo do futebol, o caso foi tratado com distanciamento e silêncio, em mais uma demonstração da condescendência e proteção masculina com relação à violência sexual contra mulheres. O mesmo tipo de comportamento foi dedicado a outros casos graves, como o de Robinho, condenado a nove anos de prisão, no final do ano, por estupro coletivo na Justiça italiana. Em 2024, ele deverá ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Brasil, que definirá se o jogador cumprirá a pena aqui. 

Com agências

(PL)