O novo premiê Tusk tem em comum com Jaroslaw Kaczynski o apoio ao golpe de 2014 na Ucrânia | Foto: Reuters

A direita dita civilizada voltou ao poder na Polônia, com o parlamento, o Semj, aprovando a nomeação para primeiro-ministro de Donald Tusk, da “Coalizão Cívica”, depois de oito anos do que se poderia descrever como um trumpismo à moda polaca, sob o partido “Lei e Justiça”, (PiS), encabeçado por Jaroslaw Kaczynski.

Oito anos caracterizados pelo reacionarismo, a ojeriza a imigrantes e, claro, a russofobia – além do oferecimento, a Washington, para ser o novo ferrabrás europeu a seu serviço, inclusive chegando a propor a criação, em solo polonês, de um “Forte Trump”.

Também pelos frequentes choques com a União Europeia, por se recusar a endossar políticas adotadas pelo bloco, a ponto de sofrer, em represália, o corte de verbas.

Entre esses, o empenho em submeter o judiciário ao controle do PiS e os ataques aos direitos das mulheres e das minorias.

Ex-primeiro-ministro (2007 a 2014) e ex-presidente do Conselho Europeu (2014 a 2019), Tusk foi eleito na segunda-feira (11) por 248 votos – eram necessários 225 – a 201, depois de o primeiro-ministro do PiS, Mateusz Morawiecki, ser destituído por voto de desconfiança.

Apesar do PiS ter sido o isoladamente o partido mais votado, com cerca de 35% dos votos, tornou-se minoritário diante da soma dos vários componentes da oposição, que conquistou a maioria.

O mandato do atual presidente do país, Andrzej Duda, que pode exercer vetos, vai até 2025. Ele foi eleito em 2015 com apoio do PiS.

A Coalizão Cívica inclui o partido liberal-conservador “Plataforma Cívica”, de Tusk; a “Iniciativa Polonesa” de centro-esquerda; o partido “Verde” e uma série de outras forças políticas menores.

O acordo de constituição da Coalizão Cívica foi assinado em 10 de novembro e, em 1 de dezembro, Tusk anunciou com confiança que em breve seria o primeiro-ministro.

Em paralelo à disponibilidade para se tornar o faz-tudo de Washington na Europa Oriental, o governo do PiS também resgatara antigas pendências com a Alemanha, a ponto de, no ano passado, ter exigido de Berlim que pagasse “indenização pelos danos da II Guerra”.

Sob Kaczynski, a Polônia também se tornou o principal ponto de apoio para a guerra da Otan por procuração contra a Rússia na Ucrânia.

A bem da verdade, não se deve subestimar o papel de Tusk, quando era primeiro-ministro polonês e, depois, como presidente do Conselho Europeu da União Europeia, para o golpe de 2014 em Kiev e, ainda, para a sabotagem dos acordos de Minsk.

Após a vitória de Tusk, o presidente do PiS, Kaczynski, teve um acesso de fúria e, quase cuspindo nele, chamou-o de “agente alemão”. O que levou um analista a considerar que o PiS não tem compostura sequer para perder.

Tusk prometeu consertar as relações da Polônia com a União Europeia – ou, como todo mundo entendeu, com Berlim.

Ele asseverou que, com a Polônia sob seu comando, a UE irá alocar os 60 bilhões de euros para Varsóvia, que Bruxelas havia congelado anteriormente devido à “reforma judicial” imposta pelo PiS.

“Vamos parar de fingir que os nossos aliados ocidentais estão de alguma forma a nos ameaçar. Este é um jogo arriscado, se não louco”, insistiu o novo primeiro-ministro.

“A partir de amanhã, seremos capazes de corrigir os erros para que todos, incluindo os mais fracos, se sintam em casa na Polônia”.

Em relação à Ucrânia, Tusk anunciou uma “interação dupla”, por um lado sendo o provedor até Kiev do apoio dos parceiros ocidentais, mas, ao mesmo tempo, sem fechar os olhos aos protestos dos agricultores e caminhoneiros poloneses contra a concorrência desleal vinda da Ucrânia.

“Encontraremos rapidamente uma boa solução para todos”, prometeu. Em setembro, Varsóvia introduziu um embargo indefinido à importação de grãos ucranianos. As autoridades de Kiev responderam queixando-se à OMC, após o que o presidente polonês Andrzej Duda recusou-se a se reunir com Zelensky, e chegou a comparar a Ucrânia a um homem afogado, que arrasta o salvador para as profundezas.

Em novembro, novo conflito. Caminhoneiros poloneses bloquearam postos de controle na fronteira dos dois países para barrar a entrada de caminhoneiros ucranianos.

VOLYN

Há, ainda, a volta à tona, na Polônia, da indignação contra o massacre de Volyn, em que os fascistas dos quais o regime de Zelensky se considera herdeiro mataram dezenas de milhares de poloneses durante a II Guerra Mundial, sob a ocupação hitlerista.

O Ministério das Relações Exteriores polonês chegou a declarar que Kiev ainda não havia assumido a responsabilidade e não havia se desculpado pelo massacre de Volyn em 1943.

Quanto às relações com Moscou, havia certa polêmica entre analistas russos sobre as consequências da volta de Tusk. Com alguns achando que, no frigir dos ovos, Tusk é como Kazynsky, só que sem gritaria.

Para o Izvestia, “ao contrário do fanático Morawiecki – Kaczynski – Duda, o novo primeiro-ministro é um pragmático, ou seja, em nome dos interesses da economia e dos negócios, é perfeitamente capaz de reprimir os seus sentimentos negativos em relação a Moscou e escondê-los no bolso”.

Nesta sexta-feira (15), entra oficialmente em operação na Polônia a base antimísseis dos EUA em Redzikowo, localizada a 200 km da região de Kaliningrado – o enclave russo no Báltico. A decisão de sua construção foi tomada em 2009, no governo do presidente Obama, sob a cínica desculpa de prevenção contra ameaças “iranianas e norte-coreanas”. E, portanto, Tusk participou de sua negociação.

Fonte: Papiro