Milhares de manifestantes na cidade de Guernica formaram uma bandeira palestina | Foto: Reprodução

Milhares de pessoas se manifestaram em Guernica – a cidade espanhola que virou símbolo da barbárie fascista, imortalizada por Pablo Picasso – na sexta-feira (8) para expressar sua solidariedade com a população palestina de Gaza e o repúdio ao genocídio ali perpetrado por Israel que em dois meses matou e feriu 60 mil pessoas – a maior parte mulheres e crianças -, destruiu mais da metade das casas e expulsou de seus lares quase 2 milhões de pessoas.

Em sua declaração sobre o protesto de 8 de dezembro, a Iniciativa de Cidadania Guernica-Palestina conclamou o “mundo e a história” a não aceitarem “uma nova Guernica” e denunciou que “Israel está cometendo genocídio contra o povo palestino”.

O evento tinha como cartaz uma reprodução da famosa pintura, em que estava inserida uma bandeira palestina.

Milhares de pessoas formaram um enorme mosaico com seus corpos, retratando, como explicou um comentarista, “a dor das vítimas dos ataques israelenses a Gaza e à bandeira palestina”.

O ato foi encenado na praça do mercado da cidade basca, onde, em abril de 1937, aviões enviados pela Alemanha de Hitler e pela Itália de Mussolini bombardearam civis, matando centenas, em apoio ao general Franco e suas forças fascistas durante a Guerra Civil Espanhola.

O ataque foi considerado o primeiro ataque aéreo militar em grande escala contra civis indefesos, e horrorizou a opinião pública mundial. “Nunca antes na guerra moderna os não-combatentes tinham sido massacrados em tal número, e por tais meios”, escreveu um comentarista.

BARBÁRIE FASCISTA

Desde então, a pintura de Picasso, para seguidas gerações, marcou a irrupção da barbárie do fascismo e serviu de chamado a resistir à tal brutalidade e desumanização. A Iniciativa apelou à comunidade internacional para que ponha termo ao massacre e à limpeza étnica em Gaza.

Em 1937, o jornalista britânico George Steer relatou o bombardeio de Guernica no Times: “Guernica, a cidade mais antiga dos bascos e o centro de sua tradição cultural, foi completamente destruída ontem à tarde por invasores aéreos insurgentes.”

O bombardeio desta cidade aberta muito atrás das linhas – ele acrescentou – ocupou precisamente três horas e um quarto, durante o qual uma poderosa frota de aviões composta por três tipos alemães, bombardeiros Junkers e Heinkel e caças Heinkel, não cessou de descarregar na cidade bombas pesando a partir de 1.000 libras para baixo e, calcula-se, mais de 3.000 projéteis incendiários de alumínio de duas libras. “Os caças, por sua vez, desceram de cima do centro da cidade para metralhar a população civil que havia se refugiado nos campos.”

“Às 2 horas da manhã de hoje, quando visitei a cidade, tudo era uma visão horrível, flamejante de ponta a ponta. O reflexo das chamas podia ser visto nas nuvens de fumaça acima das montanhas a 10 quilômetros de distância. Ao longo da noite, as casas foram desabando até que as ruas se tornaram longos montes de detritos vermelhos impenetráveis.”

Era uma segunda-feira, um dia habitual de mercado em Guernica. Às 4h30, quando o mercado estava cheio e os camponeses ainda entravam, o sino da igreja tocou o alarme para a aproximação de aviões, registrou Steer.

“Cinco minutos depois, um único bombardeiro alemão apareceu, circulou sobre a cidade a baixa altitude e, em seguida, lançou seis bombas pesadas, aparentemente apontando para a estação. As bombas com uma chuva de granadas caíram sobre um antigo instituto e sobre casas e ruas ao seu redor. O avião, então, foi embora. Em outros cinco minutos veio um segundo bombardeiro, que jogou o mesmo número de bombas no meio da cidade. Cerca de um quarto de hora depois, três Junkers chegaram para continuar o trabalho de demolição, e daí em diante o bombardeio cresceu em intensidade e foi contínuo, cessando apenas com a aproximação do anoitecer às 19h45. Toda a cidade de 7.000 habitantes, mais 3.000 refugiados, foi lenta e sistematicamente despedaçada”.

Steer descreveu as táticas dos bombardeios: “primeiro, pequenos grupos de aviões jogaram bombas pesadas e granadas de mão por toda a cidade, escolhendo área após área de forma ordenada. Em seguida, vieram as máquinas de combate que desceram para metralhar aqueles que corriam em pânico”.

“Em seguida, até 12 bombardeiros apareceram ao mesmo tempo lançando bombas pesadas e incendiárias sobre as ruínas. O ritmo desse bombardeio de uma cidade aberta era, portanto, lógico: primeiro, granadas de mão e bombas pesadas para destampar a população, depois metralhadoras para empurrá-las para baixo, depois bombas pesadas e incendiárias para destruir as casas e queimá-las em cima de suas vítimas.

Na semana passada, Israel informou a chegada do 200º cargueiro aéreo norte-americano trazendo bombas e mísseis de fabricação norte-americana. Israel mata gente enquanto dormem em suas casas, famílias inteiras, usando aviões de última geração F-35 e bombas ‘antibunker’. Além dos 60 mil mortos e feridos, estima-se que haja cerca de 10 mil sob os escombros. E Israel ainda se gaba de usar a ‘Inteligência Artificial”, um software de sugestivo nome de ‘Evangelho’, para gerar 100 alvos por dia, uma “fábrica de assassinatos”.

Fonte: Papiro