Navalny no tribunal | Foto: Reprodução

Alexei Navalny faleceu na prisão em que cumpria pena de 19 anos, após mal súbito depois de uma caminhada, revelou na sexta-feira (16) o Serviço Penitenciário Federal russo (FSIN), acrescentando que o preso chegou a ser socorrido por uma equipe médica, que tentou reanimá-lo por trinta minutos sem êxito.

“Todas as medidas de reanimação necessárias foram realizadas, mas não deram resultado positivo. Os paramédicos confirmaram a morte do condenado”, acrescentou o comunicado.

De acordo com o canal Baza, no Telegram, Navalny se sentiu mal por volta das 13h (horário local), sofreu um desmaio e uma ambulância foi chamada. Os paramédicos realizaram todas as medidas de reanimação, mas ele morreu às 14h17. Uma fonte da RT atribuiu o óbito ao rompimento de um coágulo sanguíneo.

“Os médicos que chegaram ao local continuaram as medidas de reanimação que os médicos da prisão já haviam providenciado. E eles tentaram por mais de 30 minutos. No entanto, o paciente morreu”, disse um porta-voz do hospital. Segundo ele, os paramédicos chegaram à prisão em menos de sete minutos e o socorro médico ao paciente em dois minutos.

INVESTIGAÇÃO

O FSIN instaurou uma investigação para determinar todas as circunstâncias em torno da morte de Navalny, assim como o escritório do Comitê de Investigação Russo na Área Autônoma de Yamalo-Nenets. A prisão IK-3 fica a 1600 km de Moscou, e a 40 quilômetros acima do Círculo Polar Ártico, e é apelidada de “Lobo Polar”.

Na segunda-feira, Navalny havia recebido a visita da mãe, Ludmila, e do advogado na quarta-feira. Na quinta-feira havia participado por videoconferência de cinco audiências, de dois tribunais, parecendo estar bem. Ele deixa também dois filhos e a esposa Yulia.

O advogado dele, Leonid Solovyov, se recusou a comentar, mas explicou que seu cliente realizou uma reunião na quarta-feira e que então “estava tudo normal”.

Segundo a BBC, em uma recente audiência em um tribunal por vídeo, Navalny dissera estar satisfeito com as condições da prisão. “Estou melhor aqui do que no IK-6” [a prisão anterior], ele comparou.

Por sua vez, o porta-voz do tribunal da região de Vladimir disse que houve “duas audiências judiciais ontem. Ele [Navalny] não reclamou de seu bem-estar, falou ativamente, apresentou argumentos em defesa de sua posição”,

Também o ouvidor de direitos humanos da Área Autônoma de Yamalo-Nenets, Andrey Nesteruk, relatou que Navalny e seus advogados não o abordaram com reclamações sobre as condições de detenção na unidade prisional.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a investigação irá determinar as causas da morte e relatou que o presidente Putin foi informado.

FICHA CORRIDA

Apresentado por Washington e outros governos vassalos e sua mídia como o “maior oposicionista” russo, Navalny tornou-se inicialmente conhecido como um dos organizadores da xenófoba “Marcha Russa”, contra os imigrantes do Cáucaso. E por vídeos racistas, chamando os imigrantes de “baratas”, e aconselhando, para eliminá-las, caso falhem as chineladas, “usar uma pistola”.

Na “Marcha Russa”, eram exibidos desde suásticas até bandeiras do império russo.

A primeira experiência partidária de Navalny, no ínicio dos anos 2000, foi no Yabloco, a agremiação preferida dos neoliberais e privatizadores.

Depois de uma viagem-prêmio em 2007 aos EUA, apadrinhado por Maria Gaidar, filha do chefe da privatização russa, onde se especializou no “combate à corrupção” em um curso de verão em Yale, Navalny se tornou o mais notório “freedom fighter” da Rússia pós-Yeltsin.

O mal súbito e morte de Navalny coincidiu com a abertura, em Munique, da conferência anual de Segurança, a ‘Davos da Segurança’, cujo principal tema, como não podia deixar de ser, é o fracasso da contraofensiva do regime de Kiev bancada por Washington e Bruxelas, além da insistência de Netanyahu em estender a Rafah o genocídio em curso em Gaza.

É de prever que possa haver alguma tentativa de protesto em Moscou, quando tudo andava na maior calma para a eleição presidencial de março, em que Putin é o favorito absoluto.

ADESTRADO

Depois do adestramento no “Yale World Fellows Program”, Natalny, sem jamais descartar a xenofobia, dedicou-se à mais lucrativa função de caçador de marajás russos e chegou em 2013 a se candidatar à prefeitura de Moscou. Desde então, não parou de ser paparicado pela mídia ocidental e seus donos, na esperança de que os bons tempos de Yeltsin iriam voltar.

Em 2020, Navalny passou mal durante um voo de volta a Moscou, tendo sido salvo pela assistência prestada pelo hospital da cidade em que o avião fez pouso de emergência. Posteriormente, ele foi transferido para a Alemanha a pedido da família, onde um hospital militar asseverou tratar-se de um “envenenamento por um agente químico militar”, sem jamais ter fornecido quaisquer provas, que teriam que ser confrontadas com os resultados dos exames feitos pelo hospital russo.

Em seu primeiro julgamento em 2014, um caso de fraude contra uma empresa francesa, Navalny chegou a ser condenado a 3,5 anos, mas teve a sentença suspensa. Na volta da Alemanha, foi preso por faltar às audiências e teve de cumprir a pena.

Em 2021, ele foi condenado a 19 anos de cárcere por fraude e extremismo e sua Fundação ‘Anticorrupção’ FBK foi declarada “agente estrangeiro” por receber verbas de governos e organizações estrangeiras, tendo se apossado de US$ 4,3 milhões.

Sob o cenário de Munique, mídia e governos ocidentais já se empenham em fazer Navalny “imortal” e vítima do “tirano Putin”. Antes de qualquer investigação, vários governos fizeram declarações rechaçadas pelo Kremlin como “inaceitáveis”.

Como destacou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharosa, antes mesmo de que haja sequer um laudo forense, já lançam acusações. Ela contrastou a pressa em falar sobre a morte de Navalny, com a completa omissão dos EUA quando o preso morto foi o jornalista norte-americano, de ascendência chilena, Gonzalo Lira, em um cárcere na Ucrânia.

“É interessante por que, para a Casa Branca e o Departamento de Estado, a morte de um cidadão russo em uma colônia penal russa acabou sendo muito mais importante e pareceu mais terrível do que a morte de um cidadão americano, o jornalista Gonzalo Lira, torturado em uma prisão ucraniana? Em vez de acusações indiscriminadas, seria melhor mostrar moderação e aguardar os resultados oficiais do exame médico”, ela salientou no Telegram.

“PODER BRANCO”

Seja o que a mídia ocidental alegar agora sobre Navalny, não tem como fugir do que até eles mesmos já disseram. Em 2011, o The New York Times registrou sobre o famigerado vídeo dos “imigrantes/baratas”: “Ele apareceu como orador ao lado de neonazistas e skinheads, e uma vez estrelou um vídeo que compara militantes do Cáucaso de pele escura a baratas. Enquanto as baratas podem ser mortas com um chinelo, ele diz que, no caso dos seres humanos, ‘eu recomendo uma pistola.’”

O jornal também admitiu que o Yabloco teve até de expulsar Navalny “por suas inclinações de extrema-direita”.

Já a BBC estampou o envolvimento de Navalny na ‘Marcha Russa’, ocasião em que falou para uma multidão de 7 mil pessoas, atacando o Kremlin. “Temos problemas com a migração ilegal, temos o problema do Cáucaso, temos um problema de crimes étnicos”.

Dois anos depois, em 2013, Navalny, então com 37 anos, se pronunciou a favor dos pogroms raciais de Biryulyovo, quando cerca de 1.000 nacionalistas atacaram nas ruas imigrantes da Ásia Central.

Através de seu blog, Navalny atacou as “hordas de imigrantes legais e ilegais”, mais uma vez usando imagens de animais como sua marca registrada, descrevendo como eles “se arrastam para os bairros vizinhos”. De acordo com a BBC, os participantes gritavam “Rússia para os russos!” e “Poder Branco!”

Fonte: Papiro