Médicos residentes protestam contra reajustes abaixo da inflação | Foto: AFP

Os médicos residentes da Inglaterra, que representam quase a metade da força de trabalho do Sistema Nacional de Saúde (NHS), iniciaram na manhã desta quarta-feira (3) a mais longa greve da história do sistema de saúde britânico, com projeção de durar até a próxima terça-feira (9).

Coordenados pela Associação Médica Britânica (BMA, em inglês), o coletivo, que reúne desde recém-licenciados até profissionais veteranos, já havia cumprido um total de 28 dias de paralisação no ano passado. Diante do descaso, precisou voltar a cruzar os braços depois que o governo apresentou uma proposta indecente de reajuste, interrompendo as negociações em dezembro.

O percentual oferecido aos cerca de 75 mil profissionais – metade da força de trabalho concentrada no território mais populoso do país – foi de apenas 8,8%, contra os 26% reivindicados pela categoria para compensar a perda do poder de compra dos últimos 15 anos.

“Os médicos teriam gostado de começar o ano novo com a esperança de um reajuste salarial que permitisse um serviço de saúde com uma profissão mais valorizada”, afirmaram os dirigentes da BMA, Robert Laurenson e Vivek Trivedi, alertando que a dimensão do arrocho está fazendo com que muitos profissionais estejam largando ou ameaçando largar o Sistema Nacional de Saúde.

“Passamos o período de festas aguardando uma resposta razoável, esperávamos receber a ‘oferta final’ que o Ministério de Saúde havia prometido. Lamentavelmente, precisamos voltar à greve”, assinalaram os dois líderes.

Médico especialista em acidentes e urgências de Londres, Callum Parr informou que se somou ao conjunto da categoria “porque merecemos algo melhor como profissionais”. Fortalecendo um piquete em frente ao hospital St Thomas da capital britânica, o médico de 25 anos disse que tinha uma dívida acumulada de 120 mil libras (R$ 740 mil) depois de seis anos na universidade e que, mesmo diante destes valores surpreendentes, se via frente a custos crescentes como o vertiginoso aumento dos aluguéis na cidade. “O nosso trabalho é duro, sabíamos que seria difícil. Fizemos faculdade de medicina, o que também é difícil, e queremos ajudar os pacientes, mas também é preciso ter condições de pagar as contas”, acrescentou.

Segundo Shivani Ganesh, estudante de medicina de 23 anos, diante da tensão, muitos profissionais estão pensando em migrar. “Somos pessoas muito inteligentes e altamente capacitadas, e outras países valorizam essas competências e nos pagam adequadamente”, ressaltou.

A paralisação está impactando principalmente as consultas agendadas, muitas das quais foram canceladas devido à concentração dos efetivos nas emergências. As estimativas são de que 200 mil consultas serão canceladas numa das semanas mais movimentadas do ano.

“Esta greve representa um desafio significativo num momento já difícil devido ao aumento das taxas de doenças respiratórias, como Covid e gripe, e doenças dos funcionários”, declarou o diretor médico do NHS da Inglaterra, Stephen Powis, reconhecendo que “este é um dos inícios de ano mais difíceis desde 1948”.

Os médicos residentes no País de Gales também anunciaram uma greve de 72 horas a partir de 15 de janeiro e os da Irlanda do Norte estão realizando assembleias para aderir à paralisação, o que deve tornar o movimento ainda mais amplo. Os únicos profissionais da categoria que já chegaram a um acordo foram os da Escócia, cujo governo é autônomo.

Em 2023, várias categorias entraram em greve no Reino Unido, incluindo enfermeiros, trabalhadores das ambulâncias, médicos especialistas, carteiros e ferroviários. Na área médica, as paralisações levaram ao cancelamento de mais de 1,2 milhões de consultas.

Fonte: Papiro