Ministra prometeu “receber cada pessoa com fome” mas não cumpriu a palavra | Foto: NA

As milhares de pessoas que enfrentaram o forte calor de Buenos Aires e foram até o Ministério do Capital Humano da Argentina em busca de comida, segunda-feira (5), não só encontraram as portas fechadas como uma enorme quantidade de policiais com escudos, dispostos a repetir, com porretes e gases, o que fizeram contra as manifestações anteriores.

A “Fila contra a fome” ultrapassou as 20 quadras e chegou a cinco quilômetros, sempre cuidando para não obstaculizar as ruas da capital, o que possibilitaria ao governo de Javier Milei enquadrá-los no “protocolo anti-piquete”.

A diferença é que desta vez o ato havia sido chamado pela própria ministra Sandra Pettovello, que os convocou na semana passada dizendo que ouviria “um por um os que passam fome”. “Gente, vocês estão com fome? Venha um por um e eu anotarei sua identidade, seu nome, de onde você é, e você receberá ajuda individualmente”, continuou.

Mas não foi o que ocorreu. Indignada diante da multidão que procurou o auxílio governamental, Pettovello disse: “Não vou recebê-los porque não os convoquei”. E não estava lá, fazendo pouco caso da situação de emergência alimentar que enfrentam mais de 40% das famílias argentinas diante do caos inflacionário agravado pelas medidas de arrocho do governo fascista, a ministra acusou os líderes comunitários de “usar o povo”.

Na mesma linha, o porta-voz governamental Manuel Adorni buscou desmentir o que a própria Pettovello havia dito dias atrás afirmando que “a ministra não os receberá porque jamais os convocou”.

“Estamos fazendo fila pela fome para tornar visível e denunciar a situação de emergência alimentar que não ocorre apenas ao redor do Obelisco, mas é uma emergência em nível nacional”, sublinhou a secretária da União dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), Johanna Duarte, condenando a insensibilidade do governo.

Os moradores que chegaram de vários bairros da capital e da grande Buenos Aires afirmaram que recebem ajuda de refeitórios sociais e cozinhas comunitárias para as quais o ministério de Pettovello decidiu suspender a entrega de alimentos, pois acusava de servirem para pressioná-los a se mobilizarem e reivindicarem por direitos.

Na maior desfaçatez, a ministra substituiu o recurso destinado às organizações sociais e populares para fomentar armações no estilo da assinada na Fundação “Promessa Eterna”, com a ultraconservadora Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da Argentina (Aciera) para que “recebam ajuda direta e sem intermediários”. Apenas a Aciera terá 723 pontos de entrega para propagandear sua reconhecida pauta de alienação e retrocesso. Mais claro impossível.

Fonte: Papiro