Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

A Polícia Federal encontrou, durante as investigações dos últimos dias, um relatório elaborado por bolsonaristas que atuavam dentro da Abin descrevendo caminhos para associar os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, bem como deputados federais, à organização criminosa de São Paulo, PCC (Primeiro Comando da Capital).

Novas operações da Polícia Federal foram feitas nesta sexta-feira (20). São 25 mandados de busca e apreensão para investigar rastreamentos irregulares de celulares feitos pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo Jair Bolsonaro. Um dos endereços investigados é o do próprio órgão, que fica em Brasília.

Dois servidores foram presos preventivamente. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, também determinou o afastamento de Paulo Maurício Fortunato, secretário de Planejamento e Gestão da agência, e de outros quatro servidores.

O relatório com a “missão” estava impresso dentro de uma pasta junto de várias outras “missões” encomendadas à Abin durante a gestão de Alexandre Ramagem (PL-RJ), que chefiou a Agência por indicação de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022.

A tarefa encomendada por Ramagem era a Operação ‘Portaria 157’, que buscava obter informações sobre a ONG Anjos da Liberdade e a sua suposta ligação com o PCC. Depois insinuaria que Mores tinha ligação com a ONG. De acordo com a PF, o arquivo expõe “ação deliberada de desvirtuamento institucional da operação de inteligência em comento”.

A Procuradoria-Geral da República (PGR), que recebeu o material da investigação, afirmou que houve distorção do órgão para fins políticos. “O arquivo ‘Prévia Nini.docx’ mostra a distorção, para fins políticos, da providência, indicando a pretensão última de relacionar a advogada Nicole Fabre e os ministros do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte”, destaca a PGR.

A PF investiga também o uso, pelos espiões de Bolsonaro, infiltrados na Abin, de instrumentos do órgão para beneficiar o ex-presidente a ele próprio e seus familiares. É o que aponta decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

De acordo com a decisão do ministro do STF, que autoriza a operação da Polícia Federal em Ramagem e policiais federais envolvidos no esquema, o objetivo era monitorar alvos de interesse de Bolsonaro, do filho dele, Jair Renan, e outras pessoas. Renan foi alvo de uma investigação policial por suspeita de tráfico de influência.

Segundo a PF, cerca de 30 mil é o número aproximado de vezes que o software de espionagem de geolocalização foi utilizado durante a gestão de Ramagem à frente do órgão. Parlamentares, jornalistas, líderes políticos, entre eles o ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana – espionado por um drone da Abin – foram bisbilhotados pelos arapongas de Bolsonaro e Ramagem.

A Polícia Federal ainda aponta que a alta gestão da Abin, que inclui Alexandre Ramagem, interferiu nas apurações disciplinares para que o uso político da Agência não fosse divulgado. Um celular e um notebook foram encontrados no apartamento de Ramagem dois anos depois dele ter deixado a direção do órgão.

O First Mile, instrumento israelense de espionagem adquirido pela Abin, tinha capacidade de monitorar até 10 mil pessoas por ano, sem autorização judicial – bastava digitar um número telefônico no programa e acompanhar a localização em um mapa em tempo real a partir da conexão de rede do aparelho.

A PF explica que um software era usado para monitorar, ilegalmente, a localização do celular dos alvos. A espionagem ocorria sem autorização da Justiça e sem que o alvo soubesse que estava sendo vigiado. “A investigação apura a utilização do sistema de inteligência First Mile pela ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) no monitoramento de dispositivos móveis, sem a necessidade de interferência e/ou ciência das operadoras de telefonia e sem a necessária autorização judicial”.

Segundo informado pela Polícia Federal, o referido sistema, fornecido pela empresa Cognyte Brasil S.A., é capaz de identificar a Estação Rádio Base (ERB), indicando a localização de qualquer celular monitorado”, destaca um trecho do relatório da investigação.

O responsável pelo relatório que tentou ligar Alexandre de Moraes ao PCC, o advogado Ricardo Wright Minussi Macedo é funcionário comissionado no gabinete do senador Alan Rick (União Brasil-AC), apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Fonte: Página 8