Guterres, secretário-geral da ONU, exige fim ao massacre em Gaza | Foto: Luis Tato/AFP

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que “a rejeição da solução de dois Estados para israelenses e palestinos e a negação do direito do povo palestino ao seu próprio Estado são inaceitáveis”.

A declaração se segue à acintosa provocação feita pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por um Israel “do rio ao mar”, contrária a todas as resoluções da ONU e às leis internacionais.

O direito do povo palestino a um Estado soberano “deve ser reconhecido por todos”, sublinhou Guterres, à margem da 19ª cúpula do Movimento dos Não-Alinhados em Kampala, Uganda,

Guterres também condenou o morticínio perpetrado por Israel em Gaza: “As operações militares de Israel espalharam destruição em massa e mataram civis em uma escala sem precedentes durante meu tempo como secretário-geral”, disse Guterres, no momento em que as autoridades médicas de Gaza computaram 25 mil palestinos mortos e mais de 62 mil feridos, na maioria, crianças e mulheres.

“Isso é de partir o coração e totalmente inaceitável”, acrescentou Guterres, chamando a fazer “tudo o que pudermos para evitar que o conflito se inflame em toda a região.”

Guterres disse ainda que negar aos palestinos o direito de ter um Estado “prolongaria indefinidamente um conflito que se tornou uma séria ameaça à paz e à segurança mundial”.

O regime israelense foi acusado pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça da ONU em Haia de “intenção genocida” e aguarda-se para breve uma decisão sobre liminar para deter a agressão em Gaza e proteger a população palestina.

Netanyahu, o chefe do genocídio em Gaza, pelo X, antigo Twitter, reiterou que “não comprometerei o controle total da segurança israelense sobre toda a área a oeste da Jordânia – e isto é contrário a um Estado palestino”.

 O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, reagiu apontando que não pode haver “segurança e estabilidade” no Oriente Médio sem a criação de um Estado palestino.

“Sem o estabelecimento de um Estado palestino independente com Jerusalém Oriental como capital, [respeitando] as fronteiras de 1967, não haverá segurança e estabilidade na região”, registrou a agência palestina Wafa, citando seu porta-voz, Nabil Abu Rdeineh.

Também o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, disse que não pode haver normalização dos laços com Israel sem que haja resolução da questão palestina.

“Essa é a única maneira de termos benefício. Então, sim, porque nós precisamos de estabilidade e a estabilidade só virá através da resolução da questão palestina”, disse ele em entrevista à CNN que foi ao ar no domingo, ao ser questionado se não poderia haver uma normalização das relações sem um caminho para um Estado Palestino crível e irreversível.

O chefe da diplomacia saudita condenou os ataques de Israel a Gaza, dizendo que Riad está focada em garantir que o derramamento de sangue termine. “O que estamos vendo é que os israelenses estão esmagando Gaza, a população civil de Gaza. Isso é completamente inaceitável e tem que parar”, afirmou Bin Farhan.

Até mesmo Washington e Londres, ao menos formalmente, seguem se dizendo comprometidos com “a solução dos Dois Estados”. O porta-voz do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak chamou de “decepcionante” a declaração de Netanyahu.

“A posição do Reino Unido continua sendo [que] uma solução de dois Estados, com um Estado palestino viável e soberano vivendo ao lado de um Israel seguro e protegido, é o melhor caminho para uma paz duradoura”, disse o porta-voz.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse que é preciso “começar a falar mais concretamente sobre o processo de Solução de Dois Estados. Porque “paz” – poderia ser muitas pazes diferentes, de que tipo de paz você está falando? Então, vamos falar sobre o que queremos fazer, e o que queremos fazer é construir uma solução de dois Estados. A forma de nomeá-lo é importante. Portanto, a partir de agora não falarei sobre o processo de paz, mas falarei sobre o processo de Solução de Dois Estados”, ele disse aos jornalistas.

No Cairo, a Liga Árabe apelou ao Conselho de Segurança da ONU para emitir uma resolução “vinculativa” para deter a agressão israelense na Faixa de Gaza, registrou a agência Anadolu.

A resolução da Liga Árabe pediu ao Conselho de Segurança da ONU “que assuma suas responsabilidades de manter a paz e a segurança internacionais e que tome uma resolução vinculativa para parar os crimes israelenses generalizados e sistemáticos contra o povo palestino”.

Em Israel, familiares dos reféns invadiram o Parlamento (Knesset), gritando para os deputados: “vocês estão sentados aqui, e os reféns morrendo em Gaza”. Para eles, não está sendo dado prioridade a chegar a um acordo para a libertação dos reféns.

Uma “vitória” – denunciaram – significará que os reféns voltarão em caixões para Israel. Após intervenção da polícia, os familiares voltaram à vigília permanente em tendas armadas na rua.

Fonte: Papiro