Netanyahu responde processo na Corte de Haia por genocídio em Gaza | Foto: Abir Sultan/POOL/AFP

Israel recusou a proposta do Hamás de imediato cessar-fogo temporário por 135 dias, seguido de acordo que levaria a um cessar-fogo permanente. Netanyahu preferiu assumir que quer a guerra, com o genocídio denunciado pela África do Sul e acatado pela Corte de Haia por mais “vários meses”.

Com suas declarações, Netanyahu assume abertamente sua condição de criminoso, voltando as costas para um entendimento visto pelos mediadores, Egito e Qatar como um progresso rumo ao fim das hostilidades.

O primeiro-ministro do Qatar, Xeique Mohammed bin Abdurrahman Al Thani, destacou que “a reação do Hamas foi, de forma geral, positiva”. Ele acrescentou ao entregar a proposta aos israelenses que “há razões para otimismo”.

Já Biden deixou de lado, de forma escancarada, sua condição de mediador, para se colocar em apoio à reação israelense de seguir no genocídio, dizendo que a ideia de acordo do Hamás lhe “parece um pouco acima do máximo”.

“PELO FIM DA AGRESSÃO”

Na terça-feira(6), o Hamás informou publicamente que entregara ao Qatar e ao Egito a sua proposta destacando que “está tratando o quadro de discussão de forma propositiva e para garantir uma completa e final cessação da agressão e um fim à guerra, fornecimento de ajuda humanitária, soluções para moradia, restauração, suspensão do bloqueio e troca de prisioneiros”.

O caminho visualizado pelo Hamás para se chegar a esta condição é, desde já, pausas prolongadas nos ataques em Gaza e início da troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

Osama Hamdan, dirigente do Hamás, residente em Beirute, disse na sexta-feira, que o braço da resistência “se mantém comprometido com sua demanda e proposta inicial de cessar-fogo permanente.

Hamdan também disse que o Hamás reivindica a soltura de milhares de prisioneiros detidos por questões ligadas ao confronto palestino com a ocupação israelense, incluindo os condenados à prisão perpétua.

LIBERDADE PARA MARWAN BARGHOUTI

Incluiu neste caso, e com prioridade, a libertação de Marwan Barghouti a quem o tribunal da ocupação condenou a cinco prisões perpétuas. Ao tempo de sua prisão, Marwan era presidente do Fatah na Cisjordânia, esteve no comando de ações de levante durante a primeira e segunda Intifadas (o levante palestino) e é considerado por muitos como o Mandela palestino. A sua popularidade e respeito adquirido ao longo de sua determinação e firmeza o fazem um dirigente capaz de unificar as forças palestinas e levar uma discussão política com as forças israelenses comprometidas com a paz.

Hamdan também afirmou que a total retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza – assim como declarou Ismail Hanniyeh, é questão fundamental para o avanço do acordo com Israel.

O príncipe saudita Mohammed bin Salman, em encontro com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Riad na segunda-feira, destacou que a Arábia Saudita não vai estabelecer ligações formais com Israel até quando o país reconhecer um Estado da Palestino independente e cessar sua agressão contra Gaza.

O ministério do Exterior saudita expediu um comunicado formalizando que “não haverá relações diplomáticas com Israel a menos que um Estado da Palestina seja reconhecido nas fronteiras de 1967 com Jerusalém Oriental como sua capital e que a agressão sobre a Faixa de Gaza pare e todas as forças de ocupação se retirem da Faixa de Gaza”.

RECONHECER O ESTADO DA PALESTINA

Também “reitera sua conclamação aos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU a acelerarem o reconhecimento do Estado da Palestina, pois isso ajudará a garantir que uma paz abrangente e justa seja alcançada para todos”.

O termo fronteiras de 1967, significa que Israel deve se retirar dos territórios que ocupa ou cerca, que compõem a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas do Golã (sírias) e as nascentes do rio Litani (sul do Líbano).

O premiê israelense, Bibi Netanyahu recusou a proposta e deixou clara sua intenção de ocupar Gaza e a Cisjordânia, em suma, jogando suas tropas além das fronteiras de 1967, quer dizer por toda a Palestina, ao declarar que trabalha “o completo controle de segurança de toda a área a oeste do rio Jordão”.

A proposta do Hamás inclui um processo em três etapas: um cessar-fogo de 135 dias, que culminaria com a cessação das hostilidades e a retirada das forças israelenses.

A primeira fase teria a soltura dos reféns israelenses e a liberação por Israel de 1.500 palestinos que amargam prisões israelenses. Na fase seguinte o início da reconstrução de Gaza devastada por Israel e a troca dos corpos dos mortos dos dois lados.

Na proposta do Hamás, já após os primeiros 45 dias de trégua, se firmaria um acordo de fim permanente do conflito e se daria o incremento no aumento do suprimento de alimentos, medicamentos e outras formas de apoio aos 2,3 milhões de palestinos de Gaza, grande parte deslocados sob bombardeio israelense.

O ‘plano’ israelense mantém a condição para a continuidade da agressão aos palestinos, prevendo a troca de presos por reféns e apenas uma trégua de seis semanas, sem especificar se a retomada da agressão ocorreria após esse prazo. Uma agressão que os israelenses querem prosseguir se formos nos atentar para as palavras de Netanyahu.

Uma agressão que já assassinou 27.800 palestinos em Gaza, feriu 67.000 enquanto a sanha genocida se estende à Cisjordânia e matou 386, deixando 4.400 feridos. Mais de 60% das residências foram danificadas e 85% dos residentes em Gaza foram deslocados à força (dados do boletim da embaixada da Palestina no Uruguai deste 8 de fevereiro).  

O jornal Guardian, cita um elemento de governo israelense, disse que a proposta do Hamás, era “um não começo”.  

Em todas as suas aparições públicas, Netanyahu se nega a chegar a um acordo de paz, rejeitando as propostas do Hamás, mediadas pelo Egito e pelo Qatar, afirmando que vai prolongar a guerra “por meses”, até o que chama de “vitória total”.

 Quando um repórter perguntou o que ele entendia por “vitória final”, respondeu: “é como quebrar um vidro em pequenos pedaços, depois continuar esmagando-o em pedaços ainda menores e depois continuar batendo neles”.

Os parentes dos reféns israelenses têm se manifestado contra a negação de Netanyahu ao acordo dizendo que “o tempo para se ter os israelenses de volta está se esgotando”.

Em seu artigo publicado nesta quinta-feira(8), intitulado Netanyahu e seu esquadrão dos que se recusam ao cessar-fogo, Uri Misgav afirma que têm sangue de reféns israelenses em suas mãos”. Misgav conclui:

“Netanyahu e seus apoiadores atuam para usar o sacrifício dos reféns no altar ‘de não ao acordo parcial’ e na consigna de ‘não vamos parar o confronto até a vitória total’.

Fonte: Papiro