Desde Shaoshan, cidade natal de Mao, passando por Xangai e Pequim, os chineses festejaram os 130 anos do nascimento do Mao Tsetung | Foto: Divulgação

A China comemorou na terça-feira (26) o 130º aniversário do nascimento do fundador da República Popular da China, o presidente Mao Tsetung, com atos por todo o país, das grandes cidades como Pequim e Xangai à cidade natal de Mao, Shaoshan, na província de Hunan, no centro da China, bem como locais sagrados da revolução, como Jingganshan, na província de Jiangxi, no leste da China, e Yan’an, na província de Shaanxi, no noroeste da China, registrou o Global Times.

Xi Jinping, presidente chinês e secretário-geral do PCCh, em discurso no Grande Salão do Povo, no coração de Pequim, chamou a impulsionar a causa que o camarada Mao liderou e a avançar no rejuvenescimento da nação chinesa em todas as frentes. Essa causa, transmitida por Mao, é “responsabilidade histórica solene dos comunistas chineses de hoje”.

Antes do simpósio no Grande Salão do Povo, Xi e outros membros do partido e do Estado se reuniram no Memorial do Presidente Mao e o homenagearam.

“O camarada Mao Tsetung dedicou sua vida ao Partido e ao povo, e seu nobre espírito será para sempre lembrado pela posteridade”, afirmou Xi.

Ele acrescentou que Mao liderou o povo a abrir caminho para adaptar o marxismo ao contexto chinês, forjando o grande, glorioso e correto PCCh e fundando a Nova China com o povo sendo dono do país.

Mao é “um grande homem da geração que levou o povo chinês a mudar completamente seu próprio destino e a aparência do país”, disse Xi, apontando-o como “um grande internacionalista que fez contribuições significativas para a libertação das nações oprimidas do mundo e a causa do progresso humano”.

O ORIENTE É VERMELHO

Na cidade natal de Mao, a pequena Shaoshan, dezenas de milhares de pessoas, inclusive muitos jovens, vindas de todas as partes da China, dançaram, recitaram poemas e agitaram bandeiras na Praça Mao Tsetung à meia-noite, expressando seu carinho e respeito pelo dirigente que, ao fundar a nova China, declarou ao mundo que “o povo chinês se pôs de pé”.

Cantaram “O Oriente é vermelho”: “O Leste está vermelho, o Sol nasceu/ Mao Tsetung nasceu na China/ Ele trabalha pela felicidade das pessoas/Ele é uma estrela salvando o povo!”

“Eu costumava pensar que apenas as pessoas de meia-idade e a geração mais velha sentiam fortemente o presidente Mao. Só quando cheguei aqui é que percebi que há tantos jovens que respeitam e se lembram das histórias sobre o presidente Mao”, disse Li ao Global Times. Mesma percepção de Wang, de Shenzhen, de 65 anos, que relatou ir à cidade natal de Mao todos os anos na data, mas nunca viu tantos jovens como este ano.

“Desta vez, há realmente muitos jovens”, disse Wang. “Vejo as expectativas da nova era nesses jovens e estudantes.” Outra tradição da cidade no aniversário de Mao, os visitantes fizeram fila para receber uma tijela de macarrão, preparado por voluntários.

MAO VIRALIZA NAS REDES

No Sina Weibo, a plataforma de mídia social chinesa equivalente à X, as postagens sobre o 130º aniversário do nascimento de Mao alcançaram mais de 300 milhões de visualizações e milhões de comentários.

O reitor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin, Jin Canrong, disse ao Global Times que Mao foi “o pai da industrialização da China”. A era de Mao conseguiu a industrialização da China em apenas cerca de 30 anos, enquanto o Ocidente gastou cerca de 300 anos para fazer isso, ele acrescentou.

O GT registrou ainda que uma das principais razões pelas quais Mao é tão reverenciado atualmente é que, em um momento em que a China está sob crescentes pressões e hostilidade dos EUA e de alguns de seus aliados, o povo chinês admira sua coragem, sabedoria e determinação para resistir e combater a hegemonia e o imperialismo.

OBRA DE MAO É A CHINA MODERNA

Como registrou o HP em outra comemoração referente a Mao, sua obra “é a China moderna e a auto-estima de milhões de seres humanos”.

“Mao foi uma das maiores figuras da História da Humanidade. Esta afirmação parece, a alguém de bom senso – e de boa fé – óbvia, independente de concordar ou não com as ideias do revolucionário chinês.”

 “A razão é simples: Mao, nascido em um país humilhado e, para ser preciso, esquartejado por sucessivas invasões imperialistas, parasitado pelo feudalismo mais anacrônico e mergulhado em sangue pelo fascismo, foi o líder que levantou um terço da Humanidade, construindo um país independente, levando um país feudal, sob ocupação, até a liberdade e o socialismo.”

 “A obra de Mao é a China moderna e a autoestima de milhões de seres humanos – e não somente chineses, mas multidões que viram na Revolução Chinesa a demonstração de que era possível viver de outra maneira, livres da opressão.”

“Além de dirigente político e comandante militar como poucos houve até hoje, Mao foi o notável teórico, filósofo e poeta que engrandeceu o patrimônio cultural da espécie humana com suas grandes contribuições.”

A “CHINIFICAÇÃO” DA TEORIA REVOLUCIONÁRIA

Como um dos gigantes da humanidade, coube a Mao proceder à “chinificação” da teoria que se mostrara vitoriosa na Rússia, logrando apreender da história chinesa o papel chave das revoluções camponesas, a situação peculiar da China sob a intervenção das potências estrangeiras no ‘século de humilhação’ e a doutrina da Guerra Popular Prolongada, a diferenciação entre burguesia nacional e burguesia compradora, o protagonismo das massas populares, a formação do exército popular, a frente única antijaponesa e o caráter antifeudal e anti-imperialista da Revolução da Nova Democracia.   

E, claro, seu papel como comandante da Longa Marcha, a jornada épica que abriu as largas avenidas por onde a revolução chinesa iria passar e afirmou sua posição de líder do PCCh.

O RETRATO SOBRE O PORTÃO DE TIANANMEN

Numa célebre entrevista do então líder chinês Deng Xiaoping à jornalista italiana Oriana Fallaci, ele explicou porque o retrato do Presidente Mao, após todos os difíceis acontecimentos sob a Revolução Cultural, seria “para sempre” mantido sobre o portão de Tiananmen.

“Durante a maior parte de sua vida, o Presidente Mao fez coisas muito boas. Muitas vezes, ele salvou o Partido e o Estado de crises. Sem ele, o povo chinês teria, no mínimo, passado muito mais tempo apalpando no escuro. A maior contribuição do Presidente Mao foi aplicar os princípios do marxismo-leninismo à prática concreta da revolução chinesa, apontando o caminho para a vitória. Deve-se dizer que antes dos anos sessenta ou do final dos anos cinquenta, muitas de suas ideias nos trouxeram vitórias, e os princípios fundamentais que ele avançou eram bastante corretos. Ele aplicou criativamente o marxismo-leninismo a todos os aspectos da revolução chinesa e teve visões criativas sobre filosofia, ciência política, ciência militar, literatura e arte, e assim por diante. Infelizmente, no entardecer de sua vida, particularmente durante a “Revolução Cultural”, ele cometeu erros – e não foram erros pequenos – que trouxeram muitas desgraças ao nosso partido, ao nosso estado e ao nosso povo.”

“O Pensamento de Mao Tsetung não só nos levou à vitória na revolução do passado; ele é – e continuará a ser – uma posse preciosa do Partido Comunista Chinês e de nosso país. É por isso que manteremos para sempre o retrato do presidente Mao no portão de Tiananmen como um símbolo de nosso país e sempre o lembraremos como fundador de nosso partido e estado”, acrescentou. E concluiu: “Não faremos ao Presidente Mao o que Kruschev fez a Stalin”.

MAO E A “ESPADA DE STALIN”

Outro grande mérito de Mao foi sua recusa em se dobrar ao infame “informe do XX Congresso do PCUS” de Kruschev, que precedeu por quatro décadas a “perestroika”, Gorbachev e Yeltsin.

Em que Mao disse aos dirigentes soviéticos, como lembrou o colunista da RIA Novosti, Peter Akopov: “Discordamos de vocês e principalmente que no início do levantamento desta questão a escala dos méritos e erros de Stalin não foi devidamente determinada. É errado presumir que os erros e méritos de Stalin estão divididos ao meio, seja como for, Stalin ainda tem mais méritos do que erros. Em geral, em nossa opinião, Stalin tem aproximadamente 70% de méritos e 30% de erros. Talvez os historiadores farão um cálculo diferente dos méritos e erros de Stalin. Talvez falemos de dez por cento dos erros. É necessário fazer uma análise específica e dar uma avaliação abrangente.”

“Você abandonou completamente uma espada como Stalin, jogou fora esta espada. Como resultado, os inimigos a pegaram para nos matar com ela. Isso equivale a ‘depois de pegar uma pedra, jogá-la nos próprios pés’. O curso básico e a linha durante o período da liderança de Stalin estão corretos, e você não pode tratar seu camarada como um inimigo.”

E, como destacou Akopov, foi a aplicação da fórmula de Mao sobre a avaliação do período histórico de Stalin ao próprio Grande Timoneiro – o que foi feito por Deng Xiaoping -, setenta por cento de mérito e 30 por cento de erro, que permitiu ao PCCh não apenas manter o poder, mas também reformar a China, devolvendo-a à posição de potência global.

“O retrato de Mao está no yuan chinês e na praça principal do país (o seu mausoléu também está localizado lá), a lealdade às suas ideias está inscrita na constituição, o que não impede os líderes chineses de reformarem o seu país, a economia e a sociedade. E a China de cinco mil anos sabe-o muito bem, especialmente porque foi o revolucionário Mao quem, mais uma vez na história chinesa, uniu um país praticamente desintegrado”.

Fonte: Papiro