Joe Biden avalia o problema que terá de enfrentar | Foto: Reprodução

A Câmara dos deputados dos Estados Unidos aprovou nesta quarta-feira, por 221 votos a 212, uma resolução para formalizar um inquérito de impeachment contra o presidente Joe Biden, sob a alegação de que é preciso determinar “se há motivos suficientes” para seu indiciamento por supostamente se beneficiar de atividades comerciais estrangeiras conduzidas por seu filho Hunter.

Com as eleições presidenciais de 2024 se aproximando, e com o autodeclarado candidato republicano, Donald Trump, às voltas com tribunais por variadas razões, das fraudes nos negócios da Trump Corporation à tentativa de fraudar as eleições de 2020 – são 91 acusações em pelo menos quatro inquéritos -, e com a notoriedade que o filho de Biden, Hunter, adquiriu nas páginas policiais, ele e seu ‘notebook do inferno’, não chega a ser propriamente surpreendente que a bancada republicana haja resolvido empatar o jogo.

Agora, Biden também vai ter de dedicar parte de seu tempo às lides jurídicas.

Pela lei americana e diferentemente da legislação brasileira, durante a investigação Biden continuará exercendo a presidência.

Caso a Câmara venha a aprovar o impeachment, no atual quadro político este seria barrado no Senado pelos democratas. Aliás, como aconteceu no governo anterior, quando os democratas, que então tinham maioria na Câmara, aprovaram o impeachment de Trump e não levaram.

A resolução pela investigação agora aprovada foi apresentada na semana passada pela deputada republicana Kelly Armstrong, devendo ser levada adiante pelos comitês Judiciário, de Supervisão e de Meios e Meios da Câmara. As investigações irão abranger o período em que Biden era vice-presidente de Obama (2009-2017).

“Agora que nosso inquérito de impeachment está oficialmente autorizado pela Câmara, podemos trazer testemunhas relevantes que se recusaram a comparecer e reunir documentos adicionais que não foram apresentados”, asseverou o congressista republicano Russell Fry em sua conta X.

Em um comunicado antes da votação, o presidente do Comitê de Supervisão, o republicano James Comer, e o presidente do Comitê Judiciário, o republicano Jim Jordan, disseram que a votação “fortalecerá nosso caso legal nos tribunais à medida que enfrentamos obstrução da Casa Branca e testemunhas”.

O processo havia sido lançado em setembro pelo então presidente da Casa, o republicano Kevin McCarthy, tentando agradar aos trumpistas, e desde então os três comitês da Câmara interrogaram funcionários do Departamento de Justiça e da Receita Federal dos EUA, além de obterem documentos e registros bancários, inclusive de membros da família Biden.

No Senado, o antitrumpista e ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney, asseverou não haver ainda “evidências de irregularidades cometidas pelo próprio presidente Biden”.

NOVE INTIMAÇÕES

Nas fases iniciais, eles interrogaram cinco pessoas e emitiram nove intimações bancárias, mas aumentaram a emissão de nove intimações para depoimentos no último mês. O comitê de supervisão da Câmara concentrou-se nas negociações comerciais estrangeiras de Hunter Biden e na busca de conexões com o pai, Joe Biden.

O comitê divulgou um documento na semana passada mostrando o pagamento da entidade empresarial de Hunter Biden, a Owasco PC, a Joe Biden quando ele não estava no cargo, supostamente para reembolsá-lo por um carro.

CHEQUES DE REEMBOLSO

Também houve dois cheques pessoais do irmão do presidente, James Biden, para Joe Biden quando ele não estava no cargo, que o comitê divulgou. De novo, se trataria do reembolso de um empréstimo. A existência dos cheques forneceu combustível aos republicanos para seguirem adiante.

Essas acusações foram veementemente refutadas pelos deputados e senadores democratas, que asseguraram não haver qualquer vínculo entre Biden e os acordos estrangeiros milionários do filho, supostamente referentes a negócios com a Ucrânia e a negócios da China.

Em sua primeira declaração pública desde que foi duas vezes indiciado criminalmente, Hunter disse: “No auge do meu vício, fui extremamente irresponsável com minhas finanças. Mas sugerir que isso é motivo para um inquérito de impeachment está além do absurdo. É uma vergonha. Não há evidências que apoiem as alegações de que meu pai estava envolvido financeiramente no meu negócio porque isso não aconteceu.”

Hunter disse que “cometeu erros”, mas criticou os republicanos da Câmara por tentarem “me desumanizar por completo para me envergonhar e prejudicar o meu pai”.

É amplamente sabido que Hunter obteve um bem remunerado cargo de diretor em uma empresa privada de gás ucraniana, a Burisma, após o golpe da CIA em Kiev que derrubou o governo legítimo, episódio em que o então vice-presidente Joe Biden teve um papel central. Hunter não tinha qualquer expertise no ramo, mas com o sobrenome que ostentava, era muito útil no cenário pós-Maidan.

Posteriormente, tornou-se bastante conhecido nas redes sociais, um vídeo em que o velho Biden se gabava de como tinha colocado no devido lugar um procurador ucraniano que insistia em investigar a corrupção da Burisma.

Episódio em que, inclusive, era o então vice-presidente norte-americano que relatava, havia ameaçado cortar um empréstimo-ponte bilionário para a Ucrânia se o inconveniente procurador não fosse afastado.

Em 2020, esse procurador, Viktor Shokin, confirmou que Joe Biden “pediu de maneira reiterada” para que fosse destituído quando era procurador na Ucrânia, de fevereiro de 2015 a abril de 2016. “Pressões” que, na opinião dele, estavam vinculadas a uma investigação que a procuradoria realizava naquela época [na Burisma], segundo contou à AFP seu advogado, Oleksandr Telesheski.

Fonte: Papiro