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O cantor e compositor Carlos Lyra, um dos principais nomes da Bossa Nova e parceiro de Vinicius de Moraes, morreu na madrugada deste sábado (16), no Rio de Janeiro, aos 90 anos. Desde a última quinta-feira (14), estava internado no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca.

O corpo do músico será velado no domingo (17), das 10h às 14h, no Memorial do Carmo, no Caju. A cerimônia será restrita a familiares e amigos.

Carlos deixa a esposa, Magda Botafogo, e a filha, Kay Lyra, fruto do casamento com a atriz e modelo norte-americana Katherine Lee Riddell, de quem se divorciou em 2004.

A esposa do artista, Magda Botafogo, informou que ele deu entrada na unidade de saúde com febre. No hospital, foi diagnosticado que o artista estava com uma bactéria. A causa da morte de Carlos Lyra não foi confirmada.

Na publicação do Instagram, familiares afirmaram que a morte de Carlos ocorreu de “forma inesperada”. “É com imensa tristeza que comunicamos a passagem do compositor Carlos Lyra, nessa madrugada, de forma inesperada. A todos, agradecemos o carinho.”

Autor de grandes sucessos como ‘Coisa mais linda’, ‘Minha namorada’, ‘Primavera’, ‘Sabe você’ e ‘Você e eu’, Lyra foi um dos melodistas mais importantes da música brasileira.

Sua primeira composição foi “Quando Chegares”, em 1954. Desde então, suas músicas foram gravadas por João Gilberto, Nara Leão, Sylvia Telles, Astrud Gilberto, Elis Regina, Billy Eckstine, Brigitte Bardot e outros.

Lyra despontou no cenário musical na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966) através da música “Menino”.

Além de Vinícius de Moraes, Lyra também teve como parceiros Tom Jobim (1927 – 1994) e Baden Powell (1937 – 2000).

CPC DA UNE

Lyra desempenhou um papel fundamental na difusão da cultura brasileira, foi um dos responsáveis por fundar o Centro Popular de Cultura, o CPC, da União Nacional dos Estudantes, em 1961.

Lyra encontrou na música um meio de expressão política antes e após o golpe de 1964, afastando-se, ao menos em parte de sua produção, do estilo tipicamente bossa nova, lírico e politicamente descompromissado, para dedicar-se a temas da realidade social brasileira. Ele compôs a trilha sonora da peça “A mais valia vai acabar, seu Edgar” (1960), do dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, encenada no teatro da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro pela primeira vez.

No início da década de 1960, Lyra buscava distinguir algumas de suas criações da estética tipicamente bossanovista, adotando um estilo que chamava de “sambalanço”. Com a expressão, ele queria “delinear, dentro do movimento [a bossa nova] aquele sentido nacionalista que procura elevar o nível da música popular brasileiro dentro de suas próprias fontes” – escreveu Nelson Lins e Barros, um de seus principais parceiros, na contracapa do disco “Depois do Carnaval – O Sambalanço de Carlos Lyra”, de 1963.

Foi fundamental para a formação do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1961.

Lyra, então diretor musical do CPC-UNE, desempenhou um papel crucial na articulação cultural e política desses grupos. A parceria entre Lyra e Vinicius de Moraes resultou no emblemático “Hino da UNE”. Mesmo após o golpe e a cassação da representação legal da UNE, em 1964, Lyra e o CPC uniram forças para a produção do show “Opinião”, em 1964, sob a direção de Augusto Boal, proporcionando uma resistência cultural histórica no Brasil.

Em 1968, exilou-se nos Estados Unidos, onde encontrou apoio no saxofonista Stan Getz. Sua música não deixou de ser uma voz ativa contra a ditadura, e em 1979, ele retornou ao Brasil para participar do Congresso da UNE em Salvador, regendo um coro de milhares de estudantes no “Hino da UNE”.

A carreira musical de Lyra continuou com lançamentos de álbuns, incluindo “Eu e Elas” (1972) e “Herói do Medo” (1974), este último censurado na íntegra. Em 2019, após mais de 25 anos sem gravar, ele retornou com “Além da Bossa”, evidenciando sua duradoura contribuição para a música e a resistência cultural brasileira.

Ao completar 90 anos, recebeu uma série de homenagens. Uma delas é o lançamento do álbum Afeto, que faz um passeio por todas as fases e estilos da obra do compositor. Os arranjos foram feitos por João Donato, Marcos Valle, Jaques Morelenbaum, Antônio Adolfo e Gilson Peranzzetta.

UNE LAMENTA PARTIDA

Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE), lamentou a partida de Carlos Lyra e destacou o papel do artista na criação do hino da entidade.

“Lyra e Vinícius de Moraes, parceiros de longa data, imortalizaram a força, a voz e o trabalho dos estudantes pelo Brasil. É dos dois gênios a composição do hino da UNE que documentou a mensagem de coragem da entidade em tempos em que artistas e estudantes perdiam a vida na luta pela democracia”, destacou a UNE.

“Maior melodista do Brasil deixou entranhado para sempre na UNE seu canto de esperança. O nosso muito obrigada em nome das gerações de estudantes brasileiros que ele inspirou e vai continuar inspirando”, ressaltou a entidade.

Fonte: Página 8