Declínio da produção industrial foi registrado no Japão | Foto: Bloomberg

Enquanto já estava patente que a economia alemã encolheu 0,3% no ano passado, só agora a publicação dos números para o PIB no quarto trimestre de 2023 permitiu constatar que o Japão “entrou inesperadamente em recessão no final do ano” e que igual sorte alcançou o Reino Unido, que recuou 0,3%, depois de ter contraído 0,1% no terceiro trimestre. Em resumo, três do G7, o clube privê dos países ricos, estão em recessão.

Curiosamente, é a China, que teve crescimento de 4,6% no ano passado, que a chamada mídia imperial vê prenhe de crise na economia. A conselheira econômica da Casa Branca, Lael Brainard, se apressou a declarar que os EUA “não seguirão” o caminho do Reino Unido e do Japão, supostamente por apostar nos gastos públicos em infraestrutura e energia limpa. Por sua conta e risco, ela previu “um ambiente bastante benigno” nesse ano de eleição.

Sobre a Alemanha, recente matéria da Bloomberg havia assinalado que os dias do país como superpotência industrial estavam “chegando ao fim”, sob a alta do custo da energia após as sanções contra a Rússia e seu gás barato, em prol do caro GNL norte-americano – o que considerou como a gota d’água que quebrou a espinha da potência econômica europeia.

A produção industrial da Alemanha caiu pelo sétimo mês consecutivo, atingindo 1,6% negativo em dezembro, face a 0,2% negativo em novembro, de acordo com o Gabinete Federal de Estatísticas da Alemanha.

Entre os setores mais afetados está o da indústria química, que enfrentou perdas colossais de 7,6% — o seu pior desempenho desde 1995. A construção civil sofreu um declínio de 3,4%.

Dois trimestres consecutivos de contração configuram a assim chamada “recessão técnica”.

MÁS NOTÍCIAS DE TÓQUIO

O produto interno bruto (PIB) do Japão caiu 0,4% em uma taxa anualizada no período de outubro a dezembro, após queda de 3,3% no trimestre anterior, segundo dados do governo divulgados nesta quinta-feira (15), contrariando as previsões das consultorias de um aumento de 1,4%, registrou a Associated Press.

O consumo privado, que representa mais da metade da atividade econômica, caiu 0,2% contra expectativa de um ganho de 0,1%, já que o aumento do custo de vida e o clima quente desencorajaram as famílias a jantar fora e comprar roupas de inverno, segundo essa análise.

Os gastos de capital, outro importante motor de crescimento do setor privado, recuaram 0,1%, em comparação com as previsões de um aumento de 0,3%.

TEMPO RUIM EM LONDRES

Já o PIB do Reino Unido encolheu 0,3% no quarto trimestre de 2023 ante os três meses anteriores, de acordo com dados preliminares divulgados nesta quinta-feira (15) pelo ONS, o órgão de estatísticas do país. No trimestre anterior, o recuo havia sido de 0,1% em relação ao período precedente.

É a primeira vez que o Reino Unido entra em recessão desde o primeiro semestre de 2020, quando o lockdown inicial da Covid-19 congelou grande parte da atividade econômica.

No geral, a economia britânica cresceu apenas 0,1% no ano passado, ante 4,6% em 2022 – o crescimento mais fraco desde a crise financeira de 2009, observou o Morning Star.

Segundo o ONS, os três principais setores – serviços, produção industrial e construção – estão em queda.

O crescimento econômico per capita também encolheu por sete trimestres consecutivos no período mais longo desde o início dos registros, em 1955.

O resultado desmoraliza ainda mais o primeiro-ministro conservador Rishi Sunak, que no mês passado se gabou à BBC de que o Reino Unido havia evitado uma recessão sob seu governo.

“Esta é a recessão de Rishi Sunak e as notícias serão profundamente preocupantes para famílias e empresas em todo o Reino Unido”, denunciou a oposição trabalhista.

Uma das principais razões pela estagnação é que o Banco da Inglaterra elevou sua principal taxa de juros agressivamente, para uma alta de 16 anos de 5,25%, a título de conter a inflação que chegara a 11%, o que encareceu os empréstimos e abateu a capacidade de consumo.

JUROS NAS ALTURAS

Segundo a Reuters, o Banco da Inglaterra – BC britânico – expressou “cautela” sobre cortar as taxas de juros “muito cedo” e se espera que os custos dos empréstimos permaneçam altos, em relação aos últimos 15 anos ou mais.

“A população continua mergulhada em uma crise de custo de vida, a inflação não foi controlada e os trabalhadores estão sofrendo sob o jugo das altas taxas de juros”, denunciou a secretária-geral do sindicato Unite, Sharon Graham.

“Os conservadores levaram nossa economia a uma vala e não têm ideia de como sair”, concordou o secretário-geral da central TUC, Paul Nowak. “Com os orçamentos das famílias em ponto de ruptura, os gastos estão caindo e a economia está encolhendo. Ao mesmo tempo, nossos serviços públicos em ruínas estão carentes de financiamento tão necessário.”

ILUSIONISMO

Alguns meios de comunicação preferiram dar destaque para o que apresentaram como a ultrapassagem do Japão pela Alemanha, na terceira posição do maior PIB nominal em dólares.

Como as notícias sobre a economia alemã nos últimos tempos são de dar pena, não deixa de ser curioso esse alarde sobre o Japão “perdendo seu título de terceira maior economia do mundo”.

Na realidade, é um caso de ilusionismo “econômico”. Sob a enorme desvalorização do yen japonês diante do dólar no período, o PIB nominal do Japão ficou em US$ 4,21 trilhões em 2023, caindo abaixo dos US$ 4,46 trilhões da Alemanha, cujo valor foi inflado pela alta inflação que atinge o país europeu desde que renunciou ao gás russo barato.

Na realidade, em termos de PIB por paridade de poder de compra (PPC), a Alemanha é só o sexto lugar entre as maiores economias do planeta, com a Rússia tendo se tornado a quinta maior conforme o Banco Mundial (e, claro, a maior economia europeia). Em grande parte, graças à reindustrialização e resiliência às sanções.

A economia do Japão era a segunda maior até 2010, quando foi suplantada pela da China. Os dados mais recentes refletem a realidade de um Japão enfraquecido e provavelmente resultarão em uma presença menor do país no mundo, disse Tetsuji Okazaki, professor de economia da Universidade de Tóquio, conforme a Associated Press.

“Há alguns anos, o Japão ostentava um poderoso setor automotivo, por exemplo. Mas com o advento dos veículos elétricos, até mesmo essa vantagem foi abalada”, ele acrescentou.

Analistas temem que ocorra no atual trimestre outra contração no PIB do Japão, o que se deveria à “demanda fraca na China, consumo lento e interrupção da produção em uma unidade da Toyota Motor Corp”.

Fonte: Papiro