Agência belga reduzida a escombros pelas bombas de Israel em Gaza | Foto: Reprodução

Autoridades belgas expressaram indignação na quinta-feira (1º) depois que as forças israelenses bombardearam o prédio de escritórios da Agência Belga de Cooperação para o Desenvolvimento na Faixa de Gaza, um ataque que ocorreu depois que a Bélgica se recusou a se juntar aos EUA no corte do financiamento à agência de refugiados palestinos das Nações Unidas, a UNRWA.

“Os escritórios da Enabel, a agência belga de desenvolvimento em Gaza, foram bombardeados e destruídos”, escreveu Hadja Lahbib, ministra das Relações Exteriores da Bélgica, nas redes sociais. “Atacar edifícios civis é inaceitável.”

Lahbib e Caroline Gennez, ministra da Cooperação para o Desenvolvimento e Política Urbana da Bélgica, publicaram fotos do prédio destruído e exigiram uma reunião com o embaixador enviado de Israel ao país para discutir o ataque.

“Estamos todos chocados”, disse Jean Van Wetter, que dirige a agência belga de cooperação. “Como uma agência governamental que trabalha para o bem comum em um quadro do Direito Internacional Humanitário”, acrescentou, “não podemos aceitar isso”.

Acredita-se que nenhum dos funcionários da agência estava presente quando as forças israelenses atacaram o prédio, já que a Bélgica retirou funcionários da Enabel e suas famílias do território há duas semanas.

Uma análise de dados de satélite divulgada no início desta semana mostrou que mais da metade dos edifícios de Gaza foram danificados ou destruídos pelo bombardeio apoiado pelos EUA de Israel ao enclave palestino – uma das campanhas de bombardeio mais devastadoras da história moderna.

O momento do ataque ao edifício de escritórios belga chamou a atenção, com analistas apontando para o fato de que a Bélgica é um dos poucos países ocidentais – ao lado da Noruega, Espanha e Irlanda – que não suspenderam a ajuda à UNRWA diante da alegação de Israel de que uma dúzia de funcionários da agência [entre 13 mil] teria participado do ataque de 7 de outubro.

“A Bélgica é um dos países ocidentais que se recusou a cortar o financiamento à UNRWA. Então, Israel acabou de bombardear o escritório da Agência Belga de Cooperação para o Desenvolvimento em Gaza”, postou nas redes sociais Trita Parsi, vice-presidente executiva do Instituto Quincy para o Estado Responsável. “Isso é um resultado direto da impunidade que Washington proporcionou a Israel.”

15 países acompanharam os EUA na chantagem – sobre os palestinos e a ONU – do corte do financiamento da agência da qual a imensa maioria de Gaza depende, no momento em que se depara com uma fome catastrófica, depois de quatro meses de punição coletiva por Israel, que cortou a água, comida, remédios, eletricidade e combustível, deslocamento de 90% de seus lares e ataques que não poupam ninguém, de escolas da ONU a mesquitas.

Por sua vez, o primeiro-ministro israelense deixou claro que o objetivo é fechar a agência da ONU de assistência aos palestinos, que foi criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, em resposta à expulsão dos palestinos de seus lares na “Nakba”.

Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, disse na quinta-feira que a agência “provavelmente será forçada a encerrar” suas operações em Gaza e em toda a região até o final deste mês se o financiamento não for restaurado.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou sua decisão de suspender o financiamento da UNRWA na sexta-feira passada, poucas horas depois que a Corte Internacional de Justiça decidiu que o caso de genocídio da África do Sul contra Israel era plausível e ordenou que o governo israelense garantisse o fluxo de assistência humanitária para Gaza.

Como destacou o portal Common Dreams, questionado sobre o momento da decisão dos EUA de suspender o financiamento da UNRWA, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse durante uma coletiva de imprensa na quinta-feira que “não havia preocupação” interna de que o anúncio fosse visto como uma repreensão à decisão preliminar da CIJ.

“RAZOAVELMENTE OTIMISTA”

O ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, cujo país está entre os que se recusaram a suspender a ajuda à UNRWA, disse na quinta-feira que está “razoavelmente otimista” de que pelo menos alguns dos países que cortaram o financiamento reverterão o curso em um futuro próximo.

Eide disse no início desta semana que tem “discutido a questão do financiamento com outros doadores” e pediu que “outros países doadores reflitam sobre as consequências mais amplas de cortar seu financiamento para a UNRWA”

“A UNWRA é uma tábua de salvação vital para 1,5 milhão de refugiados em Gaza”, acrescentou. “Agora, mais do que nunca, a agência precisa de apoio internacional.”

Fonte: Papiro