Forças russas avançam sobre Avdiivka | Foto: Reprodução

A Rússia anunciou neste sábado (17) a libertação de Avdiivka, subúrbio de Donetsk, desde 2014 sob controle do regime neonazi ucraniano, depois de quatro meses de combate. A vitória foi comunicada ao presidente Vladimir Putin pelo ministro da Defesa Sergei Shoigu.

A libertação permitiu afastar a linha de frente da capital do Donbass, Donetsk, e protegê-la significativamente dos ataques ucranianos contra a população civil. Só nas últimas 24 horas, segundo Shoigu, as forças de Kiev perderam mais de 1500 soldados.

Medidas estão sendo tomadas para finalmente limpar Avdiivka de militantes e bloquear unidades ucranianas, afirmou o ministro. Poucas formações dispersas de militantes ucranianos conseguiram deixar Avdiivka às pressas, abandonando armas e equipamentos.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Putin parabenizou as forças russas por “uma vitória tão importante”.

Com o cerco russo prestes a se fechar em Avdiivka sobre as tropas ucranianas – um “caldeirão”, no jargão militar -, o regime de Kiev havia anunciado na noite de sexta-feira (16) a retirada da cidade, a noroeste de Donetsk, transformada desde 2014 em uma fortaleza neonazi.

Bandeiras russas “estão hasteadas por toda Avdiivka”, registrou o jornal russo Svobodnaya Pressa, cujo correspondente relatou que a retirada ucraniana começou antes mesmo do anúncio de Kiev, com “grupos de soldados ucranianos, sob forte fogo da artilharia russa, tentando sair da cidade por trilhas de raposa. Uma saída só possível passando sobre os próprios cadáveres, de acordo com o canal do Telegram Dois Majores”.

“PIOR QUE BAKHMUT”

Na quinta-feira, o comando ucraniano já admitira que a situação em Avdiivka era “crítica”, com o inimigo “vindo de todos os lados”, pior até mesmo do que aconteceu em Bakhmut (Artemovsk, para os russos) em maio de 2023. A investida russa sobre Avdiivka estava em curso desde outubro.

A decisão de abandonar Avdiivka e “passar para linhas de defesa mais favoráveis” foi tomada pelo novo comandante militar de Kiev, o general Alexander Syrsky, também conhecido como “Açougueiro” ou “General200” – isso, uma referência ao código para transporte de caixões militares -, por seu papel em empurrar coluna após coluna de soldados ucranianos ao moedor de carne da pesada artilharia russa, em especial em Bakhmut.

Na conferência de Segurança de Munique, o presidente Volodymyr Zelensky alegou que o recuo foi para “poupar vidas”, além de reclamar do atraso no envio dos US$ 60 bilhões prometidos por Biden mas empacados na Câmara dos deputados norte-americana, e da “escassez artificial” de munição.

REBULIÇO

A agência de notícias russa RIA Novosti registrou o rebuliço que a má notícia gerou na mídia norte-americana e europeia, com diversos veículos chamando Avdiivka de “cidade-chave” e divagando sobre as consequências de longo alcance do desastre.

De acordo com o The New York Times, os sinais de que a Ucrânia tinha cada vez mais dificuldades em manter Avdiivka eram “visíveis” há várias semanas. O Washington Post admitiu que o controle de Avdiivka é uma vitória significativa para a Rússia no campo de batalha, uma vez que a contraofensiva de Kiev no ano passado terminou com pesadas perdas.

O jornal alemão Welt classificou o resultado dos combates em Adviivka como “a maior vitória simbólica” de Moscou na guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia e uma “aquisição significativa de território”.

O britânico Daily Mail descreveu o controle russo sobre a cidade como uma vitória “simbólica” e, contraditoriamente, apontou que se trata da “maior mudança na linha da frente” desde a vitória em Bakhmut (Artemovsk para os russos) em maio de 2023.

No mesmo sentido, o australiano Sydney Morning Herald preocupou-se que Avdiivka poderia servir como “um possível trampolim” para o avanço da Rússia.

DESASTRE PARA KIEV

Outra publicação alemã, a revista Stern, poucas horas antes da formalização da retirada do regime de Kiev de Adviivka, assinalara que a derrota ali “é um desastre para a Ucrânia, que tem consequências mais abrangentes do que a queda de Bakhmut”.

Para o Guardian britânico, as tropas ucranianas estavam exaustas, e a escassez de projéteis de artilharia foi agravada pelo atraso na liberação de um grande pacote de financiamento de Washington. Já o jornal alemão Bild optou por ecoar a recém descoberta, por Kiev, da importância de “salvar as vidas” dos seus soldados.

A retirada foi “a única solução correta”, disse o comandante ucraniano das forças do sul, Oleksandr Tarnavskyi, em um post no Telegram na sexta-feira, que reconheceu que alguns soldados ucranianos foram capturados durante o processo.

As tropas russas são “numericamente superiores em termos de pessoal, artilharia e aviação”, acrescentou Tarnavskyi. Ainda segundo ele, as forças de Moscou realizaram 20 ataques aéreos e mais de 150 ataques de artilharia nas últimas 24 horas e Adviivka está sendo “varrida do mapa”.

De acordo com o portal ucraniano “strana.ua”, o soldado da Terceira Brigada de Assalto ucraniana Viktor Belyak disse que o comando ordenou que eles deixassem os feridos para trás durante a retirada. “A estrada para Avdiivka está repleta de nossos cadáveres”.

Em seu balanço das operações russas de desnazificação da Ucrânia, o porta-voz dos militares russos, general Igor Konashenkov, estimou em mais de 5.500 os soldados ucranianos mortos nessa semana nos combates em toda a frente, não apenas Adviivka.  775 na direção Kupyansky, 1585 em Krasnolimansky, 1820 em Donetsk, 1060 em Yuzhno-Donetsk e 310 em Kherson.

“É UMA FUGA”

Para o conselheiro do chefe da República Popular de Donetsk, Yan Gagin, o que está acontecendo em Avdiivka não é uma retirada como diz Syrsky, mas sim uma “fuga”.

“Sim, de fato, unidades das Forças Armadas da Ucrânia estão deixando Avdiivka, notamos que estão saindo, saindo dispersas. Ou seja, não foi isso que Syrsky escreveu que ‘vão sair’ – nada disso. O que está acontecendo agora é uma fuga”, disse ele, segundo a RIA Novosti.

Vladimir Dzhabarov, primeiro vice-chefe do Comitê de Relações Exteriores do Conselho da Federação, entrevistado pela RT, afirmou que “uma tempestade vem se acumulando sobre Avdiivka há muito tempo, e aconteceu. As perdas lá foram enormes, e não havia perspectiva de restaurar as posições das unidades ucranianas lá. Acho que isso é só o começo da derrota das Forças Armadas da Ucrânia”.

Para o analista político Oleksandr Dudchak, assumir o controle de Avdiivka é importante do ponto de vista tático e estratégico, porque ataques a Donetsk são realizados a partir deste território há muitos anos.

“Agora, talvez, finalmente, Donetsk possa dormir em paz. Para um Estado terrorista, trata-se de uma perda grave. Como vão aterrorizar Donetsk agora? Para eles, isso é um grande transtorno”, concluiu.

Fonte: Papiro