Comboio de ambulâncias bombardeado à entrada do hospital Al Shifa | Foto: Reprodução

Estamos chegando a um ponto sem retorno” no desrespeito flagrante, por Israel, às leis do Direito Humanitário Internacional, denunciou o médico canadense Ben Thomson, ao relatar a barbárie em curso em Gaza, especialmente os bombardeios a hospitais, ambulâncias e profissionais da saúde, quando já passam de 60 mil os palestinos mortos e feridos.

Thomson, da União de Organizações de Assistência Médica e Socorro (UOSSM) do Canadá, que já esteve pessoalmente várias vezes em Gaza cumprindo missão de ajuda humanitária e conhece bem o sistema hospitalar palestino, traçou uma dramática síntese da escala desse morticínio e devastação, durante entrevista em Vancouver.

“Até esta manhã, 283 profissionais de saúde em Gaza foram mortos. Os últimos dois meses foram o conflito mais mortal da história das Nações Unidas, com 133 de seus funcionários mortos. Houve 212 ataques às instalações de saúde de Gaza desde 7 de outubro”, ele apontou.

Então Thomson enumerou os hospitais bombardeados, um crime de guerra inominável. “Hospital da Subespecialidade Pediátrica de Al Rantisi. Hospital Pediátrico Al-Nasr. O único hospital oftalmológico de Gaza. O único hospital de Saúde Mental de Gaza. O Hospital de Reabilitação Al-Wafa. As instalações para idosos imediatamente adjacentes ao Hospital de Reabilitação Wafa. O maior hospital de Gaza, o Al Shifa. O Hospital Infantil Al-Durrah, alvejado com o proibido Fósforo Branco”.

O Hospital Indonésio, “o único hospital atualmente operando no norte, ainda tentando tratar pacientes enquanto é BOMBARDEADO”.

Também bombardeados: as duas escolas de Medicina de Gaza, a da Universidade Islâmica e a da Universidade de Al-Azhar. Comboios de ambulâncias dos Médicos Sem Fronteiras e da Cruz Vermelha Internacional.

“Dos 35 hospitais em Gaza até esta manhã, 26 não estão funcionando. 9 continuam apenas parcialmente funcionais. Mas estão operando com mais do dobro de sua capacidade.”

“A Sociedade Crescente Vermelho Palestina ontem anunciou que suas operações de ambulância no norte foram interrompidas devido ao esgotamento do combustível e ao encerramento dos hospitais. Agora é impossível evacuar os feridos no norte. Em vez disso, os feridos são deixados para morrer”.

Até esta manhã – sublinhou Thomson -, mais de 17.000 palestinos foram mortos, incluindo mais de 7.000 crianças. Há pelo menos 46.000 pessoas feridas, milhares delas gravemente feridas.

“Abrigos das Nações Unidas superlotados se tornaram criadouros que espalham doenças infecciosas, incluindo um surto de hepatite, múltiplos surtos de meningite, piolhos, doenças de pele e múltiplos surtos de doenças diarreicas.”

Ele destacou que o Gabinete de Direitos Humanos da ONU declarou em 5 de dezembro que o padrão de ataques que visam a infraestrutura civil levanta sérias preocupações com o cumprimento de Israel com o Direito Humanitário Internacional e o risco de crimes e atrocidades.    

Ele denunciou, ainda, que o chefe do hospital principal, o Hospital Shifa na cidade de Gaza, Mohammed Abu Salmiya, está sob prisão israelense desde 22 de novembro. Muitos outros médicos chefes continuam detidos pelos militares israelenses por quase duas semanas, sem acusações e sem ninguém saber o paradeiro deles.

Em uma conferência anterior feita pela (UOSSM) no início de novembro, Thomson, que visitou Gaza muitas vezes antes e ali trabalhou no pronto-socorro, relatou ter certa vez segurado “um bebê queimado morto em minhas mãos enquanto o pai dessa criança gritava para eu ajudar. Foi horrível”. O que está acontecendo em Gaza agora – ele acrescentou – “é pior”.

Outra integrante do grupo humanitário, a professora de clínica médica Alia Khan, disse que “estamos aqui para pedir um cessar-fogo” e a aplicação das leis internacionais que protegem civis e médicos. Na votação na Assembleia Geral da ONU pelo cessar-fogo em Gaza na semana passada, o Canadá mudou para seu voto para sim ao cessar-fogo, quando na AGNU anterior havia optado pela abstenção.

Fonte: Papiro