Para se efetivar, impeachment de Mayorkas depende de improvável aprovação no Senado | Foto: John Moore/AFP

Em mais um lance da pré-campanha eleitoral nos EUA, a Câmara dos deputados, controlada pelos republicanos, aprovou na noite de terça-feira (13) o impeachment de Alejandro Mayorkas, secretário de Segurança Interna, responsável por controlar as fronteiras e conter a imigração ilegal.

Com Trump sinalizando fazer da “invasão de imigrantes ilegais na fronteira com o México” o carro-chefe de sua campanha para volta à Casa Branca, a rápida aprovação do impeachment ocorreu no mesmo dia em que Biden emplacara, no Senado, seu mote eleitoral preferido, aprovando o envio de US$ 14 bilhões para o genocídio em Gaza e US$ 60 bilhões para o regime neonazista de Kiev, em nome da “defesa da democracia”.

O impeachment de Mayorkas é, essencialmente, uma encenação, já que será derrubado no Senado sob maioria democrata, mas serve para botar mais lenha na tese das “fronteiras desguarnecidas” repetida à exaustão por Trump, que diz ainda que os imigrantes ilegais são “saídos de presídios e hospícios” ou “terroristas” e que vive se gabando de seu “belo muro”.

Esta é a 2ª vez na história dos EUA que a Câmara aprova o impeachment de um integrante do gabinete da presidência. A única vez que isso tinha ocorrido antes, havia sido há quase 150 anos, em 1876. A votação foi por uma maioria exígua, com 214 votos a favor e 213 contra.

Segundo a Reuters, a Casa aprovou 2 artigos de impeachment acusando Mayorkas de não aplicar as leis de imigração dos EUA. Em uma moção de 22 páginas, os deputados disseram que Mayorkas se recusou a obedecer às decisões da justiça sobre a crise na fronteira e o apontaram como responsável pelo aumento maciço de imigrantes ilegais na fronteira sul.

“Ao longo de seu mandato como secretário de Segurança Interna, Alejandro N. Mayorkas violou repetidamente as leis promulgadas pelo Congresso em relação à imigração e à segurança das fronteiras”, diz a moção de impeachment.

“Em grande parte por causa de sua conduta ilegal, milhões de estrangeiros entraram ilegalmente nos Estados Unidos anualmente, com muitos permanecendo ilegalmente nos Estados Unidos.”

Enquanto isso, segundo a BBC, sob Biden mais de 6,3 milhões de pessoas foram detidas ao entrarem ilegalmente nos EUA, um número superior ao de Trump, Obama ou W. Bush. E, em dez meses, de acordo com as autoridades norte-americanas, foram deportadas 530 mil ilegais. Biden, no entanto, acabou com a separação das famílias nos EUA, que havia se tornado um escândalo sob Trump.

“JOGO POLÍTICO”

A Casa Branca, pelo seu lado, argumentou que a medida era um “jogo político” e que não há “base” para o impeachment. “A história não olhará com bons olhos para os republicanos da Câmara por seu ato de partidarismo inconstitucional que teve como alvo um servidor público honrado”.

O porta-voz do Departamento de Segurança Nacional, Mia Ehrenberg, disse que a Câmara afastou Mayorka “sem um pingo de evidência ou fundamentos constitucionais legítimos”.

“Os republicanos da Câmara caluniaram um funcionário público dedicado que passou mais de 20 anos aplicando nossas leis e servindo nosso país”, asseverou o porta-voz.

Com parte dos eleitorados jovem e negro desmotivado para ir às urnas reeleger Biden, o atual ocupante da Casa Branca não pode se dar ao luxo de perder, também, eleitores latinos.

O que não impediu Biden de ter tentado aprovar o aumento da repressão aos imigrantes em troca da concessão de US$ 95 bilhões para suas guerras preferenciais, na Ucrânia e Gaza, e para provocações no “IndoPacífico”, isto é, Taiwan.

A troca “dinheiro para as guerras por mais repressão a imigrantes” gorou, mas Biden conseguiu driblar Trump, com o Senado aprovando bilhões para a guerra, sem contrapartida para a suposta “segurança na fronteira sul”.

Para inflar a questão do “perigo dos imigrantes”, o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, mandou fechar a fronteira com o México no Rio Grande com arame farpado, o que já causou a morte de uma mulher e duas filhas, e está apelando de liminar concedida pela Suprema Corte a Biden, para retirada da guarda texana de Abbot e volta da Patrulha da Fronteira, em Eagle Pass.

Apesar de, em qualquer país do mundo, as fronteiras serem um assunto de responsabilidade do governo federal, 25 governadores republicanos declararam “solidariedade” a Abbott e sua reivindicação de “direito de defender as fronteiras”. Alguns, inclusive, anunciando envio das respectivas guardas estaduais em apoio.

Os governos republicanos dos estados da fronteira sul também têm enfiado às dúzias imigrantes ilegais em ônibus despachados para terem de ser abrigados pelas chamadas cidades-santuário, governadas por democratas.

MULTIDÕES DE DESERDADOS

Apesar de todo o alarido dos republicanos sobre a imigração, foi o presidente democrata Barack Obama que se tornou merecedor do apelido de “deportador-chefe”, pelos recordes que bateu em matéria de expulsão de “chicanos” dos EUA.

Em grande medida, os que vêm são multidões de deserdados pelas políticas de austeridade impostas pelos EUA e seus instrumentos como o FMI na América Latina, refugiados econômicos. Outros, subproduto dos golpes e da violência que Washington desencadeou ao longo de décadas, inviabilizando o progresso e até a subsistência dos países vizinhos – uma questão evidente em relação à América Central.

Quanto à dimensão atual da crise da imigração, só em dezembro do ano passado mais de 300 mil cruzaram a fronteira sul, número recorde. No ano fiscal de 2023, foram quase 2,5 milhões. Quanto aos pedidos de asilo, eram 300 mil pendências em todo os EUA em 2012. Agora, são mais de três milhões de casos parados na justiça, um milhão a mais do que no ano passado.

Fonte: Papiro