Trump prometeu aos seus apoiadores política de deportação de imigrantes em massa | Foto: AFP

O ex-presidente e pré-candidato presidencial Donald Trump venceu, como era esperado, a primeira primária republicana do atual ciclo eleitoral nos EUA, em Iowa, aproximando o país de viver, em 2024, a revanche da gerontocracia empoderada.

Apesar da mídia ter feito enorme estardalhaço sobre sua impressionante vitória “por 51%” a 21% do governador da Florida Ron De Santis e a 19% da ex-embaixadora na ONU, Nikki Haley, na verdade a primária de Iowa teve a maior taxa de abstenção desde 1972 e ocorreu sob forte nevasca na segunda-feira (15).

Com o país “assolado por uma rajada ártica” – na descrição da CNN -, as temperaturas à noite em Iowa, quando da realização das primárias, chegaram a menos 37 graus celsius, “patamar que representa risco à vida”.

Dado o domínio que Trump tem sobre o Partido Republicano em sua composição atual, DeSantis e Halley, no máximo, são coadjuvantes que estão acumulando força para uma próxima eleição, a menos que algum dos quatro indiciamentos a que Trump está tendo de responder eventualmente o impeçam de ter seu nome na cédula eleitoral. Uma hipótese muito pouco viável.

“Obrigado Iowa, eu amo todos vocês!! Donald J. Trump”, postou o ex-presidente no Truth Social após as 21h (horário de Brasília).

Tendo obtido um distante quarto lugar, o empresário de biotecnologia Vivek Ramaswamy anunciou sua saída da disputa e apoio ao ex-presidente. Asa Hutchinson também desistiu. Concorriam ainda em Iowa o ex-governador Chris Christie e Ryan Binkley. A próxima prévia será em New Hampshire, em 23 de janeiro.

TRUMP PROMETE DEPORTAÇÃO EM MASSA

Em seu primeiro discurso após vencer em Iowa, Trump chamou os imigrantes de ‘terroristas’, anunciou que vai fechar a fronteira e prometeu “a maior deportação” em décadas.

Sem citar números nem apontar evidências, Trump afirmou que “muitos terroristas estão vindo” e que “hospitais psiquiátricos estão sendo esvaziados” e os pacientes estão migrando para os Estados Unidos.

“Nós vamos fechar a fronteira. Porque neste momento temos uma invasão, de milhões e milhões de pessoas vindo para o nosso país. E eles estão vindo de prisões, de países que a maioria das pessoas nem nunca ouviu falar, de ‘sanatórios mentais’, de hospitais psiquiátricos que estão sendo esvaziados. E são terroristas. Muitos terroristas estão vindo”, disse o ex-presidente, fazendo dos imigrantes o bode expiatório dos muitos problemas decorrentes da decadência dos EUA.

“SLEEPY JOE”

No discurso, Trump chamou Biden – ou “Sleepy Joe’ [Joe Sonolento] – de “o pior presidente que já tivemos na história do nosso país. Ele está destruindo nosso país”. E afirmou que, “ao redor do mundo, as pessoas estão rindo dos Estados Unidos”.

Além de condenar o “desastre econômico” sob Biden, Trump também tem dito que o atual presidente ameaça levar o planeta à Terceira Guerra Mundial e que, se estivesse na Casa Branca, acabaria facilmente com a guerra na Ucrânia.

Na verdade, o principal cabo eleitoral de Trump é o próprio Biden e suas decisões de política interna e externa. A ponto de, entre os jovens de 18 a 29 anos, onde venceu em 2020, estar seis pontos percentuais abaixo de Trump.

O que está afastando os jovens de Bíden é seu apoio com armas, dinheiro e proteção diplomática ao genocídio cometido por Israel em Gaza, que já matou 1% da população palestina, a maior parte crianças e mulheres, e expulsou de suas casas 85%.

INDICIADO QUATRO VEZES

Já Trump foi indiciado criminalmente quatro vezes e terá uma série de julgamentos pela frente em 2024, enquanto concorre novamente à Casa Branca. Ele foi processado em Nova York e indiciado na Geórgia, Flórida, Manhattan e Washington, enquanto promotores federais e estaduais de outras regiões abriram uma série de investigações.

Ações judiciais em vários Estados também tentam tornar Trump inelegível, argumentando que ele se envolveu em uma tentativa de golpe durante a invasão do Capitólio americano há três anos.

No entanto, como disse à BBC o pesquisador veterano Frank Lance, Trump manipula isso para se promover. “Ele conseguiu argumentar que é a vítima, que está sendo perseguido e não apenas processado, e que isso se trata de uma caça às bruxas”, diz.

“Cada vez que ele era indiciado, seus números (nas pesquisas) subiam. Cada vez que o tiravam das urnas — no Maine e no Colorado — seus números subiam. Nunca vimos ninguém na América como ele.”

Aliás, Trump vive se superando: no final do ano passado, ele disse que os imigrantes estavam “envenenando o sangue dos norte-americanos”. Declaração que mesmo Biden foi capaz de perceber como “retórica da Alemanha nazista”.

FAVORECIMENTO

Com a mídia declarando a vitória de Trump em Iowa pouco mais de meia hora depois do início, com menos de 1% dos votos, houve quem reclamasse do favorecimento do ex-presidente.

“Absolutamente ultrajante que a mídia participe da interferência eleitoral proclamando [o resultado da] disputa antes mesmo que dezenas de milhares de iowanenses tenham a chance de votar. A mídia está em pool com Trump, e este é o exemplo mais flagrante até agora”, postou no X o diretor de comunicações da campanha de DeSantis, Andrew Romeo.

 “Este é o mais cedo que me lembro de chamar uma coisa dessas”, disse Jake Tapper, da CNN, momentos depois de a CNN projetar uma vitória para o presidente Trump.

Fonte: Papiro