Biden vence em primária com baixa participação na Carolina do Sul | Foto: Reprodução

Com uma participação de eleitores democratas na primária deste ano na Carolina do Sul caindo de 540 mil em 2020 para 131.000 agora – ou seja, três quartos menor -, Joe Biden alardeou vitória com 96% dos votos e todos os 55 delegados à convenção nacional. A bem da verdade, os outros coadjuvantes eram inexpressivos, o deputado Dean Phillips e a escritora Marianne Williamson, e Biden estava disputando era com ele mesmo, ou seja, com o desgaste que o acompanha diuturnamente.

Na eleição passada, foi o resultado na Carolina do Sul, em que um quarto do eleitorado é negro, que viabilizou a virada que levou Biden a se tornar o candidato presidencial democrata.

A mídia amiga registrou que a vitória de Biden no Estado “deu-lhe exatamente o visual que ele queria – e precisava – como o tiro de partida para uma maratona de campanha eleitoral geral”.

Em última instância, o que estava em disputa para Biden na Carolina do Sul era se o comparecimento do eleitorado negro seria à altura do obtido em 2020.

Uma preocupação que tem como base os desidratados índices de aprovação de Biden, a que se somam pesquisas como a recentemente divulgada, do New York Times e Sienna College, segundo a qual “em seis Estados decisivos, 71% dos eleitores negros devem apoiar Biden em 2024, uma queda acentuada em relação aos 92% em nível nacional que o ajudaram a chegar à Casa Branca nas últimas eleições”.

ÁGUA NO CHOPE

Jogando água no chope da comemoração de Biden na Carolina do Sul, uma nova pesquisa nacional da NBC News divulgada nesta segunda-feira (5) revelou que ele está cinco pontos percentuais atrás do ex-presidente Donald Trump.

O portal norte-americano Axios registrou, ainda, que essa mesma sondagem mostrou Trump com enorme vantagem sobre Biden em questões como segurança das fronteiras (35 pontos percentuais na frente); economia (23 pontos percentuais) e ‘ser competente e eficaz’ (16 pontos percentuais a mais).

“Em todas as medidas em relação a 2020, Biden diminuiu. Mais condenável, a crença de que Biden tem mais chances de estar à altura do cargo – o principal princípio da candidatura Biden – evaporou”, disse o pesquisador democrata Jeff Horwitt, que conduziu a pesquisa, à NBC.

ELEITORADO PRA CHAMAR DE SEU?

Essa questão – a de se os eleitores negros que foram parte fundamental da coalizão que ajudou Joe Biden a conquistar a Casa Branca em 2020 voltarão a cumprir esse papel – mereceu a atenção da BBC, que advertiu que no Estado sulista “muitos estão frustrados” com o presidente.

A BBC entrevistou eleitores negros em Winnsboro, uma pequena cidade de 3 mil habitantes a 40 minutos de carro da capital da Carolina do Sul, Colúmbia. “É o lugar que Nocola Hemphill chama de lar: ruas vazias, negócios abandonados e casas desocupadas. Desemprego. Desesperança”.

“AINDA ESPERANDO”

“Votei em Joe Biden em 2020, mas ainda estou esperando”, diz Hemphill, que é presidente-executiva da Câmara de Comércio das Mulheres Negras dos EUA. “Ainda estou esperando uma mudança tangível para o meu voto – para o meu povo.”

A BBC registra ainda que o descontentamento está abrindo espaço para Trump no eleitorado negro, votos que Biden “não pode se dar ao luxo de perder”.

Como registra a BBC, em 2022 “oito dos 10 principais condados do Estado com as taxas de pobreza mais altas eram de maioria negra – com média superior a 27%”.

Para o portal britânico, embora o Estado seja governado por republicanos, há uma sensação de que o presidente poderia ter feito mais. “Se Biden colocou dinheiro nas comunidades negras, eu não vejo”, disse Ronnie Bennett, coproprietária do Broughton Street Cafe no condado de Orangeburg.

Ela planeja votar em Joe Biden novamente, mas principalmente por obrigação. “Nossos antepassados lutaram pelo direito ao voto, por isso exercemos esse direito quer gostemos ou não de quem está concorrendo”, diz ela.

“DANDO DINHEIRO PARA A UCRÂNIA”

O café fica no centro histórico de Orangeburg, acrescenta a BBC: “calçadas desertas, janelas com tábuas e edifícios em ruínas tomam as ruas do centro da cidade, exceto por um pequeno número de novos empreendimentos como o de Bennett”.

Há uma barbearia na rua principal da cidade, um dos poucos estabelecimentos ali que não fechou permanentemente. Clarence Pauling, o dono do negócio, negro, tem uma resposta rápida para quem lhe pergunta o que ele pensa do presidente: “Nunca mais votarei em Biden.”

“Dando todo esse dinheiro para a Ucrânia. Temos pessoas aqui que precisam. Temos moradores de rua dormindo nos pontos de ônibus.”

Outros na barbearia “concordam e expressam frustração com o custo da gasolina e dos alimentos”.

DESENCANTO ENTRE JOVENS E ÁRABES

Há desencanto com Biden também entre os jovens, com o Real Clear Wire registrando que “há quatro anos, a Geração Z, ou os nascidos de 1997 a 2012, bateu o recorde de participação de jovens eleitores. Seu campeão? Joe Biden, então com 77 anos. Quatro anos depois, menos de 50% dos jovens de 18 a 29 anos planejam ‘definitivamente’ votar, e apenas 33% da faixa etária aprova o desempenho do presidente Biden no cargo.”

“A questão premente é por que uma geração majoritariamente liberal – apenas 21% dos adultos da geração Z são eleitores registrados do Partido Republicano – hesita em apoiar o atual presidente do Partido Democrata, especialmente quando sua opção alternativa é o profundamente controverso ex-presidente Donald Trump. A geração Z coloca uma pergunta em resposta: por que estaríamos ansiosos para participar de um sistema que não está funcionando para ou conosco?”

Também os eleitores de Biden de ascendência árabe estão indignados com o suporte de seu governo ao genocídio contra Gaza perpetrado pelo regime Netanyahu. Como observa a publicação, “uma massa crítica de jovens democratas rompeu com o governo Biden por seu financiamento da resposta militar do governo israelense ao ataque [do Hamas], que resultou na morte de aproximadamente 25.000 civis palestinos”.

Segundo o ditado popular, pobre do México, tão longe de Deus e tão perto dos EUA. Agora, já se pode dizer sobre os EUA: tão perto de Biden, o genocida, e de Trump, o xenófobo.

Fonte: Papiro