Casa atingida por bombardeio da força de ocupação israelense em Deir Balah | Foto: Mahmud Hams/AFP

Investigação da Anistia Internacional revelou que sistema bélico fornecido por Washington a Israel foi utilizado em outubro em Gaza para matar 43 civis em dois ataques aéreos.

Como resultado destes dois ataques, 19 crianças, 14 mulheres e 10 homens foram mortos, afirma o relatório da investigação.  

A Anistia Internacional disse que “não encontrou qualquer indicação de que houvesse quaisquer objetivos militares nos locais” dos ataques aéreos ou de que os indivíduos que viviam nas casas fossem alvos militares legítimos.

Matéria com foto e vídeos do bombardeio a Deir Balah foi publicada pelo HP e podem ser vistas no link:

“A organização concluiu que estes ataques aéreos foram ataques diretos a civis ou a objetos civis, ou ataques indiscriminados”, diz o relatório, que apela que os ataques sejam investigados como crimes de guerra.

A bomba que atingiu a primeira casa provavelmente pesava cerca de 907 quilos, com base na quantidade de danos à casa e aos edifícios vizinhos, segundo a Anistia. O ano de 2017 também está estampado na placa, mostram fotos do relatório, indicando que a bomba foi fabricada naquele ano.

“JDAM é uma arma guiada ar-superfície que usa a ogiva BLU-109/MK 84 de 900 quilos, a BLU-110/MK 83 de 450 quilos ou a ogiva BLU-111/MK 82 de 220 quilos como carga útil”, de acordo com a Força Aérea dos EUA.

“As armas fabricadas nos EUA facilitaram os assassinatos em massa de famílias em geral”, disse Agnès Callamard, Secretária-Geral da Anistia Internacional, de acordo com o relatório.

“Um Estado que continua a fornecer armas utilizadas para cometer violações pode compartilhar a responsabilidade por essas violações”, advertiu ainda a Anistia.

DIGITAIS DOS EUA NA CENA DO CRIME

Fragmentos do sistema de orientação Joint Direct Attack Munitions (JDAM), fabricado nos EUA, foram encontrados nos escombros de casas destruídas no bairro de Deir al-Balah, no centro de Gaza, de acordo com um relatório divulgado terça-feira (5) pela organização de direitos humanos.

O JDAM é um “kit de orientação que converte bombas de queda livre não guiadas existentes em munições ‘inteligentes’ precisas”, de acordo com a Força Aérea dos EUA.

A Anistia Internacional afirmou que os seus especialistas em armas e um “analista de detecção remota” examinaram imagens de satélite e fotografias das casas que mostram os “fragmentos de munições recuperados dos escombros” e a destruição, explica o relatório. Os investigadores de campo da Anistia tiraram as fotos.

Já as forças coloniais de Israel asseveraram, em nota à CNN, que o relatório da Anistia Internacional era “falho, tendencioso e prematuro, baseado em suposições infundadas”.

Cinicamente, a declaração acrescenta que os militares israelenses “lamentam qualquer dano causado a civis ou propriedades civis como resultado das suas operações e examinam todas as suas operações a fim de aprender e melhorar”.

UMA CENA DE DESTRUIÇÃO TOTAL

O primeiro ataque referenciado pela Anistia Internacional ocorreu por volta das 20h30, com uma bomba de 907 quilos, em 10 de outubro, atingindo a casa da família al-Najjar e matando 21 dos seus membros, bem como três dos seus vizinhos, diz o relatório.

Suleiman Salman al-Najjar, que sobreviveu ao ataque, disse à Anistia Internacional que estava doente e regressou do hospital para encontrar a sua casa bombardeada e a sua família morta. “Fiquei chocado. Corri para casa e vi uma cena de destruição total. Eu não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Todo mundo estava sob os escombros. A casa estava completamente pulverizada. Os corpos foram reduzidos a pedaços”, disse ele.

O segundo ataque ocorreu por volta do meio-dia de 22 de outubro e atingiu três casas pertencentes a três irmãos da família Abu Mu’eileq, diz o relatório. No total, 18 membros da família Mu’eileq foram mortos, incluindo 12 crianças e seis mulheres, bem como um dos seus vizinhos, diz o relatório.

Bakir Abu Mu’eileq disse à Anistia Internacional que perdeu a mulher e quatro dos seus filhos no ataque. Abu Mu’eileq – especialista em ouvido, nariz e garganta – disse que trabalhava no hospital próximo quando o ataque ocorreu.

“Somos três irmãos casados com três irmãs, vivendo entre nós, focados na família e no trabalho, e longe da política. Somos médicos e cientistas”, disse Abu Mu’eileq, acrescentando: “não conseguimos compreender porque é que as nossas casas foram bombardeadas. Não há ninguém armado ou político aqui. Nossas vidas, nossas famílias, foram completamente destruídas. Por quê?”.

A Anistia afirma que as fotos mostram que a bomba que atingiu as casas da família Mu’eileq pesava cerca de 450 quilos e foi fabricada em 2018, de acordo com o ano estampado na placa.

CUMPLICIDADE EXPOSTA

“Os EUA podem compartilhar a responsabilidade pelas graves violações do direito humanitário internacional cometidas por Israel com armas fornecidas pelos EUA, uma vez que todos os Estados têm o dever de não contribuir conscientemente para atos internacionalmente ilícitos cometidos por outros Estados”, advertiu a Anistia.

A organização de direitos humanos está apelando ao governo dos EUA e a outros governos para que parem de transferir armas para Israel “que muito provavelmente serão utilizadas para cometer ou aumentar os riscos de violações do direito internacional”.

Defrontado com as provas, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matt Miller, tirou o corpo fora, insistiu em que é grande a preocupação com “a proteção dos civis” e disse que Washington espera que Israel atinja “apenas alvos legítimos e cumpra as leis dos conflitos armados”.

Mesma coisa no Pentágono. “Continuaremos a consultar estreitamente os nossos parceiros israelenses sobre a importância de levar em conta a segurança civil na condução das suas operações”, disse o porta-voz, brigadeiro-general Patrick Ryder.

Fonte: Papiro