Otan ensaia nova provocação com tropas nas fronteiras russas | Foto: Otan

A escala das manobras Steadfast Defender 2024 da Otan, com 90 mil militares de 31 países, as maiores das últimas décadas, indica o retorno final da aliança imperial aos métodos da Guerra Fria, advertiu o Ministério das Relações Externas da Rússia, que também sublinhou que tais provocações não intimidam Moscou, que tem todos os recursos para garantir sua segurança e defesa.

“Estes exercícios são outro elemento da guerra híbrida desencadeada pelo Ocidente contra a Rússia. Um exercício desta envergadura – 90 mil efetivos e com a participação de 31 países – marca o regresso final e irrevogável da Otan aos esquemas da Guerra Fria, quando o processo de planejamento militar, os recursos e as infra-estruturas estão orientados para o confronto com a Rússia”, disse o vice-chanceler Alexander Grushko em entrevista à RIA Novosti.

“Quaisquer eventos desta escala aumentam significativamente o risco de incidentes militares e desestabilizam ainda mais a situação de segurança”, assinalou Grushko. Mas – observou – os interesses da segurança europeia hoje pouco preocupam os que estão no topo da Otan: o principal para eles é manter este instrumento de influência americana à tona na luta já perdida para manter a hegemonia ocidental no mundo”.

“GUERRA FRIA 2.0”

À RT, o professor da Academia Diplomática do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Vladimir Vinokurov, chamou a atual política da Otan de “Guerra Fria 2.0”.

 “Concordo com a avaliação do vice-ministro Grushko. O próximo exercício é o maior desde a Guerra Fria. As ações da Otan mostram que já estamos numa era que pode ser chamada de Guerra Fria 2.0”, afirma o analista. 

Na quinta-feira passada, em uma conferência de imprensa em Bruxelas, o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Aliadas da Otan na Europa, o general norte-americano Christopher Cavoli, anunciou que “o exercício Steadfast Defender 2024 terá início na próxima semana e durará até ao fim de maio.” Ele acrescentou que durante o STDE24 será dada especial atenção à transferência de tropas norte-americanas dos EUA para a União Europeia.

“A aliança demonstrará a sua capacidade de fortalecer os territórios euro-atlânticos através da transferência transatlântica de forças da América do Norte. Tal aumento ocorrerá durante uma simulação de um cenário de conflito crescente com um inimigo de força aproximadamente igual”, disse Cavoli. Textos da Otan também registraram tais manobras “enfatizam a importância das capacidades e do envio de forças em toda a Europa”.

Segundo a Reuters, citando dados da Otan, os exercícios envolverão mais de 50 navios, incluindo porta-aviões, pelo menos 80 caças, helicópteros e drones, além de 1.100 veículos de combate, incluindo 133 tanques e 533 veículos de infantaria.

“O Steadfast Defender 2024 será uma demonstração clara da nossa unidade, força e determinação para proteger uns aos outros, os nossos valores e a ordem internacional baseada em regras”, resumiu Cavoli em Bruxelas.

Será a maior manobra da Otan desde 1988, quando a aliança realizou o Exercício Reforger, envolvendo 125 mil soldados. No pós-Guerra Fria, o maior exercício até recentemente fora o Trident Juncture em 2018, com 50 mil militares.

Para Alexey Podberezkin, diretor do Centro de Estudos Político-Militares, por mais que os objetivos sejam encobertos com diferentes formulações, “todos entendem que os exercícios envolverão a prática de ações contra a Rússia”.

 “O principal é que todos os grupos de aviação, que são a principal força de ataque da OTAN, estejam envolvidos neles. Estes exercícios permitirão a transferência de um grande número de unidades militares para as fronteiras da Rússia, a fim de continuar estes exercícios, por exemplo, nos Estados Bálticos”.

“PSICOSE BELICISTA”

Na entrevista à RIA Novosti, o vice-chanceler russo Grushko também chamou a atenção para o fato de os preparativos para os exercícios estão sendo realizados no contexto de uma “situação artificialmente aquecida de psicose militar” e “apelos à preparação” para uma possível guerra com a Rússia.

“O objetivo é claro: demonizar a Rússia, intimidar o cidadão comum, para justificar o aumento desenfreado dos gastos militares e a política completamente falhada de apoio ao regime de Kiev com o objetivo de infligir uma derrota estratégica à Rússia. E, ao mesmo tempo, obrigar os europeus a aderirem ainda mais energicamente à corrida armamentista, para deleite do complexo militar-industrial americano”, enfatizou o diplomata.

A RT ressaltou que, vários altos funcionários europeus admitiram de fato a possibilidade de uma guerra eclodir na Europa. Em particular, o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Suecas, Mikael Büden, disse isso em 8 de janeiro. Ponto de vista também compartilhado pelo ministro da Defesa, Karl-Oskar Bulin. O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, fez uma declaração semelhante em outubro passado.

Em suma, as elites ocidentais estão deliberadamente atiçando a histeria de guerra nos países europeus. O que está sendo feito, apontou Alexey Podberezkin, para “provocar o máximo de tensão na sociedade”.

EFEITO COLATERAL “POSITIVO”

Como mostrado na entrevista do especialista austríaco, Gerhard Mangott, ao Focus Online em que ele disse que um provável resultado do Steadfast Defender 2024 será causar medo entre a população da Europa de um “ataque de Moscou”, o que considerou “positivo”.

“A vantagem de tais exercícios pode ser que a população da Alemanha e de outros países europeus comece a temer uma invasão da Rússia, o que levará à conclusão: ‘Então é melhor permitirmos que a Ucrânia lute contra os russos e a apoiarmos tanto quanto possível para que os ucranianos derrotem os russos.” O que considerou um possível “efeito colateral das manobras”.

Konstantin Blokhin, pesquisador do Centro de Estudos de Segurança da Academia Russa de Ciências, em conversa com RT, observou que o objetivo final de tal política é tentar convencer os residentes comuns da UE da necessidade de prosseguir com a russofobia.

“Eles precisam de um mito viável sobre a ‘ameaça russa’, porque se não há ameaça russa, então porque desembolsar dinheiro para apoiar a Ucrânia? Portanto, o Ocidente precisa de manter uma situação tensa para justificar mais gastos militares e pressão econômica sobre a Rússia”, ele concluiu.

Registre-se que a pressão popular contra malbaratar bilhões no buraco sem fundo da Ucrânia vem crescendo na Europa e até nos Estados Unidos, onde o governo Biden vem falhando em conseguir um cheque em branco no Congresso. E, claro, há a intenção de, ao mover 90 mil soldados para as fronteiras russas, dar um alento às tropas de Kiev, cuja “contraofensiva” no ano passado se tornou um indisfarçável fiasco e, para os marioneteiros de Washington e Bruxelas, um pesadelo.

Fonte: Papiro